Quatro em cada dez jovens não sabem em que bioma brasileiro vivem

Apesar da preocupação com a crise climática, faltam educação ambiental e democratização do acesso à informação aos jovens brasileiros, segundo pesquisa

Da redação Publicado em 02.05.2023
Fotomontagem com pessoas de diferentes etnias em preto e branco à frente de elementos como céu, planta e borboleta, para ilustrar matéria sobre o desconhecimento dos jovens sobre em que bioma brasileiro vivem
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Resumo

Pesquisa revela que, embora os jovens brasileiros estejam cada vez mais preocupados com a crise climática, a maioria não sabe identificar os biomas do país. Resultado é consequência da pouca educação ambiental e da desigualdade no acesso à informação no Brasil.

Os jovens de hoje estão cada vez mais preocupados com as questões climáticas e ambientais. Apesar disso, a maioria não possui conhecimento suficiente sobre essas mesmas questões e muitos não sabem nem identificar o bioma brasileiro em que vivem.

De acordo com a pesquisa Juventudes, meio ambiente e mudanças climáticas (Juma), 98% dos jovens de 15 a 29 anos afirmaram que o meio ambiente é um assunto de todos e 8 em cada 10 concordam que estamos vivendo uma crise climática. Porém, 36% não souberam dizer o nome do bioma onde vivem. O levantamento observou como a juventude brasileira é impactada pelas mudanças ambientais e como essa parte da população percebe tais transformações.

Mapa dos biomas brasileiros elaborado pela pesquisa Juventudes, meio ambiente e mudanças climáticas (Juma)

Mais de 5 mil jovens responderam perguntas sobre classe social e nível de escolaridade, e foram questionados se moram na zona urbana ou rural e qual é o bioma da região em que vivem. Esta última pergunta foi destaque na pesquisa, que apontou o maior desconhecimento sobre o bioma entre os jovens das regiões sudeste e sul, onde está a Mata Atlântica. Neste bioma, quase metade dos jovens desconhece a informação. Outra situação recorrente foi a confusão de biomas: jovens do sul e sudeste que achavam morar na Amazônia, e jovens do nordeste que acreditavam estar no Pampa.

Aqueles que sabiam onde viviam destacaram a importância de conhecer os biomas para criar pertencimento e responsabilização sobre o território que habitam. Para eles, é importante conhecer a complexidade dos biomas e entender que algumas culturas estão diretamente vinculadas a esse ambiente, dependendo dele para viver.

“A partir do momento que a gente sabe que a Amazônia somos nós e que pertencemos a esse território, a gente tem mais propriedade de fala e entende a importância dessa existência. Porque, muitas vezes, a gente acha que a Amazônia é só floresta, mas a Amazônia é a gente como um todo.” – Jovem entrevistado na Amazônia

Jovens querem se engajar, mas onde está o incentivo?

A frequência da temática ambiental no cotidiano dos jovens também foi analisada pelo estudo, com a conclusão de que apenas 3 em cada 10 jovens conversam sobre o assunto. Mulheres e moradores de territórios tradicionais são os mais envolvidos no tema, que é discutido com frequência entre a família e nas escolas e faculdades. A maioria relatou que a educação ambiental nas escolas se deu de maneira superficial e que “os ambientes onde ocorrem os debates mais profundos são muito elitizados, distantes da população, que poderia se interessar pelo assunto se tivesse mais acesso”.

Conceitos como “aquecimento global”, “mudança climática” e “efeito estufa”, são mais conhecidos entre os pesquisados. Já as ideias de “racismo ambiental” e “justiça climática” ainda não são bem compreendidas por eles. A percepção sobre as mudanças climáticas no dia a dia também foi registrada. Os jovens apontaram as mudanças bruscas do clima, enchentes, incêndios, secas, epidemias e o encarecimento na conta de energia como pontos de destaque nesse cenário e alguns mencionaram estresse e ansiedade climática como pautas discutidas entre amigos.

“A gente precisa entender como é a natureza de onde vivemos para que possamos lutar para que ela continue viva e subsista com a gente.” – Jovem entrevistado da Mata Atlântica

Além de mapear o envolvimento dos jovens com questões ambientais, a pesquisa pretende garantir um plano de desenvolvimento sustentável com a inclusão de todas as juventudes brasileiras, cujas principais missões são:

  • Colocar os jovens como protagonistas na agenda estratégica da recuperação sustentável dos biomas do país.
  • Construir narrativas e evidências para a elaboração de um plano de recuperação verde encabeçado pela juventude.
  • Analisar e divulgar os impactos causados na vida dos jovens habitantes de cada bioma do país, para incentivar a criação de políticas e programas ambientais específicos.

Para contribuir com a pauta climática, os jovens destacaram as eleições e o engajamento social, sendo que 44% declararam votar em candidatos que defendem a pauta ambiental, 30% compartilham informações sobre o tema e 19% participam de movimentos ou projetos sobre as causas ambientais. Sobre atitudes cotidianas, 75% evitam desperdiçar alimentos e 46% reciclam o lixo, além de outras práticas de consumo consciente, como comprar roupas e acessórios usados e reutilizar embalagens.

Para a maioria, a falta de incentivo e de espaços de participação são os fatores que dificultam mais envolvimento na causa. O estudo concluiu que é necessário ampliar a conexão com a natureza dos jovens em cada lugar onde moram e que os jovens moradores de periferias desconhecem mais sobre o tema, deixando claro a desigualdade no acesso à informação e educação ambiental no país.

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