Ruth Rocha, Ziraldo, André Neves, Shel Silverstein e muitos outros escritores e ilustradores em histórias de respeito e reverência à natureza
A ação irresponsável do homem sobre a natureza tem um custo ambiental e humano imensurável. Como formar novas gerações capazes de reverter essa lógica e o que as histórias infantis têm a ver com isso?
O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do mundo, com uma multiplicidade de florestas tropicais e espécies de fauna e flora a perder de vista. Além disso, favorecidos por nossa posição geográfica – o país está posicionado bem no meio da Placa Sul-Americana – somos bem servidos de um privilégio do ponto de vista ambiental, o que faz daqui um lugar praticamente salvo de eventos naturais como vulcões, maremotos e terremotos.
“O país abriga também uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de 200 povos indígenas e por diversas comunidades – como quilombolas, caiçaras e seringueiros – que reúnem um inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre a conservação da biodiversidade.” (Fonte: Ministério do Meio Ambiente)
No entanto, na história recente do país, não faltam exemplos de como essa narrativa vem sendo deturpada. O meio ambiente brasileiro tem sofrido exponencialmente os impactos nocivos da ação do homem: desmatamento, mineração e exploração de recursos feitos de forma irresponsável resultam ano após ano em danos irreversíveis do ponto de vista natural e social. Ter consciência ambiental é imprescindível para a preservação dos recursos naturais brasileiros.
Falar de consciência ambiental com as crianças deve fazer parte de uma educação que se preocupe em formar próximas gerações mais conscientes e responsáveis. Nesse sentido, a literatura pode ajudar. Afinal, conversar sobre natureza e conservação com os pequenos não se trata apenas de apresentar biomas e classificar espécies, e sim de despertar desde cedo o respeito pela natureza como parte do que somos.
Assim, histórias de ficção que abordem direta ou indiretamente a questão do meio ambiente e problematizem a relação entre homem-natureza têm grande potencial de instigar nas crianças – e também nos adultos que leem com elas – o senso de urgência de renovação de um pensamento que a cada ano se revela mais falido: a falsa superioridade do homem sobre a natureza.
Tudo isso com um diferencial da literatura dita “para crianças”: a fábula, a brincadeira e o jogo poético com as palavras estimulam o pensamento crítico a partir da imaginação de cada um, e não do didatismo ou da imposição de verdades absolutas.
Esse livro fala da importância da consciência ambiental e do cuidado com a casa de todos nós: o planeta Terra. O que fazer para impedir que os solos se tornem desertos, que as águas fiquem envenenadas e que as florestas sejam devastadas? Como preservar o meio ambiente para que possamos viver com qualidade e para que as futuras gerações encontrem um planeta como deve ser: azul e lindo?
O livro é um lamento, um grito de socorro tardio de um rio indefeso que não tem como reagir ao ser invadido pela lama da mineração que destrói suas águas e as vidas que abriga. Com lirismo e contundência, traz a fala doce e amargurada de um rio que perdeu sua vocação e sua voz, lamentando portanto sua sina como se cantasse uma triste modinha de viola, recordando o tempo em que alimentava de vida seu leito, suas margens e as regiões por onde passava.
Cauã e Inauê vivem às margens do Jari, um pequeno canal que liga o rio Amazonas ao rio Tapajós, no Estado do Pará. Os irmãos vivem em uma casa simples, de palafitas, com os pais e Titi, o jabuti de estimação da família. Mas o personagem principal do livro é, na verdade, o próprio cenário da pequena vila, que é de encher os olhos.
Leocádio era um leão que vivia sossegado na floresta com seu bando. Mas quando seres que andavam apenas com as patas de trás, usavam grandes chapéus vermelhos e carregavam coisas que cuspiam fogo apareciam por lá, só cabia aos leões fugir. Os tais seres eram caçadores, e um dia deixaram Leocádio tão curioso que ele resolveu inverter os papéis na floresta: engoliu o caçador, aprendeu a atirar, se tornou o melhor leão atirador de todos os tempos e resolveu mudar para a cidade. Nesta fábula moderna e sagaz de Shel Silverstein (o mesmo autor dos clássicos infantis “A parte que falta” e “A árvore generosa”), leitores de todas as idades são convidados a repensar valores sociais, hábitos de consumo e prioridades.
