13 livros para lembrar que sensibilidade também é coisa de menino

Contra os estereótipos de masculinidade que só aprisionam a liberdade de ser, 13 livros que apresentam protagonistas meninos cheios de sensibilidade

Da redação Publicado em 16.12.2016 Atualizado em 30.06.2023
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Resumo

Livros para lembrar que sensibilidade e empatia não são só coisas de menina. Vamos libertar os meninos dos estereótipos da masculinidade tóxica.

Quando o assunto é sensibilidade, o diálogo abaixo pode acontecer em muitos lugares. Em casa, na escola, no amigo secreto da família. Passar por cima dele é entender coisas que vão muito além da própria literatura.

  • – Estou procurando um livro para dar de presente.
  • – É para menino ou menina?
  • – …

Livros que fazem isso, livros que fazem aquilo. Mas afinal, livros precisam ‘”fazer” alguma coisa? O que existe além da função utilitária da literatura infantil? Livros precisam ser histórias, e histórias podem ou não fazer coisas. Quando elas conseguem, sorte a nossa, o leitor.

E tem aquelas histórias que tocam nas questões mais sensíveis do ser humano e da vida em sociedade. A desigualdade de gênero certamente é uma delas. “Gênero”, essa palavra que vem sempre tão carregada de significados, de responsabilidade, mas que às vezes serve para falar de uma coisa que é mais presente na nossa vida do que imaginamos: o modo como meninas e meninos (ainda) são tratados com diferença. E o perigo disso para a sociedade igualitária e livre de intolerâncias em que todos queremos viver.

E as histórias, o que elas têm a ver com isso?

Se literatura infantil é representatividade, ela tem um peso enorme no modo como as crianças elaboram o mundo. Se damos aos meninos livros que só corroboram a visão normativa da sociedade, ou seja, que ensinam que cor-de-rosa, sensibilidade e empatia são coisas de menina, e que firmeza, força e senso de aventura são coisas de menino, que noção de indivíduo estamos criando?

Pensando nisso, preparamos uma lista com algumas dessas histórias que nos fazem lembrar que um menino também pode ter toda a doçura e sensibilidade que uma menina pode (ou não) ter. Afinal, o machismo não prejudica só as meninas, mas também aprisiona os meninos em uma pretensa “masculinidade ideal” a ser cumprida. A construção de uma masculinidade sensível e empática na infância contribui para o desenvolvimento de um adulto com visões igualitárias sobre gênero, sexualidade e a diversidade do outro.

Confira livros para falar sobre sensibilidade com as crianças

1. “Raul da ferrugem azul”, Ana Maria Machado (Salamandra)

Neste clássico da literatura infantil, publicado pela primeira vez em 1979, Raul é um menino de coração solidário que vê manchas azuis aparecerem no seu corpo toda vez que presencia alguma injustiça acontecer. Manchas que parecem ferrugem e corroem o menino por dentro e por fora. Com isso, o pequeno Raul se transforma em um verdadeiro defensor de uma masculinidade sensível e empática. Na história, o menino se lava com shampoo, álcool e detergente, mas nada tira sua ferrugem azul, que na verdade é seu mal-estar diante das falhas do mundo.

2. “NUNO e as coisas incríveis”, André Neves (Jujuba)

Conta a história de um menino que desenha as coisas que não entende. O desenho é o jeito que o menino encontra de elaborar o mundo, de dizer o que as palavras não conseguem. Com um olhar poético e atento, Nuno dá um novo significado para as coisas simples do dia a dia. Sem ter nascido com a preocupação de “ensinar” nada, mas contribuindo muito para o desenvolvimento das características mais humanas de meninos e meninas, “NUNO” é um livro sem rótulo para infâncias sem idade.

