O vício em vídeos curtos e o fenômeno do ‘cérebro podre’

A rolagem sem fim das telas, o alto estímulo e o excesso de conteúdos 'brain rot' está afetando crianças e adolescentes. Como promover um uso mais saudável?

Camilla Hoshino Célia Fernanda Lima Publicado em 11.07.2025
vídeos curtos: imagem de capa mostra duas crianças pequenas olhando um celular.
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Resumo

O excesso de vídeos curtos e memes animados por inteligência artificial tem afetado crianças e adolescentes, segundo especialistas. Mas, entre TikTok e Tralalero, é possível reverter a situação investindo em mediação parental, controle do uso de telas e brincadeiras.

É como um jogo de recompensa. Quanto mais o dedo desliza na tela e os olhos fixam em um vídeo curto, mais o cérebro dispara a sensação de “quero mais”. São conteúdos rápidos e até absurdos: dancinhas, piadas, gatos fofos ou imagens surrealistas geradas por inteligência artificial. “É uma espécie de ‘comidinha ultraprocessada para o cérebro’. Tem cor, sabor, atrai, mas não nutre”, explica Nay Macêdo, psicóloga e pesquisadora em proteção infantojuvenil na era digital.

Basta que a criança toque na tela, arraste para cima e tenha imediatamente, de bandeja, o que ela chama de “fast food neurológico”. Não há interação, desafio ou reflexão. “É fácil de engolir, mas de baixo valor cognitivo e educativo. Depois de um tempo, ela só quer ‘ingerir’ aquilo.”

Segundo Nay, esses conteúdos são de estímulo bruto, sem construção simbólica, sem narrativa e sem lógica. Além disso, “geram estímulos sensoriais que capturam a atenção de forma artificial, desregulando os circuitos naturais e saudáveis de satisfação, motivação e foco.”

O que acontece no cérebro a cada vídeo curto?

Um dos estudos pioneiros sobre os efeitos dos vídeos curtos na atividade cerebral foi publicado na revista científica NeuroImage. Através de ressonância magnética, os cientistas da Universidade Zhejiang, na China, perceberam que as pessoas que assistiam vídeos indicados pelo algoritmo do TikTok ativavam no cérebro centros de dopamina – neurotransmissor ligado à satisfação. Para os pesquisadores na área da saúde mental, esse excesso de dopamina pode ser viciante. Além do TikTok, os vídeos também estão no Kwai, reels de Instagram e no YouTube, a plataforma mais utilizada entre crianças de 9 a 12 anos.

Para a professora Nara Magalhães, quando o filho Cristovam, 9, precisava se desconectar do celular depois de algumas horas jogando e vendo vídeos, a mudança de comportamento era perceptível. “Parecia outra criança”, afirma. “Ele ficava irritado, demonstrava insatisfação com qualquer coisa e nunca aceitava bem a hora de tomar banho e dormir, por exemplo. Nessas situações, tinha dificuldade para regular as emoções e lidar com a frustração.”

“Não consigo mais assistir um filme inteiro”

Cristovam faz parte do grupo de 93% de crianças e adolescentes que acessam a internet, de acordo com a pesquisa Tic Kids Online Brasil 2024. Noventa e oito por cento deles estão conectados por um celular. “Gosto de assistir vídeos no YouTube, Shorts e de Roblox”, diz. A mãe conta que o filho já até sonhou em ser youtuber. “Ele fez uma conta no YouTube e TikTok com meu e-mail. Criou conteúdo, vídeos dançando, explicando sobre jogos. Mas conversamos que ainda não é o momento”, lembra Nara.

Cristovam confessa que já se sentiu cansado de ver muitos vídeos, principalmente à noite. Além disso, Nara percebeu a dificuldade do filho em se concentrar em atividades mais longas. “Aos domingos, tentamos assistir a algum filme em família, embora ele raramente consiga assistir até o fim, pois prefere ver YouTube no celular.”

Para os especialistas, esse é um efeito direto do alto consumo de vídeos curtos e da facilidade em ter tudo na palma da mão. “A pessoa fica contaminada a sempre receber uma recompensa de dopamina. Por muito tempo, esse neurotransmissor era associado apenas ao prazer, mas, antes de tudo, tem a ver com motivação”, explica Gustavo Estanislau, psiquiatra especializado em Infância e Adolescência. Segundo ele, quando a criança está em uma atividade superdopaminérgica, fica hiperconectada a ela e não quer mais fazer outra coisa.

