Anna Ortega / Nonada

Moradora do bairro Sarandi, na periferia de Porto Alegre, Maria Luiza viu o mercadinho de sua família ser tomado pela água.

Anna Ortega / Nonada

Vinícius passou sete dias em casa sem acesso à luz e água durante a enchente em Eldorado do Sul.

Anna Ortega / Nonada

Millena cresceu na Ilha da Pintada, ao lado do rio Guaíba. Após as enchentes, além de mudar de casa e escola, ela conta que vê menos as amigas.

Anna Ortega / Nonada

Isabella sugere que as crianças tenham acesso a psicólogo para lidar com as perdas da enchente.

Anna Ortega / Nonada

Os irmãos João e Yohan ficaram no Centro Humanitário de Acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM) durante as enchentes.

Anna Ortega / Nonada

Enzo sofreu com a perda de seus pets durante a enchente.

Pedro Tubiana

Luiza tinha acabado de ganhar um quarto novo quando a água chegou a sua casa durante a enchente.

Anna Ortega / Nonada

Após as perdas materiais, Juliana diz que ela não mudou e “continua forte”.

lang="pt-BR">Uma enchente na infância de crianças no RS
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Uma enchente na infância de crianças no RS

Enchentes no Rio Grande do Sul: Imagem mostra um mosaico de fotografias de crianças atingidas pelas enchentes.

A vida está diferente para Maria Luiza, de 11 anos. Moradora do Sarandi, na periferia de Porto Alegre, ela, os dois irmãos, a mãe e o padrasto tiveram não apenas a casa atingida pela maior tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul em 2024, mas também o “mercadinho” da família. Bastante conhecido na vizinhança, o estabelecimento ficava no andar térreo da casa e foi inundado. “Eu achei que seria importante participar [da reportagem] porque passei por isso e tenho muitas coisas pra desabafar”, explica.

Quando precisou sair de casa, em maio do ano passado, diferentes familiares abrigaram Maria. “Eu tinha perdido meu roupeiro, minha cama. Eu tinha perdido tudo. E naquelas casas tinha mesa, tinha cama. A gente recebeu muitas doações”. Ela relembra dos momentos que não imaginava passar. “A gente teve que começar a comprar comida mesmo não recebendo dinheiro. Foi difícil começar tudo do zero. Também passamos por situações difíceis.”

“Nada é como era antes. Se não fosse pela enchente, a nossa casa estaria toda do jeito que a gente queria, só que não tá mais.” – Maria Luiza, 11 anos.

Assim como Maria Luiza, uma geração de crianças do Rio Grande do Sul sofreu mudanças significativas em razão das enchentes que atingiram o estado. O Portal Lunetas e o Nonada Jornalismo ouviram crianças de 9 a 12 anos sobre a experiência de ter vivido um evento climático extremo na infância. As dez crianças entrevistadas afirmaram que a vida não voltou ao que era antes. Além disso, elas percebem mudanças em suas rotinas, na escola, na cidade e até no jeito de viverem suas infâncias. Todas disseram que brincam menos, ficaram mais sérias, precisaram se adaptar diversas vezes, e algumas já ajudam nas tarefas de casa. Ou seja, as perdas vividas ainda ecoam em todas elas.

‘Tudo agora é diferente

Para Vinícius Rhavi, de 10 anos, o inimaginável também se concretizou. Ele e o irmão foram resgatados de barco pelo surfista e influenciador, então voluntário, Pedro Scooby. Até hoje, Vinícius lembra dos sete dias em que a família ficou sem luz, água, internet, aguardando resgate em Eldorado do Sul, região metropolitana. “À noite eu tinha medo, porque eu achei que a água ia subir tanto que ia chegar lá no terceiro [andar]. Mas não subiu tanto, foi só até o terceiro degrau da escada de onde a gente tava”, conta.