Quando o vilão é muito forte, não tem como salvar o mundo sozinho: é preciso reunir todos os super-heróis para que cada um colabore da sua maneira, com suas melhores habilidades. Hoje, o planeta está enfrentando uma emergência climática e cada um de nós pode ajudar a salvá-lo. Em “Manual para super-heróis”, a ativista Laila Zaid oferece ferramentas para que as crianças saibam o que fazer e iniciem a revolução sustentável.
Unindo três histórias diferentes, “Gente, bicho e planta” fala sobre o equilíbrio entre gente, animais, plantas, o ciclo da vida, a cadeia alimentar e a importância e a força dos elementos da natureza. Se o humano só destruir, nada resta. Para viver em paz com consciência ambiental, tem que proteger planta e bicho.
O que leva um planeta a escrever uma carta a seus habitantes? O livro mostra a importância de colocar-se no lugar da Terra para entender como ela gostaria de ser tratada. A Mãe Terra tem muito a dizer e nos convida a refletir sobre o que queremos para o futuro do mundo. Um recado ao mesmo tempo afetuoso e um alerta global. A carta da Terra vai parar nas mãos de uma professora que, junto dos alunos, estuda maneiras de economizar e consumir energia com consciência. A resposta é a criação de um projeto e uma viagem a um santuário ecológico, onde podem apreciar belezas naturais. O livro ainda propõe praticar uma lista de 100 verbos que a Terra cita como essenciais para viver melhor: proteger, dialogar, abraçar, elogiar, ouvir, sonhar, cantar, entre outros.
Qual será o futuro do nosso planeta se as pessoas não respeitarem o mundo em que vivem? Precisaremos buscar outro mundo para viver? Essas são questões com as quais crianças e adultos se deparam todos os dias. A obra “O menino da Terra” fala de um possível recomeço para a humanidade, com criatividade e sensibilidade, reconta uma bela história que pode vir a acontecer se o meio ambiente for respeitado e tratado com carinho.
Uma mulher decidida viaja pelo rio Paraná com o irmão e o filho, em busca do marido; o enterro de um rio; um casal, em vias de se separar ou iniciar uma vida em comum, em outro lugar; uma carta sobre acontecimentos inusitados em um rio do Centro-Oeste; o despertar do amor e da consciência política, às vésperas da inauguração de uma hidrelétrica; filho e pai que se redescobrem por causa de um falso tesouro de piratas enterrado às margens de um falso rio.
Para inspirar a consciência ambiental, esse livro explora uma linguagem que é poesia e prosa ao mesmo tempo. Ziraldo conta a vida de dois personagens – um menino e um rio: “O menino tinha certeza de que havia nascido no dia em que viu o rio. Na sua memória, não havia nada antes daquele dia. O menino amou o rio pois acreditou que o rio também havia nascido no dia em que ele o viu.”
O urso olha os galhos. Todavia, entre a folhagem, encontra apenas um figo ainda verde: “Quanto tempo levará este figo a ficar doce? Talvez um dia?” Muito confiante, senta-se para esperar. Mas, junto da figueira, muitas peripécias o aguardam. Para quem serão os figos afinal. “Os figos são para quem passa”, é uma pedida para apreender metáforas sensíveis sobre o tempo da natureza e das pessoas.
Os segredos e encantos da Amazônia. O rio Negro é um grande espelho. Suas águas refletem as árvores das margens e as nuvens do céu. Muito largo, ele contém os dois maiores arquipélagos fluviais do mundo, e, também comprido, nasce na Venezuela, entra no Brasil e corta a Floresta Amazônica por mais de mil quilômetros. Drauzio Varella já viajou por esse importante rio brasileiro inúmeras vezes, no barco Escola da natureza, colhendo plantas da região que pudessem ser transformadas em medicamentos. Em “Nas águas do rio Negro”, o autor mergulha no terreno da fantasia e do folclore e relata o que aconteceu quando, em uma de suas viagens, adormeceu sozinho numa rede do convés do barco, entretido com as estrelas e a lua cheia.