Em um fórum da rede social Reddit, uma jovem confessa: “Não consigo mais assistir um filme inteiro. Tenho certeza que é por consequência do excesso de uso de telas no dia a dia e da aceleração de tudo (áudios, vídeos etc.). Sem foco e paciência.”

O relato tem dezenas de respostas de outras pessoas que afirmam não ter mais concentração ou interesse em acompanhar uma narrativa mais longa e profunda. Em comum, elas admitem que o uso excessivo das telas e o consumo de conteúdo acelerado em áudio ou vídeos curtos claramente são os responsáveis.

Imagem mostra a reprodução de uma página do Reddit de um fórum sobre vídeos curtos.
Nas redes sociais, jovens relatam dificuldade em acompanhar filmes ou séries. O excesso de conteúdos curtos e acelerados aparece como possível responsável.

Na mesma linha, a psicóloga Nay Macêdo afirma que “é como se o cérebro estivesse intoxicado por esse padrão”. Portanto, crianças e adolescentes podem não ver mais graça no que for diferente desse formato. Segundo ela, conteúdos superestimulantes afetam o cérebro e criam armadilhas cognitivas. Assim, o efeito pode ser pior para crianças e adolescentes, que estão com a atividade cerebral em formação. “Estudos com neuroimagem demonstram que o cérebro delas tem alto grau de neuroplasticidade e estão sensíveis a estímulos digitais. O famoso córtex pré-frontal, responsável por atenção, planejamento, autorregulação e tomada de decisão, é o último a amadurecer.”

Ao mesmo tempo, Gustavo Estanislau aponta que “essa é a primeira geração que apresenta dados de QI mais baixos em relação às anteriores”. De acordo com o psiquiatra, entre uma série de motivos, o fator atual da hiperconexão pode influenciar diretamente nesse resultado. “As crianças de hoje ficam muito conectadas. Assim, elas perdem o tempo de desenvolver habilidades básicas de psicomotricidade e socioemocionais, mas isso só se desenvolve com experiências”, explica.

Ou seja, não se trata apenas de uma modinha passageira, engraçada ou esquisita. “A dor das famílias é real”, diz Nay. Segundo relatos de pais e mães em suas redes sociais, o fato é um reflexo de algo que está acontecendo em larga escala. “Eles dizem, ‘meu filho não consegue mais assistir um filme até o fim. Tudo parece parado demais para ele’. Ou então, ‘minha filha só relaxa se está vendo esse tipo de vídeo. Fora isso, vive entediada e brava’.”

“Quanto mais se acostumam a esse tipo de conteúdo, mais difícil se torna se concentrar em algo mais lento, como uma conversa, um livro, um brinquedo, uma história ou mesmo uma aula.”

Na casa do ferreiro, o espeto é off-line

Em 2023, o cofundador do YouTube, o taiwanês Steve Chen, afirmou que não deixa os filhos assistirem aos Shorts, porque sabe que o formato é prejudicial ao cérebro. “Tenho dois filhos e falo para eles não assistirem ao YouTube Shorts”, disse em entrevista. Ele também admitiu que a plataforma acostumou o usuário a não conseguir terminar um vídeo sem clicar no vídeo seguinte. Os Shorts já ultrapassaram 50 bilhões de visualizações diárias no YouTube. O Reels, do Instagram, alcançou 140 bilhões de reproduções diárias, enquanto o TikTok marcou 1 bilhão de usuários ativos mensais.

Reduzir o tempo de conexão é transformador

De férias, correndo pelo mirante de Bragança (PA), Cristovam aproveita o tempo livre para fazer o que mais gosta. “Empinar pipa, andar de bike e desenhar”, diz. Depois de entender melhor os efeitos do excesso de telas e promover mais atividades analógicas, Nara percebe o quanto o filho está mais ativo e sociável.

Agora ele só usa o celular dele, que é sem chip, monitorado com recursos de restrições parentais e com tempo controlado de acesso. Além disso, passou a se interessar por desmontar e montar coisas e explorar a cozinha. “Já faz ovo frito, panqueca, lámen, bolinho de chuva e experimenta diversas misturas”, conta a mãe.