Contemplar o pôr-do-sol às margens do Lago Guaíba era um dos momentos preferidos de Millena, de 10 anos. Moradora da região das Ilhas, bairro arquipélago de Porto Alegre, o Guaíba era como o quintal de casa. Lá, deu os primeiros passos e brincava com as amigas e os primos. Desde sempre, ela e a família convivem com a variação do nível de água de acordo com as estações. Em maio do ano passado, porém, Millena e os pais presenciaram o que nem mesmo o bisavô, um dos primeiros moradores e pescadores do bairro, poderia imaginar: a casa de dois andares, construída pelo avô em 1988, foi tomada pela água.

Desde que a tragédia atingiu o Rio Grande do Sul, a vida de Millena se transformou. Ela enfrentou diversas mudanças em poucos meses, pois mudou de casa, de cidade, de escola – duas vezes, e de círculo de amigos. “Eu estava me sentindo muito triste na enchente. Via vídeos da minha casa embaixo d’água, era muito triste porque aquela casa era onde que eu morava, sabe? Eu tenho muitas lembranças lá. Todos os meus aniversários foram lá e era muito bom.” Ela não voltou a morar na Ilha da Pintada.

Neste ano, Millena, a mãe e o padrasto se mudaram para Eldorado do Sul, na região metropolitana. A localização da casa, financiada antes das enchentes, havia sido escolhida porque, historicamente, aquele não era um bairro alagável. Só que a água também chegou à casa recém adquirida. Apesar disso, eles seguem lá, tentando recomeçar.

Apesar de sentir saudades de como era antes, a menina agora gosta da nova escola e da rotina diferente. “Eu via minha amiga Isabela todos os dias. Ela dormia na minha casa, a gente fazia noite das gurias, comia pipoca, olhava um filme, brincava. Agora a gente só se vê nos aniversários”, conta. Além da distância dos amigos, viver longe da ilha mudou o cotidiano, pois o bairro anterior era como uma pequena comunidade, em que todos se conheciam.

“Tudo agora é bem diferente, porque, lá na Ilha, eu conhecia todo mundo. Eu nasci lá. Quando a água baixou, foi triste ver minhas coisas destruídas embaixo de barro.” – Millena, 10 anos.

Ela lembra que, após as enchentes, a casa “ficou com um morro grandão, desse tamanho, só de barro. Embaixo tinha as minhas maquiagens, as minhas coisas de cabelo. Se tu entrar no meu quarto, vai ver que tem tudo de cabelo. Sei fazer várias tranças grudadas e eu sempre faço nas minhas amigas”, conta.

Lidando com as perdas

O convívio com o Lago Guaíba também fazia parte do cotidiano de Isabella, de 12 anos. Ela e a família moravam no bairro costeiro Itaí, em Eldorado do Sul, um dos mais atingidos pela força da água. Quando as chuvas se intensificaram, ela, os pais, e o irmão de 6 anos, se refugiaram na casa da avó, em uma região da cidade em que a água nunca havia chegado, até maio de 2024.

“Minha mãe ergueu tudo na nossa casa. Ergueu minhas galinhas numa altura que não ia pegar água, as minhas cachorras também, só que depois ela voltou pra pegar as cachorras, porque ficou com medo de elas morrerem”, conta. “Meu maior medo era ter que voltar de helicóptero, porque eu tenho muito medo de altura.”

Além da casa, a família de Isabella perdeu a loja de variedades, onde a mãe trabalhava. A casa dos avós, antes um lugar seguro, também ficou completamente destruída. Ela, a família e vizinhos permaneceram sete dias ilhados, no segundo andar da casa da tia, até serem resgatados. Nesse tempo, ela conta que viu cenas que tem dificuldade de esquecer, como os barcos da polícia passando na rua. “Me deu desespero, comecei a chorar de pânico, porque a água estava subindo, muito alta. Chegou a três metros na rua da minha vó. A gente viu cavalo, cachorro morrendo afogado na nossa frente. Telhas, geladeiras passando na água. Com certeza aquilo era da casa das pessoas, e elas nunca mais viram aquilo.”

Isabella só retornou para Eldorado do Sul dois meses depois, mas nunca conseguiu voltar para a casa onde vivia com os pais. Hoje, moram no segundo andar da casa da tia, que se mudou para São Paulo após a enchente. Os móveis vieram de doações, assim como os novos brinquedos dela e dos irmãos.