3. “O meu pé de laranja lima”, José Mauro de Vasconcelos e Jayme Cortez (Melhoramentos)

A história de um menino a quem contaram as coisas muito cedo: o próprio prefácio do livro se define assim. Zezé é um garoto que tem como melhor amigo e confidente um pé de laranja lima, o Minguinho. Ao se defrontar com a morte, a solidão e a violência do mundo muito cedo, o menino dá uma lição de afeto. Em uma das falas do livro em que ele tenta explicar o que sente quando alguém o magoa, Zezé diz: “Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um a dia a pessoa morre”. Forte e corajoso, “O meu pé de laranja lima” ultrapassa os anos sem deixar de ser lembrado como um clássico das infâncias.

4. “Pedro e Lua”, Odilon Moraes (Jujuba)

“A história é assim: Pedro é um rapazinho encantado pela lua. Desde que descobriu que ela era uma pedra enorme flutuando no céu, ficou admirado. Um dia, ele tropeça em uma pedra e pensa que todas elas só podem ser pedaços da lua que caíram lá de cima – e devem sentir muita saudade de casa. Assim, ele começa a empilhá-las, todas as noites, o mais perto que pode da lua”. A descrição é do blog “A Cigarra e a Formiga”, e define perfeitamente a sensação que o livro traz. Um menino tão sensível que só quer fazer os pedaços de lua desgarrados voltarem para casa.

5. “Marcelino Pedregulho”, Jean-Jacques Sempé e Mario Sérgio Conti (SESI-SP)

O menino Marcelino, conhecido como Marcelino Pedregulho, fica com o rosto todo vermelho sem motivo nenhum. Ao contrário das outras pessoas, que enrubescem quando sentem vergonha, Marcelino é assim porque é. Assim, para não despertar a atenção dos outros meninos que caçoam dele, Marcelino passa o tempo brincando sozinho e desenvolvendo sua sensibilidade como pode. Até que um dia, ele conhece Renê, outro solitário como ele. Renê espirra à toa, e os dois encontram um no outro o melhor amigo de que precisavam para se aceitar.

6. “A lição das árvores”, Roberto Parmeggiani e Attílio Palumboeditora (Pulo do Gato)

Enrico e Paola. Duas crianças da mesma idade. Mas elas são iguais? Na convivência com a menina, Enrico percebe algumas diferenças em seu jeito de ser: ao contrário dele, que é faladeiro e questionador, ela prefere o silêncio, gosta de brincar sozinha e não corresponde às suas tentativas de interação social. Com sensibilidade e muito tato, o pequeno Enrico desenvolve com uma rapidez maior do que muitos adultos uma noção clara do mistério que é o outro e da importância de respeitar as diferenças.

Capa do livro "A história sem fim". Uma criança voa em uma criatura mágica entre nuvens.
7. “A história sem fim”, Michael Ende e Sebastian Meschenmoser (Martins Fontes)

Ao entrar de sopetão na loja de livros de um vendedor carrancudo, o pequeno Bastian recebe uma bronca: “Eu não gosto de crianças. Sei que está na moda fazer um grande alarido quando se trata de vocês. Mas comigo, não! Eu não gosto nada, nada de crianças. Para mim, são todos uns patetas choramingas, de uns desajeitados que estragam tudo, sujam os livros de geleia, rasgam as páginas e não querem nem saber dos problemas e preocupações que os adultos possam ter”. Sensato e ponderado, o menino se limita a responder: “Nem todas são assim”. A história é um verdadeiro mergulho na sensibilidade do mundo da fantasia. Bastian é um garoto inseguro e solitário, mas com o seu dom de inventar histórias ele consegue dar novo significado ao mundo.

8. “O homem que amava caixas”, Stephen Michael King e Gilda de Aquino (Brinque Book)

Aqui, o protagonista não é uma criança. Ou melhor, não é só uma criança. O livro conta a história de um pai que não consegue expressar o afeto que tem por seu filho. Sem conseguir fazer o menino saber o que sente, ele cria lindos presentes para ele usando caixas de papelão, de castelos a aviões. Mas o que a história conta nas entrelinhas é a história de dois meninos – pai e filho – aprisionados pela falsa ideia de que homem não diz o que sente. Para refletir sobre como construímos os estereótipos que reproduzimos na vida, mesmo sem perceber.