Imagem mostra Nara, uma mulher negra, de cabelos cacheados curtos e roupa vermelha. Ela abraça o filho Cristovam, um menino negro, de cabelos cacheados curtos.
A professora Nara Magalhães percebeu a mudança de comportamento do filho Cristovam, 9, por causa do excesso de telas. Ela decidiu, então, aumentar o tempo de atividades analógicas e hoje o que ele mais gosta de fazer é andar de bicicleta e empinar pipa.

As consequências da redução de telas para Cristovam foram positivas. No entanto, o psiquiatra Gustavo Estanislau diz que, para muitas crianças e adolescentes, essa virada de chave na hora da desconexão pode revelar sinais que indicam um vício iminente. “A criança pode ficar muito perdida, sem saber o que fazer ou muito irritada por ter de se desconectar.”

Já a longo prazo, ele explica a tendência de “desaprender a lidar com o tédio e o ócio”. Ou seja, não sabem viver o tempo livre sem usar telas. Não exercem a criatividade, a curiosidade, a mão na massa. Tudo porque, segundo o médico, atividades analógicas como pintar, recortar, desenhar, por exemplo, não liberam dopamina na mesma velocidade a que eles encontram nos feeds. “Os vídeos curtos concentram em um curto espaço de tempo o desenvolvimento e o desfecho que gera muitas emoções.”

“A criatividade só se desenvolve em cima do ócio. Esses seriam os momentos em que a criança vai colorir, recortar, mexer em algum instrumento musical, brincar com o que tem. Mas o tédio está reduzido porque estão nas telas.”

Quais os sinais imediatos do vício em telas? 

  • Alterações de humor (irritabilidade, impulsividade)
  • Sintomas ansiosos e depressivos
  • Redução da capacidade de concentração 
  • Alteração no desempenho escolar e na aprendizagem 
  • Isolamento social 
  • Dificuldade de autorregulação emocional
  • Distorção de valores e da percepção da realidade
  • Perda da noção do tempo
  • Desinteresse e desmotivação em atividades ao ar livre 
  • Resistência para desconectar 
  • Alteração de sono, alimentação e pouca interação com outras pessoas  

Fonte: Gustavo Estanislau, psiquiatra / Nay Macêdo, psicóloga

Nara preferiu não eliminar totalmente o uso do celular, principalmente para que o filho tenha habilidades básicas sobre tecnologias. “Meu marido tem uma postura mais radical. Eu, por outro lado, tento buscar um equilíbrio, porque reconheço o quanto faz falta, inclusive na minha vida adulta, não ter desenvolvido certas habilidades informáticas”, explica. “É muito ruim depender de outras pessoas para tarefas simples. Por isso, quero que meu filho cresça com mais autonomia nesse sentido.”

Tralalero e outros memes estilo ‘italian brain rot’

Nara Magalhães faz questão de conversar com Cristovam sobre os riscos da hiperconexão. Desse modo, ele pode compreender, aos poucos, até onde usar as plataformas. “À medida que ele cresce, retomamos essas conversas de forma mais consciente, profunda e ajustada à idade”, conta. O equilíbrio vem dando bons resultados. Quando questionado sobre qual brincadeira toda criança deveria curtir, ele responde em um segundo: “pipa!”

Mas as brincadeiras analógicas ainda disputam um espaço acirrado no tempo das crianças. Além dos vídeos curtos, concorrem por atenção conteúdos superestimulantes gerados por inteligência artificial. Tralalero Tralala, Bombardiro Crocodilo e Ballerina Cappuccina são personagens surreais que viraram tendência mundial em 2025.

Os chamados “italian brain rot”, memes fantasiosos compostos por vídeos curtos, imagens que misturam animais e objetos, são narrados por áudios acelerados em italiano. “As traduções contêm palavrões, ofensas religiosas, conteúdos de cunho sexual, frases racistas e até versos que falam de bombardear crianças em Gaza, por exemplo”, diz Nay Macêdo. Por isso, “não é à toa que o termo ‘brain rot’ significa, literalmente, ‘apodrecimento do cérebro’.”