“Às vezes eu comento com a minha mãe que eu tô com saudade da minha antiga casa. O meu irmão fica falando que tem medo da enchente. Imagina, ele viu tudo que eu vi. Como que deve ter sido pra ele, na cabeça dele, ver que nunca mais ia ver as coisas que ele via antes?”, reflete Isabella. “Como que eu faço agora? Eu nunca mais vou ver a casa da minha avó como era antes.”

No Sarandi, bairro periférico de Porto Alegre e um dos mais impactados pela tragédia, os irmãos João Carlos, de 9 anos, e Yohan, de 11 anos, perderam o que consideram muito valioso: seus brinquedos. Junto aos pais, eles moravam em uma casa azul de madeira que foi completamente levada pela água. João conta que foi desafiador ver as perdas não só para si mesmo, mas para as pessoas que ele ama.

“A coisa mais importante que meu irmão perdeu foi o videogame. A minha mais importante foi os meus brinquedos, as minhas invenções, porque eu invento umas coisas. Antes eu tinha muitos brinquedos e agora depois da enchente, eu tenho um pouquinho.”

João e Yohan ficaram abrigados por seis meses no Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) do Centro Vida, na zona Norte de Porto Alegre, um espaço emergencial, criado em julho de 2024 pelo governo do estado para acolher vítimas das enchentes. Este ano, a família foi uma das 80 famílias que ganharam da prefeitura de Porto Alegre uma casa modular, “container”. A nova “casa de metal”, como a chamam os meninos, tem 27m² e os deixa mais tranquilos e seguros.

O luto pelos animais de estimação

A perda mais difícil para Yohan foi das cachorrinhas. “Eu chorava às vezes por causa das cadelas. Agora até que tá passando um pouco. Fiquei uns três ou quatro meses tentando não lembrar delas”, relata. “Só que às vezes eu não conseguia. Hoje eu tô bem.”

Enzo, de 11 anos, também perdeu os cachorros Venom, Jeanne e Lindinha. Como a água subiu muito rápido no bairro Medianeira, em Eldorado do Sul, o menino e a família só conseguiram resgatar Luke, um vira-lata branco e marrom. “Eu fiquei bem triste que meus cachorros morreram. Sobrou um. Daí eu fiquei com ele. Eu cuidei bastante dele. Na próxima [enchente], se der, eu vou levar ele junto. Porque eu tinha me esquecido dos cachorros. Passou pela cabeça um monte de coisa e a gente tinha que pegar as coisas, levantar as coisas. Ele é bem amoroso. Pula bastante. É bem corajoso também.”

A família de Ângela Lusia, de 11 anos, morava em uma rua de casas de madeiras, na beira do arroio que desemboca no dique do Sarandi. A área é considerada de risco pela prefeitura e concentra uma população de famílias venezuelanas migrantes, como a de Ângela. Durante nove meses ela, as duas irmãs, a mãe e o padrasto viveram no CHA. “Foi triste. A gente perdeu os nossos bichos. Tivemos que nos separar alguns dos outros.” O cachorro Revoado faleceu durante o período em que estavam no abrigo, onde chegaram a estar abrigados simultenamente mais de 500 animais.

Em junho deste ano, após meses de espera, a família de Ângela se mudou para Gravataí, na região metropolitana, em uma casa cedida pelo Programa de Compra Assistida, destinado a pessoas vítimas de catástrofes. Agora em uma nova cidade, ela e as irmãs terão de se adaptar mais uma vez a uma rotina diferente.

Os impactos na forma de viver a infância

Na percepção de Isabella, “tudo mudou”. “Antes eu tinha um pátio gigante para brincar, maior que essa pracinha [da escola]. Agora só tenho uma sacada, porque minha mãe se recusa a morar no chão de novo”, conta. A forma de brincar também mudou. Antes, ela vivia perto das primas, no mesmo bairro, e agora moram distante. “Mudou a minha localização, mudou meu jeito, mudou todas as minhas roupas”, analisa.