9. “Olhe para mim”, Ed Franck e Kris Nauwelaerts (Pulo do Gato)

Na história, o pequeno Kitoko é um menino africano adotado por uma mulher branca. Sua mãe está grávida e o menino começa a se questionar se passará a ser menos amado quando sua irmã chegar. A mãe das crianças trabalha em um museu, e os questionamentos que o menino faz são representadas por quadros de pintores famosos, como Dalí e Picasso. Os assuntos principais do livro são pluralidade cultural, guerra, adoção, identidade, mas a questão da sensibilidade do menino também aparece com força, a partir da relação de afeto que ele passa a construir com a nova irmã.

10. “Como pegar uma estrela”, Oliver Jeffers (Salamandra)

O livro acompanha os sentimentos de um menino que sonha em ter uma estrela só para ele. Poético e esperançoso, o pequeno passa as noites debruçado sobre a janela, observando o céu e sonhando com o dia em que alcançaria o seu sonho. O pequeno tenta de tudo para conseguir o que mais quer: árvores altas, foguetes, pássaros, até entender que afeto tem menos a ver com distância física, do que com o lugar que ocupa no coração.

11. “O menino que não era”, Luis Augusto (LeYa)

“Essa é uma história meio ao contrário, de um menino que era apenas o que precisava ser como menino que era”. É assim que começa a sinopse do livro. Ao apresentar um menino que não sabe muito bem como corresponder ao que mundo espera dele, o autor propõe uma reflexão sobre a importância de deixar as crianças a serem o que elas quiserem ser, livre dos estereótipos e dos papeis sociais que às vezes incutimos nelas sem perceber. No site da Livraria Cultura, a leitora Andrea Christina Mendonça compartilha o que viveu com essa leitura: “Eu e meu filho de oito anos lemos o livro. Primeiramente ele. Em seguida, eu. À noite, nova leitura, desta feita para que ele dormisse. Ao terminar ele me perguntou: mamãe, podemos entrar em contato com o escritor e dizer a ele que não tenho palavras para expressar o que senti quando terminei a leitura?”.

Capa do livro "O Matador".
12. “O matador”, Wander Piroli e Odilon Moraes (SESI-SP)

O título pode parecer um contrassenso. Sensibilidade? Matador? Mas a proposta do livro é justamente essa. Na história, um grupo de meninos planeja passar a tarde atirando pedras em passarinhos. O que fazer, sendo menino? O que fazer sendo um menino que ainda por cima é ruim de pontaria? A vontade pertencer ao grupo e não ser excluído por pensar diferente faz o menino tomar uma atitude que vai marcar para sempre a sua vida. Imagem e texto são construídas com muita sutileza para o leitor entrar pouco a pouco na sensação de ser criança e ter que corresponder ao que esperam de você.

Capa do livro "Criança-borboleta": uma criança com asas de borboleta brinca no meio de uma floresta.
13. “Criança-borboleta”, Marc Majewski (VR Editora)

“Sou uma borboleta. Eu giro e me agito, viro e rodopio. Flutuo e farfalho. E quando abro minhas asas, eu voo!” Ao contar sobre a história de um garotinho que adora se fantasiar e brincar vestido de borboleta, nem todos os colegas do menino aceitam seu jeito de ser. Alguns, até rasgam suas asas. De forma sensível, o autor Marc Majewski traz a importância do apoio familiar quando o assunto é ser quem se é. Gentileza, construção da autoestima, autonomia, empatia com o próximo e o poder da amizade são abordados para mostrar que está tudo bem ser diferente, sem perder a essência ao vivenciar bullying e desrespeito.

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