O que o MEC fará para combater o racismo nas escolas? 

Ministério anuncia nova política para a educação brasileira com ações de combate e prevenção ao racismo e a valorização das escolas quilombolas

Célia Fernanda Lima Publicado em 20.05.2024
imagem para matéria sobre as ações do PNEERQ do MEC mostra uma sala de aula com crianças pequenas de diversas etinias e uma professora no meio. Todos estão sentados em roda no chão.
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Resumo

Para combater o racismo nas escolas e fortalecer o ensino quilombola, o Ministério da Educação lançou uma política de equidade e relações étnico-raciais. A proposta é ter mais investimentos na temática, materiais didáticos e professores capacitados.

Seguir uma estratégia integrada para conter o racismo e, principalmente, prevenir possíveis casos de desigualdade étnico-racial nas escolas. Esse é o objetivo da Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ), lançada pelo Ministério da Educação (MEC), na semana passada.

Para isso, estão previstas ações como: aquisição de materiais didáticos, formação de professores e gestores, fortalecimento do ensino quilombola e o monitoramento dos novos protocolos de combate ao racismo. O documento chega depois de denúncias recentes de casos de racismo em instituições educacionais.

O objetivo do MEC é investir R$ 1,5 bilhão na implantação da política e chegar em 5.570 municípios em todos os estados do país até 2027. Nesse sentido, os protocolos de prevenção e as respostas às práticas racistas serão adaptados para as escolas e também para as universidades, levando em consideração suas particularidades.

De acordo com Beatriz Benedito, analista de políticas públicas do Instituto Alana, para combater o racismo estrutural, os estudantes precisam conhecer e valorizar a história do Brasil, a partir das contribuições dos povos negros e indígenas. “Essa política permite então o reconhecimento da nossa história, ampliação do repertório e referenciais, e maior representatividade”, diz. Mas, no caso de crianças e adolescentes, isso contribui ainda “para a construção de ambientes mais seguros e relações mais genuínas”.

“A expectativa é ver o direito de todas as crianças e de todos os adolescentes, negros e não-negros, cumprido”

Quais os desafios?

Os principais desafios para a implementação da PNEERQ envolvem a ausência de diagnóstico e de monitoramento da Lei nº 10.639 (de ensino de história e cultura afro-brasileira). Além disso, ainda há poucos profissionais formados para a gestão das relações étnico-raciais e as escolas quilombolas possuem estrutura insuficiente.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Alana e Geledés, “apenas 29% das redes municipais de educação têm uma atuação perene para o ensino de história e cultura afro-brasileira. Ou seja, a maioria das secretarias municipais de educação faz pouca ou nenhuma ação para cumprir a lei”. Portanto, para Benedito, “é preciso tornar a agenda presente ao longo do ano e em diferentes disciplinas”.

Nesse sentido, o Governo deve garantir instrumentos para monitorar a aplicação das leis 10.639/03 e 11.645/08 a nível nacional. Para o MEC, a intenção é “consolidar um modelo de educação antirracista e superar as desigualdades étnico-raciais na educação brasileira”. 

Assim, Benedito reforça que uma nova política para todas as escolas e de forma coordenada é “um reconhecimento de uma história de luta do movimento negro para que a educação seja transformadora e a experiência escolar considere o papel da população negra na construção social, política e econômica do país”. 

Como atingir esse objetivo?

Confira as propostas do MEC para a PNEERQ em sete eixos:  

1. Recursos para as ações de governo

  • R$ 1.200 mensais para uma bolsa destinada a profissionais responsáveis por estruturar a PNEERQ em cada estado.
  • R$ 200 mil para 20 instituições que receberem o “Selo Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva de Educação”. Esta premiação vai reconhecer as melhores ações pedagógicas para a Educação das Relações Étnico-Raciais.
  • R$ 55 milhões distribuídos em 18 mil escolas para melhorar a estrutura e desenvolver ações étnicos-raciais, sobretudo a educação quilombola.

2. Diagnóstico e monitoramento

  • Garantir para 100% das redes estaduais e municipais de ensino a implementação da Lei nº 10.639, sobre história e cultura afro-brasileira. Do mesmo modo, a Lei nº 11.645, que valoriza a cultura dos povos originários.
  • Criar indicadores para monitorar o avanço das ações de equidade.

3. Formação de gestores e professores

  • Promover cursos on-line e presenciais para educadores e diretores.
  • Firmar a parceria com programas das universidades, por exemplo, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), Programa de Iniciação à Docência (Pibid) e o Programa de Educação Tutorial (PET).

4. Material didático

  • Formar avaliadores do PNLD em cursos de letramento étnico-racial.
  • Criar uma Comissão de Especialistas para análise dos editais do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
  • Produzir cadernos pedagógicos, vídeos e guia informativo para auxiliar as escolas a implementar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola.

5. Protocolos de combate ao racismo

  • Produzir cinco protocolos de prevenção e resposta ao racismo nas escolas, voltados à educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação superior.
  • Garantir que os protocolos tenham recomendações para intervenções pedagógicas e institucionais em casos de racismo, além disso, eles devem envolver toda a comunidade escolar na prevenção.

6. Fortalecer a educação quilombola

  • Melhorar a infraestrutura de todas as escolas quilombolas do país com o programa “Escola Quilombo”.
  • Promover ações emergenciais em regiões de maior presença da comunidade quilombola, como Alcântara (MA), Ilha de Marambaia (RJ), Rio dos Macacos (BA), Marajó (PA) e Kalunga (GO).
  • Melhorar a alimentação nas escolas quilombolas com esforços para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
  • Retomar obras em 42 instituições.
  • Garantir acesso à água e à internet para 100% dessa rede.
  • Oferecer Bolsa Permanência para estudantes universitários quilombolas.

7. Difundir os saberes da cultura negra

  • Disseminar o conhecimento negro e quilombola.
  • Enviar kits “A cor da cultura” para todas as escolas até 2026.
  • Enviar o Mapa Censo Quilombola.
  • Produzir a Enciclopédia de Autores e Autoras Negras.
  • Criar o programa Educação Antirracista em Diálogo.

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