“A árvore” não é um catálogo botânico. Também não é a história de uma única planta. Trata-se de um livro de perguntas – por quê? desde quando ela estava ali? Quem é o sr. Angorb? Qual sua profissão? Por que foi embora? Apesar de dar algumas respostas, levanta uma grande questão: por que o progresso humano deve estar em contradição com a natureza? Mas também responde a perguntas que sequer foram feitas: quais são nossos sonhos? o que é realmente importante no lugar onde vivemos? qual a consequência das escolhas que fazemos? “A árvore” nos coloca diante da exuberância da natureza e, com humor, sensibilidade e afeto, nos induz a refletir sobre a relação do homem com ela.
O rio dos jacarés é, sem nenhuma dúvida, o melhor lugar para um jacaré. Mas nem todo mundo concorda com isso: hoje mesmo, de manhã, o senhor do terno laranja comprou o rio, e agora os jacarés terão de ir embora. Mas será que o dinheiro é mesmo capaz de comprar qualquer coisa? O livro instiga o pensamento sobre temas como questões ambientais, direitos dos animais e até mesmo desigualdade social. Ao final, traz questões para refletir e debater sobre a leitura.
A história da Terra começou há muito, muito tempo. Foram sucessivos acontecimentos que deram origem aos seres fantásticos que a habitam. Além de explicar a formação do nosso planeta desde os primórdios, este livro traz 100 criaturas que deixaram a sua marca na história. Cada um dos períodos da evolução — primórdios, ediacarano, cambriano, devoniano-carbonífero, jurássico-triássico, cretáceo, eoceno, pleistoceno — é trabalhado a partir de três linguagens diferentes: imagens, palavras-chave e verbetes. Há ainda uma linha do tempo e um glossário.
Hora de comer, hora de brincar, hora de colher, hora de pescar, hora de festejar, hora de contemplar e hora de compartilhar são alguns dos temas explorados nestes singelos poemas sobre o cotidiano da vida na aldeia, daqueles que são os primeiros habitantes do Brasil.
E se eu fosse… um pássaro, uma flor, um riacho? Com muita delicadeza, “Se eu fosse uma árvore” transforma o leitor em uma árvore. Uma árvore maluca, é verdade, mas também muito bonita e acolhedora. Vale a pena deixar de ser gente um pouquinho, para atrair passarinhos e ter sementes que voam até alto-mar. Afinal, mesmo tendo de enfrentar o inverno, uma árvore passa também pela primavera. É muito gostoso deixar tudo ao nosso redor mais vivaz e alegre. Essa foi a forma lúdica encontrada por Talita de estimular crianças a terem consciência ambiental.
O livro reforça a consciência ambiental por meio da história desse importante bioma brasileiro, por meio de versos de cordel, belas ilustrações e fotos de animais e paisagens típicas. A linguagem poética torna as características do cerrado atraentes e de fácil assimilação para o público infantojuvenil. A experiência e a familiaridade da autora com a vida do cerrado conferem ao livro um caráter acolhedor, muito benéfico para o pequeno leitor, que se sente transportado para o ambiente. Bichos típicos, frutos e paisagens aumentam o repertório da criançada e colaboram para entender o processo de transformação do cerrado – do surgimento da vegetação, passando pelas épocas de chuva, de seca e incêndio, até o reinício do ciclo natural.
“Ynari” conta a história de uma menina com cinco tranças e muita vontade de conhecer as palavras do mundo. Certa manhã, passeando perto do rio, Ynari encontra um homem pequenino, de uma aldeia distante da sua, onde vivem muitos seres pequenos por fora e grandes por dentro, cada um com um dom mágico. Lá existe o velho muito velho que inventa as palavras e a velha muito velha que destrói as palavras. Nessa sua jornada, Ynari também acaba descobrindo que a guerra faz parte do mundo: cinco aldeias da região estão lutando, cada qual por não ter algo que as outras aldeias possuem.
Duda é um colecionador de tesouros. Tudo o que encontra pelas calçadas o menino leva pra casa. Lá, ele limpa, organiza, recupera objetos usados e, com criatividade, dá novo uso a eles. Duda tem consciência ambiental e é preocupado com a quantidade de lixo produzido e descartado de maneira inadequada, e com o perigo que a poluição traz para as pessoas, animais e plantas, Duda decide ir fundo nas pesquisas e envolve a turma da escola numa divertida brincadeira de coleta seletiva e reaproveitamento. E você? O que pode fazer para ajudar a preservar o meio ambiente? Saiba mais neste livro de Sheila Kaplan.