Além disso, ela nota que a própria relação com a tecnologia se intensificou. “Eu acho que eu não ficava tanto em telas porque eu tinha como brincar, agora eu fico só no celular.” O mesmo pensa Maria: há menos espaço para aproveitar ao ar livre após a tragédia. O prejuízo financeiro decorrente da enchente e a mudança das necessidades imediatas das famílias alteraram o tempo livre das crianças. “Quando não era enchente, a gente podia fazer mais coisas, sair mais”, relata.

“Eu me sinto uma pessoa nova. Antes eu era mais engraçado. Agora eu fiquei mais sério, não falo muito.” – Enzo, 11 anos

Por outro lado, Enzo sente que está mais corajoso e comprometido em cumprir tarefas. “Eu sou mais corajoso agora. Eu sinto que as coisas que eu fazia, agora eu estou vendo que estou fazendo melhor“, avalia. “Quando eu era pequeno, eu fazia tudo pela metade, agora eu faço completo. Eu não sabia jogar bola direito. Agora eu sei bastante jogar. Com a enchente, eu fiquei sabendo mais das coisas”, reflete.

Yohan também acredita que o jeito dele mudou depois de tudo que viveu. “Meu comportamento tá bem diferente. Tá tudo estranho. Tá meio difícil, e, por outro lado, tá fácil. Eu venho aqui estudar. Volto pra casa. Aí eu faço as coisas. E tá diferente. Antes eu só brincava, né? Agora eu ajudo minha mãe. Faço as coisas. Tô com a minha vida diferente”, conta. Mudaram também os amigos, mas segundo ele essa é a parte mais fácil.

“Eu sou muito amigável. Quando eu entro numa sala, dá uma semana ou duas e já tô amigo de todo mundo. No ônibus do Centro Vida, eu já conhecia todo mundo.” Com o tempo, ele tem recuperado alguns hábitos, como jogar futebol. No lado externo da atual casa de metal, improvisaram um campinho com grama sintética. “O meu irmão João botou tinta. Aí fez um campo. Temos bola. Tá bem legal.”

João se considera um “inventor”, está sempre criando novos objetos. Mesmo durante o período em que estava no Centro Vida, ele seguiu coletando caixas para fazer os próprios brinquedos. “Eu não sou daquelas pessoas que se entretêm no telefone. A coisa que mais me entretém é brincar. Sobrou muitas caixas na enchente e eu fiz muitas coisas legais. Eu inventei um laboratório pequenininho de caixa para guardar minhas coisas. Eu também gosto de fazer muitos origamis. Crio papagaio, balão, barquinho”, conta. Além das invenções, João ganhou diversos brinquedos doados. “A melhor coisa foi que eu ganhei um PS4 de um amigo do meu pai, vem até com o just dance, sabia?”

“Eu continuo a mesma pessoa. O que mudou mesmo foi o ambiente”, diz Juliana, de 11 anos. “Eu sou forte, eu consigo fazer as coisas que eu quero.” Uma das coisas que se orgulha de ter conquistado é a arrumação do novo quarto, na casa para onde ela e os pais se mudaram depois da enchente. Outra alegria é a chegada da pitbull Maggie. “Eu queria muito ter duas cachorras, agora eu tenho.”

O brincar e o trauma

Para a psicóloga e psicanalista Karla Aquino, as perdas vividas pelas crianças durante as enchentes são uma forma de luto. Karla atuou em um dos principais abrigos da região metropolitana, em Novo Hamburgo, que chegou a acolher 3,8 mil pessoas.

No período, ela foi responsável por criar espaços de leitura e bibliotecas para as crianças acolhidas, pois, segundo ela, a imaginação é vital para a elaboração de momentos difíceis. “As perdas que as crianças viveram não deixam de configurar um luto. Então, sabia que elas precisavam encontrar um outro lugar, no sentido de outros mundos e possibilidades.” Por isso, o direito ao brincar das crianças deve ser reconhecido e trabalhado nos diferentes contextos.

“O brincar é o lugar onde a gente pluraliza o nosso mundo e criamos recursos de saída para as coisas difíceis. No brincar, testamos cenários, situações, e elaboramos nossos lutos.” – Karla Aquino, psicóloga e psicanalista.

