Educação antirracista: 14 livros infantis para falar sobre o tema

Por meio da literatura é possível dialogar com a diversidade e apresentar às crianças inúmeras formas de ver e pensar o mundo

Da redação Publicado em 23.07.2021 Atualizado em 11.09.2023
Livros para educação antirracista: foto de um homem negro, que veste camiseta azul,lendo um livro com uma criança negra, que está de camisa xadrez azul e vermelha.
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Resumo

Fortalecer e praticar o antirracismo é um dever de toda a sociedade, de adultos a crianças. Para inspirar conversas constantes sobre o combate ao racismo com os pequenos, preparamos esta lista com livros para contribuir com uma educação antirracista.

“Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. A frase da professora e filósofa americana Angela Davis nos lembra que a desconstrução do racismo, que é estrutural em nossa sociedade, se faz no dia a dia. Entre adultos e crianças, em casa e na escola. Uma educação antirracista é papel de toda a sociedade e há muitos livros que podem abrir caminho para essas conversas.

Mas o que podemos considerar educação antirracista? Para Ananda Luz, mestra em Ensino e Relações Étnico-Raciais e pesquisadora de literatura infantil, é aquela que emancipa tanto as crianças quanto os professores. Porque promove olhares sensíveis para ser e estar nesse mundo. Promove, principalmente, visibilidade.

A literatura infantil na formação antirracista

A escola infelizmente pode ser o primeiro local onde as crianças têm contato com o racismo. Por isso o combate ao preconceito racial se faz fundamental para além de datas como o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. “É preciso assumir o compromisso de maneira contínua e sistematizada, presente em todo o currículo, se desdobrando em práticas cotidianas”, pontua Rodrigo Azevedo, mestre em educação, coordenador pedagógico e pesquisador de literatura infantil.

Para os dois especialistas, a literatura infantil se apresenta como possibilidade de mostrar novas perspectivas e ofertar diálogos, ficcionais ou não. Com outras formas de ver e refletir sobre o mundo, tornando-se um meio potente para a formação antirracista.

“Como diz Eliane Debus, pesquisadora de literatura infantil da Universidade Federal de Santa Catarina, a palavra ficcional arrebata o leitor para um tempo e espaço que não são os seus. Ao adentrar outros mundos, encontrar com outros modos de vida e refletir sobre tudo isso, a criança que lê. Quando retorna ao seu mundo, não é a mais a mesma e passa a vê-lo de forma diferente. Pois é atravessada pela experiência que a leitura proporcionou”, explica Ananda.

“Por intermédio da literatura é possível dialogar com a diversidade”

Trouxemos aqui um pequeno recorte de obras que podem contribuir com a educação antirracista. Famílias e educadores podem incluir sugestões e buscar outras. Recomendamos conhecer a obra completa de autoras que são referência como Heloísa Pires Lima, Sonia Rosa e Kiusam de Oliveira e ampliar o olhar para esse tema tão urgente e necessário.

Livros para contribuir com uma educação antirracista

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“Omo-Oba”, Kiusam de Oliveira e Ayodê França (Companhia das Letrinhas)

Kiusam de Oliveira apresenta às crianças 12 contos da mitologia iorubá sobre princesas e príncipes africanos. Essas entidades – conhecidas, no Brasil, como orixás – enfrentam guerras, desvendam mistérios, fazem autodescobertas e amadurecem. Com essas histórias feitas também de fragilidades e vulnerabilidades, a autora potencializa as virtudes de uma realeza ancestral da população negra do nosso país.

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“Diálogos feministas e antirracistas (e nada fáceis) com as crianças”, Bianca Santana e Tainan Rocha (Alta Books Editora)

Por que as pessoas negras têm medo da polícia? Toda criança que pede esmola no farol é negra? A partir de questões trazidas pelos filhos, a autora mostra caminhos para refletir sobre a realidade de muitas crianças negras brasileiras e começar a conversa com os pequenos sobre sistema prisional, política, machismo e outros temas difíceis.

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“Contos e lendas afro-brasileiros”, Reginaldo Prandi e Joana Lira (Seguinte)

Adetutu, uma jovem mãe africana, sonha com a origem do mundo durante a travessia em um navio negreiro com destino ao Brasil. No sonho, ela torce por Oxalá, ganha a cumplicidade de Exu, vibra com a atuação de Xangô e emociona-se com Iemanjá. Trinta anos depois, ela vai usar a sabedoria dos segredos recebidos dos orixás.

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“De Passinho em Passinho”, Otávio Junior (Companhia das Letrinhas)

O mais recente livro de Otávio Júnior, vencedor do Jabuti de 2020 com a obra “Da Minha Janela”, apresenta um movimento que nasceu nas favelas cariocas: o passinho. “É frevo? É funk? É samba? É hip-hop?”, questiona a narrativa. A mistura de ritmos que resulta em um balé com os pés é hipnotizante e contagiante. O passinho é considerado uma das manifestações culturais mais importantes do Rio de Janeiro da última década. No fim do livro, a ilustradora Bruna Lubambo nos presenteia com um glossário visual dos principais estilos do passinho, para quem quiser arriscar a dança.