Em 2024, o termo foi escolhido pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, como palavra do ano, em virtude do consumo excessivo de conteúdos on-line “trivial” e “pouco desafiador” cognitivamente. De acordo com a psicóloga, esse “suposto humor”, mas com “terror psicológico ou abusivo” embutido, pode influenciar no desenvolvimento emocional das crianças, causando medo real. “Nos maiores, pode dessensibilizar sobre valores, crenças, percepção sobre ofensas ou simular diversão entre agressões”, completa.

O psiquiatra Gustavo Estanislau também reforça que a hiperestimulação desses conteúdos pode provocar problemas comportamentais, desde alteração de sono, alimentação e um estado de alerta maior, associado ao estresse. “Dependendo dos conteúdos, é possível dizer que esse superestímulo pode povoar a memória da criança com informações chocantes ou esquisitas.”

O que as famílias podem fazer?

  • Reduzir o tempo de exposição a telas e criar barreiras ativas nos dispositivos infantis para o acesso automático, preferindo acesso sob supervisão;
  • Ativar aplicativos de controle de tempo e substitutivo saudável, lento, simbólico, narrativo, que ajude a reconstruir a capacidade de imaginar e regular, priorizando os tempos sem tela e de ócio criativo;
  • Acompanhar e conversar sobre o conteúdo visto, transformando a tela em oportunidade de diálogo, e não em elemento de solidão e isolamento;
  • Recriar junto: atividades como desenhar, dublar, dramatizar ou inventar histórias a partir de vídeos consumidos podem transformar o impacto, quando já acessado;
  • Promover espaços para histórias, brincadeiras, jogos de corpo, arte, música, tempo ao ar livre e conversa;
  • Não se culpar: trocar a sensação de “falha” pela responsabilidade parental.

“A minha proposta é sempre substituir o julgamento reativo pela escuta ativa”, sugere Nay Macêdo.

Ou seja, é possível “trocar a ação punitiva pela construtiva”. Entre as sugestões da psicóloga para ressignificar os memes virais como pontos de entrada para o cuidado, está buscar proativamente soluções criativas, inovadoras ou até mesmo “analógicas”, ouvindo crianças e adolescentes, e também o que diz a ciência.

E se os ‘italian brain rot’ divulgassem o bem?

Ao ouvir um aluno do 6º ano reproduzindo freneticamente o som dos “italian brain rot”, Daniela Porte, doutora em Linguística Aplicada (UFRJ) e professora do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp-UERJ, no Rio de Janeiro, decidiu pesquisar como esses memes viralizam. “Me dei conta que o menino não conseguia se segurar fazendo barulho [do meme], era como se fosse algo automático”, relata.

Foi a filha de sete anos de Daniela – que acessa as redes com regras e mediação parental – quem lhe explicou sobre “a bailarina que se apaixonou pelo capuccino assassino [Ballerina Cappuccina]”. Então, ela decidiu propor à turma um projeto criativo de linguagem midiática. A ideia era subverter a lógica dos memes criados por IA e trazer um contexto com significado.

Assim, os alunos deveriam usar a imaginação para desenvolver personagens duplos, misturando seres ou objetos, com o propósito de fazer bem ao mundo. O resultado foi surpreendente. “Esse foi o melhor trabalho que já fiz na minha vida, com maior engajamento dos alunos. Surgiram personagens incríveis”, diz a professora.

“Driblamos a IA usando a inteligência natural que todos temos”, relata a professora Daniela Porte.

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Arquivo pessoal / Daniela Porte

Ao serem desafiados pela professora Daniela Porte, os alunos do 6º ano do CAp-UERJ subverteram a lógica dos “italian brain rot”. Com papael e canetinhas, criaram personagens como “Fota”, mistura de folha e fogo. Ele ajuda a combater o desmatamento, dando coragem às plantas e alertando sobre o fogo na mata.

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Arquivo pessoal / Daniela Porte

“Abracinho bem fofinho” é um urso de pelúcia, mas também um unicórnio, esquilo e um coração. Sua função é distribuir abraços mágicos para as pessoas se sentirem felizes e radiantes.

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Arquivo pessoal / Daniela Porte

“Cleber” é a mistura de uma capivara com um morango. Ele ajuda as crianças a comerem frutas, “mas sem exagero, porque faz mal”, diz o meme.

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Arquivo pessoal / Daniela Porte

O “Robô Tinic” manda mensagens carinhosas às pessoas. Sua frase preferida é “você é importante para mim”.