A psicanalista destaca que a tragédia climática trouxe novas camadas psíquicas para crianças que já haviam vivido outro evento marcante: a pandemia. “Elas viveram o trauma reatualizado. Passaram pelo período da covid-19, onde a casa era o lugar seguro, e viveram a enchente, em que precisaram deixar suas casas”, analisa.

Millena, por exemplo, diz não pensar muito sobre as mudanças que viveu. “Se eu tiver pensamentos sobre a enchente, vai ser só de tristeza. Então eu escolho botar para um lado e viver a vida de um jeito legal, vamos dizer. Se as pessoas me perguntam, eu falo que foi muito triste.”

Na opinião de Isabella, é urgente que os adultos prestem atenção nos efeitos a longo prazo que a enchente deixou nas crianças. “Muitas poderiam ter psicólogos de graça, porque elas ficaram com trauma do que aconteceu, do que perderam. Pode ter muita gente que perdeu familiar. Acontece alguma coisa dentro da cabeça dessas crianças. No futuro elas podem se prejudicar por isso”, reflete.

Já para Juliana, falta ouvir mais as crianças. “Eu queria que as pessoas pudessem saber mais do que aconteceu, do que a gente passou e do que a gente viveu.”

Nesse sentido, Karla recomenda aos pais e cuidadores: “escutem as suas crianças, falem abertamente dentro da capacidade de compreensão delas. Não tenham medo de compartilhar suas angústias, porque isso as autoriza a se sentirem seguras para também o fazer.”

O que fortalece as crianças?

Nesse tempo difícil, o que mais traz força para Isabella são os amigos. “Todo dia eu dou risada com eles, e também em casa de noite”. Já Enzo conta que o que mais o ajudou a se sentir melhor foi participar do grupo de crianças da igreja. Lá, ele integra o coral e se apresenta em datas especiais. Além disso, ele também desenha. “Eu desenho os carros quebrados. Cada vez que eu lembro de uma coisa da enchente, eu faço um desenho”, conta.

Yohan se sente fortalecido quando ajuda os pais na reforma da antiga casa. “Ver a casa pronta, a rua bonita, essas coisas. Parece simples, mas pra mim não é. São coisas novas.” Enquanto estão na casa modular cedida pela prefeitura, a mãe e o pai dos irmãos estão empenhados em consertar os estragos na antiga casa. Quando ele enxerga que já está tudo melhor do que antes, sente-se feliz. “Eu fico com orgulho. Ajudar ele é normal, mas ainda tem que terminar por fora. E por dentro um pouco. Mas tirando isso, a casa tá completa.”

Maria sente-se aliviada porque o mercadinho da família voltou a funcionar. Mudaram os produtos, mas agora os familiares já conseguem trabalhar e ter uma renda novamente. “Lá no mercadinho, tinha pãozinho e um negócio para crescer os pãezinhos. Eles saiam do forno e ficavam bem quentinhos”, conta. “A gente está numa situação melhor. Tem um monte de coisas agora – chocolate, bala, pirulito, rabicó”, conta. “A gente também conseguiu uma cama e um roupeiro novo.”

Se Vinícius fosse dizer algo para si mesmo de um ano atrás, ele diria: “Seja forte, você consegue. A gente só passa por uma coisa porque é muito necessário.” Ele aprendeu isso com a mãe Alexsandra Tavares. “[Com a enchente], precisei ser muito mais forte para conseguir o que eu quero.”

Ângela conta que rezar aliviava o aperto que sentia no coração e a incerteza do futuro. Depois da enchente, passou a frequentar a igreja. Durante a entrevista, ela cantou uma música chamada “Não desiste”, com versos que dizem: “tenha força/ tudo vai passar / nunca perca a esperança / um novo dia virá”. A música lhe traz força, ela conta.

* Embora o Guaíba seja considerado um lago, os moradores de Porto Alegre e da região o chamam de “Rio Guaíba”. Optamos por não alterar o termo quando dito pelas crianças entrevistadas.

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