Transtorno do processamento sensorial: o que devo saber?

Condição possui causas desconhecidas e sintomas podem estar presentes em outros transtornos frequentemente descobertos na infância

Eduarda Ramos Publicado em 31.01.2023
Um menino de pele clara, cabelos crespos castanhos e camisa xadrez azul está com semblante incômodo, com as mãos tapando os ouvidos.
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Resumo

Transtorno do processamento sensorial pode se confundir com outras condições frequentemente descobertas na infância, como o transtorno do espectro autista. O tratamento é realizado de maneira multidisciplinar, com diversos profissionais da saúde.

Alguma criança próxima de você já sentiu dificuldade em lidar com certas texturas, cheiros e sabores? Ou até mesmo costuma ficar incomodada com o ambiente, sensibilizada com luzes ou barulhos? Nem sempre o desconforto é apenas uma birra do pequeno: no transtorno do processamento sensorial (TPS), esses são alguns sintomas comuns que devem ser investigados com prudência, a fim de proporcionar melhor qualidade de vida à criança que os apresenta.

A condição neurológica TPS envolve um desequilíbrio nos cinco sentidos relacionados à percepção do meio interno e externo: tato, paladar, olfato, visão e audição. Apesar de não receber reconhecimento em manuais técnicos de medicina, o neurologista pediátrico Anderson Nitsche diz que ela pode aparecer em casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), problemas de aprendizagem, ansiedade e/ou dispraxia, além de ser “muito comum confundir o transtorno de processamento sensorial transtorno com o espectro autista (TEA) e vice-versa, já que o TPS pode estar presente nessa e em outras condições frequentemente relatadas na infância”, explica.

Não é frescura

Giovanna Ewbank, atriz e apresentadora, revelou no podcast “Quem pode, pod” que Bless, seu filho de oito anos, foi diagnosticado com TPS durante a pandemia de coronavírus. Ela conta que “achava que podia ser frescura”, já que o menino não gostava de pisar na grama, sentia cheiros muito fortes e tampava os ouvidos em caso de barulho. Segundo ela, o tratamento de Bless é realizado com terapia ocupacional, que o auxilia a lidar melhor com o sensorial aguçado e o ensina a conseguir lidar com o transtorno fora de casa.

Como funciona o transtorno do processamento sensorial?

Nitsche explica que pessoas com TPS percebem as sensibilidades externas de uma forma diferente do que a média das outras pessoas, em maior ou menor grau. “Um exemplo é quando colocamos uma roupa: quando nos sentimos confortáveis com ela, esquecemos que estamos vestidos. Já pessoas com TPS podem se incomodar por horas com uma costura diferente, com a etiqueta… A textura de alguns alimentos, cheiros, a vibração do solo, o ondular dos carros, também podem trazer muito desconforto”, diz. O especialista conta que hipersensibilidade e hipossenssoriedade (dificuldade de processar estímulos externos) também são alguns sintomas relatados por pessoas com o transtorno.

E quando ficar alerta? Comportamentos como excesso ou pobreza de movimentação, euforia ou passividade, distração, irritabilidade, intolerância à estimulação sensitiva ou sensorial intensa ou pouco usuais aos indivíduos afetados, falta de coordenação motora fina ou global são alguns dos sinais que pedem atenção dos responsáveis pela criança, segundo o neurologista Roger Gomes. “Como muitas vezes os sinais da condição são difíceis de diferenciar de aspectos normais do cérebro infantil em desenvolvimento, alguns casos leves podem permanecer sem diagnóstico até a vida adulta”, ressalta. Por isso, é importante estar atento às sutilezas do comportamento de cada criança ao nosso redor.

Como é o tratamento?

Gomes explica que o tratamento quase sempre envolve uma abordagem multidisciplinar: profissionais médicos (neurologistas e psiquiatras), psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. “Eventualmente, algumas medicações serão necessárias para o controle de sintomas associados com a hipo ou hiperatividade, como as alterações da atenção, sintomas ansiosos, entre outros”, diz.

É possível ter qualidade de vida com o transtorno? “De um modo geral, é possível ter uma vida de muito melhor qualidade a partir do diagnóstico e tratamento, as crianças melhoram bastante e dá para ter uma vida normal, desde que se entenda o que está acontecendo e se criem estratégias para diminuir o desconforto”, finaliza Nitsche.

“O primeiro passo é o diagnóstico. Entender que não é uma frescura ou uma birra da criança, mas um sofrimento real” – Anderson Nitsche

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