“Os rios morrem de sede” é uma leitura imprescindível, não só para crianças, mas para todos com consciência ambiental que se preocupam com a degradação dos recursos naturais. Quarenta anos depois, o rio farto em peixes aonde o pai o levava está convertido num curso de água “encardida” em que todo tipo de vida foi sufocado. Já não há o que pescar naquele caldo escuro que a poluição envenenou. Ainda assim, é para lá que o homem segue, certa madrugada, munido de inúteis anzóis, levando Bumba, o filho de sete anos – assim como fizera com ele seu próprio pai, quatro décadas antes, quando tinha a exata idade de seu filho agora.
Uma excursão da escola ao Sítio Rio Azul, na Mata Atlântica, é o cenário onde acontece essa aventura narrada por Cíntia, Julinha e Heitor. As crianças estavam prontas para se divertir, mas acabam envolvidas em um verdadeiro caso policial. Se quebrar os códigos criados pelo professor Pedro, espalhados pela trilha no meio da mata, já é um grande desafio, imagine ter de enfrentar um misterioso e cruel traficante de animais silvestres e seus perigosos comparsas. Nesta obra interativa, o leitor é convidado a desvendar com as personagens os curiosos enigmas e códigos.
Para chamar atenção para a questão da sustentabilidade e conservação ambiental, o livro silencia toda a bicharada como forma de resistência. Um pássaro deixa de cantar e logo os outros pássaros também vão ficando em silêncio. A eles, somam-se os gatos, que param de miar; depois os cães, que não voltam a ladrar. Deixa-se de ouvir o zumbido dos insetos e o cacarejar das galinhas. Então as vacas recusam-se a dar leite e ninguém escuta o uivo dos lobos na lua cheia. Até que as crianças também decidem parar de brincar e não ir à escola. Afinal, o que aconteceu de tão grave para causar esse protesto? É assim que a narrativa apresenta às crianças o alerta para o efeito da coletividade, o poder das manifestações e o barulho de que um pacto de silêncio é capaz. Mesmo que com poucas palavras, a história tem muito a dizer sobre os comportamentos nocivos do bicho homem no planeta, e a interferência do progresso urbano e econômico nos ecossistemas naturais.
Como contar para as crianças sobre o derramamento de petróleo que atingiu praias do nordeste e parte do sudeste em 2019? O óleo, de origem desconhecida, atingiu diversos ecossistemas marinhos e ameaçou a vida de diversos seres marinhos que habitam nas áreas afetadas. Canalizando tristeza e revolta, “A Mancha” surge para contar essa triste história e conscientizar as crianças a cuidarem do meio ambiente.
Depois de ver o noticiário na televisão, uma menina quer acabar com a destruição da floresta. Com a ajuda de amigos e de sua imaginação, surgem diversas possibilidades para trazer o verde de volta às matas – e às páginas do livro! Irena Freitas, que ilustra e escreve o livro, traz uma narrativa imagética baseada nos incêndios que ocorreram em 2019 na Amazônia, convidando os pequenos a refletirem sobre o que fazer para cuidar de nossas matas.
De forma a aproximar o leitor da beleza presente nas árvores, o autor traz informações surpreendentes sobre diversas espécies vegetais. Desde a fotossíntese até a relevância das árvores no nosso cotidiano, o livro explora também outros processos essenciais para a sobrevivência dessas plantas. Sua atuação para o equilíbrio do ambiente, além do seu papel no dia a dia do ser humano, é abordada com o bom humor característico do escritor. Dessa forma, as crianças entram em contato com a necessidade de consciência ambiental e de preservação dessas espécies.
Como um diário de bordo, o livro tem a característica de ser um guia tanto afetivo quanto sensorial para os viajantes. Por meio de recursos como textos, desenhos e colados, as crianças são convidadas a experimentar o planeta Terra, de forma a observar os elementos presentes ao seu redor.
Esse livro infantil aborda a questão climática de forma lúdica para as crianças. Com tradução de Zeca Baleiro, a obra do renomado escritor francês Claude Ponti estimula os leitores a compreenderem as condições meteorológicas por meio dos dois pintinhos irmãos Trampolina e Fubazim. Na obra, as personagens brincam de “meteorolô” e utilizam diferentes acessórios para mudar a previsão do tempo.
*As descrições sobre cada livro foram elaboradas a partir de material disponibilizado pelas próprias editoras.
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