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“Um dia de neve”, Ezra Jack Keats (Companhia das Letrinhas)

Um clássico da história do livro ilustrado, esta é a primeira obra de Ezra Jack Keats publicada no Brasil. Nela, conhecemos Peter e sua primeira aventura em um dia de neve. Em um livro ilustrado que marcou sua época, Ezra Jack Keats foi considerado pioneiro ao retratar um cenário urbano e multicultural para as crianças. Com ilustrações a partir de colagens de papéis e tecidos de todo o mundo, o livro se tornou um clássico desde sua publicação em 1962.

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“O caderno sem rimas da Maria”, Lázaro Ramos (Pallas)

Maria cria um caderno sem rimas, em resposta ao “Caderno de rimas do João”. A caçula faz questão de se afirmar, dizendo que não gosta de rimas e que é mais da invenção. Além de inventar expressões como “jubula” – adjetivo dado a toda palavra que emociona só de ouvir e pensar no que ela significa -, traz seus conceitos para as existentes, como sororidade. Ambos os livros foram escritos por Lázaro Ramos – inspirados em seus filhos – e ilustrados por Maurício Negro.

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“Sábado”, Oge Mora (VR)

O tão aguardado dia chegou e a programação de Ava e sua mãe estava na ponta da língua: biblioteca, salão de cabeleireiro, piquenique no parque e espetáculo de marionetes. Só que os planos foram por água abaixo. Mas será que foi mesmo um dia perdido? Por meio de inventivas ilustrações com colagens, a americana Oge Mora nos mostra mulheres negras – mãe e filha – ocupando os lugares. Todos os lugares que elas quiserem!

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“Histórias da Preta”, Heloisa Pires (Companhia das Letrinhas, 2005)

Preta nos leva a um passeio, às vezes divertido e às vezes denso, sobre a descoberta de sua identidade. Já no início da narrativa ela questiona: “Ser negra é como me percebem? Ou como eu me percebo?”. Pelas histórias e reflexões da protagonista são apresentadas questões como a diversidade do continente africano, o tráfico negreiro, o preconceito racial e a religiosidade. O livro, escrito por Heloisa Pires Lima e ilustrado por Laurabeatriz, foi publicado em 1998, quando ainda havia poucas obras assim, voltadas para as crianças. 

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“Mãe Sereia”, Teresa Cárdenas (Pallas)

Um navio negreiro é o cenário desta narrativa, escrita pela cubana Teresa Cárdenas e ilustrada pela argentina Vanina Starkoff. Nesta ficção, que seria a primeira viagem a levar pessoas escravizadas da África para outro continente, a Mãe Sereia acompanha a travessia para amenizar o sofrimento e o medo desse povo a caminho do desconhecido. Oralidade, religiosidade, fé e poesia caminham juntos nesse livro, intenso e necessário.

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“A mãe que voava”, Caroline Carvalho (Aletria)

A pequena Alice se diverte com o pai enquanto a mãe sai de carro para trabalhar. Curiosa, quer saber onde a mãe trabalha e descobre que ela é professora. Imagina a mãe dividindo o colo com muitas crianças, mas ao acordar no fim do dia tem de volta o colo todinho só para si. Com texto da catarinense Caroline Carvalho e ilustrações da portuguesa Inês da Fonseca, o livro mostra uma família feliz e distante dos estereótipos.

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“Benedito”, Josias Marinho (Caramelo)

Neste livro-imagem, um bebê descobre o tambor, explora seus sons e encontra-se com sua cultura e ancestralidade. O autor, o rondoniense Josias Marinho, se inspirou nas manifestações do congado de Minas Gerais para dar vida a Benedito. A narrativa visual abre oportunidade para que os pequenos leitores tomem contato desde cedo com a riqueza da cultura afro-brasileira.

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“Tanto, tanto!”, Trish Cooke (Ática)

Uma mãe e seu bebê estão sossegados em casa, até que toca a campainha. Chega tia, depois tio, avó, primos e a casa vira uma farra! O ambiente já estava lotado, mas ainda faltava chegar alguém. Quem será? Neste livro, escrito por Trish Cooke e ilustrado por Helen Oxenbury, sentimos o clima de festa e cada um dos familiares, a seu modo, aprecia a deliciosa sensação de estar com um bebê

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“O menino Nito”, Sonia Rosa (Pallas)

Quantas vezes os meninos já ouviram que homens não choram? Foi o que aconteceu com o Nito. De tanto engolir o choro ele acabou ficando doente. O único jeito de melhorar era “desachorar”, como aconselhou o médico. Este é o livro de estreia de Sonia Rosa, publicado pela primeira vez em 1995. A autora, que hoje conta com mais de 40 livros, intitula sua obra de literatura negro-afetiva voltada para crianças.

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“A princesa e o espelho”, Isabel Cintra (Underline Publishing)

Quando o desejo pela beleza extrema tenta superar o amor, e a vaidade torna-se o bem mais precioso, uma fada doce e muito sábia aparece para transformar tudo em harmonia novamente. Um lindo conto de fadas com reis, rainhas, princesas, muita magia e tanto a nos ensinar.

* As descrições sobre cada livro foram elaboradas a partir de material disponibilizado pelas próprias editoras.

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