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Arquivo pessoal / Daniela Porte

O “Gato leitor” é uma mistura de um gato com um livro. Ele incentiva as crianças a usarem mais a biblioteca.

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Arquivo pessoal / Daniela Porte

"Crocobolitolilolilo" é a mistura de um crocodilo com balão. Ao invés de bombardear os humanos, como no meme criado pela IA, ele doa balões. Desse modo, alegra o dia da criançada.

Diante de turmas que se alfabetizaram durante a pandemia, expostas a tablets e celulares, Daniela busca centrar a aprendizagem na construção de vínculos. Ou seja, além de ouvir as crianças, estar atenta às suas referências, ao que gostam e por onde acessam informação. “Hoje, a maioria dos alunos tem acesso à informação. Portanto, nossa função como educadores é ajudar a refletir sobre as fontes de acesso e o impacto dessa informação nas nossas vidas”, diz. “O que significa um crocodilo que tem a função de bombardear a humanidade?”

Nesse sentido, os pais também devem tentar descobrir atividades interessantes para as crianças e para eles mesmos como alternativa ao consumo digital, defende o psiquiatra Gustavo Estanislau. “Se eles acham chato brincar com seus filhos, vão ficar também nas telas, no sofá, acomodados sem saber o que as crianças estão acessando. Mas é o bom e velho conselho de educar pelo exemplo, buscando tempo de qualidade com a família e fora das telas.”

Como criar e educar quem cresce na era digital?

Conteúdo efêmero e envolvente, dopamina e gratificação instantânea, baixo teor cognitivo: não é por acaso que o YouTube Shorts cresceu 186% em 2025. Assim, alcançou 200 bilhões de visualizações diárias no período, segundo dados da própria plataforma. Embora a tendência da inclusão da inteligência artificial automatize partes da vida humana, ela “pode ser aliada do desenvolvimento criativo”, afirma Nay Macêdo. “Quando usada para construir personagens, inventar histórias, desenhar ideias ou visualizar mundos imaginários, a IA ativa o lado simbólico e narrativo — exatamente o oposto do que os ‘brain rot’ fazem.”

Vídeos curtos podem ser usados na educação?

Uma pesquisa publicada recentemente associa o uso de vídeos curtos em sala de aula a uma aprendizagem superficial, com menor estímulo ao pensamento racional, em comparação ao uso de materiais de texto. O estudo do doutorando em Ciências da Universidade Técnica de Braunschweig, Thorsten Otto, também indica que a visualização dessas mídias antes dos estudos dificulta a aquisição de conhecimento. Embora outras investigações sejam necessárias para validar a relação negativa entre vídeos curtos e aprendizagem, Thorsten destaca que o ritmo acelerado pode sobrecarregar rapidamente os canais visuais e verbais dos estudantes. “Isso não implica, no entanto, que os vídeos curtos sejam inerentemente inadequados para o ensino de conhecimento” (em tradução livre), diz a pesquisa.
Assim, Thorsten defende que é necessário distinguir o uso ativo do passivo dessas mídias, como no caso da experiência da professora Daniela Porte. No entanto, para o desenvolvimento do pensamento racional, o pesquisador enfatiza que educadores precisam “promover o raciocínio científico por meio da aprendizagem baseada em problemas”. A chave é “aprender como pensar, e não o que pensar”, aponta a pesquisa.

“A diferença está no propósito e no uso conjunto com adultos atentos, que não entregam a criança à tecnologia como se fosse um entretenimento inofensivo qualquer, mas a acompanham na descoberta de como imaginar, construir e se expressar”, diz Nay Macêdo.

Portanto, reverter o “apodrecimento cerebral” exige vínculo, presença e boa dose de persistência. “É como insistir com os filhos no uso do cinto de segurança, do capacete, dar as mãos para atravessar a rua ou dizer que não podem sair com desconhecidos. Apesar da frustração das crianças, decidimos sustentar, porque temos mais compreensão e responsabilidade”, compara.

Já para evitar que a IA molde comportamentos, sugerindo o que as famílias devem assistir com base no consumo algorítmico, a orientação é pensar junto com as crianças: “Por que ela me recomendou isso?” Então, é possível furar por um instante essa “bolha de interesses” e resgatar um pouco da infância que olha para o céu acompanhando pipas coloridas.

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