Ideias para acolher vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul

Catástrofe climática elevou os rios, inundou cidades inteiras e deixou mais de 66 mil pessoas desabrigadas

Da redação Publicado em 08.05.2024
imagem de capa para matéria sobre as chuvas no Rio Grande do Sul mostra em petro e branco uma pessoa de costas, andando de galochas em um local alagado.
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Resumo

As chuvas intensas inundaram mais de 400 cidades no Rio Grande do Sul e deixaram milhares de pessoas desabrigadas. O que está sendo feito e qual é a melhor forma de ajudar as pessoas afetadas por essa catástrofe climática, em especial as crianças?

Desde o fim de abril, chuvas intensas e constantes fizeram o lago Guaíba, principal rio que corta Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, bater a máxima de mais de 5 metros. A marca histórica ultrapassou em 58 centímetros a maior cheia da região, registrada em 1941. A situação causou alagamentos na capital e em mais 417 municípios. Isso corresponde a quase 80% das cidades gaúchas.

De acordo com o boletim da Defesa Civil do Estado, 1,4 milhão de pessoas foram afetadas na região. Adultos, idosos, crianças e animais tiveram que ser resgatados por helicópteros e barcos das forças de segurança e voluntários. São 66.761 pessoas desabrigadas, 372 feridos, 128 desaparecidos e 100 mortes confirmadas.

O que está sendo feito?

Em visita à região, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, disse que esse é “o maior desastre natural da história do país”. Por isso, o Governo Federal está elaborando de maneira emergencial um plano de reconstrução para o estado. Ao lado do Unicef, a força-tarefa prevê garantir a proteção dos direitos de crianças e adolescentes que estão em abrigos, em especial os que ainda não encontraram seus responsáveis.

imagem sobre as chuvas no rio grande do sul mostra o centro histórico de porto alegre alagado
Centro histórico de Porto Alegre alagado pelas águas do Guaíba.

Qual é a situação das crianças?

Crianças resgatadas pelo Corpo de Bombeiros estão instaladas em alojamentos cedidos pelo poder público. Algumas estão em abrigos com os pais, outras estão recebendo cuidados de órgãos públicos de assistência social e saúde.

Em três dias, o número de crianças desencontradas de seus familiares caiu de 249 para 100, segundo o conselho tutelar de Canoas, um dos municípios mais afetados pelas chuvas. De acordo com o órgão, isso acontece porque as equipes de salvamentos conduzem as vítimas para os abrigos mais próximos e esses locais podem ser diferentes de onde estão seus cuidadores. Então, os conselhos tutelares fazem uma força-tarefa para identificar as crianças desacompanhadas e conduzi-las às famílias.

Crianças e adolescentes desacompanhados de seus responsáveis legais devem ser encaminhados ao alojamento temporário de Porto Alegre. Lá, o centro de triagem Geraldo Santana conta com um plantão do conselho tutelar 24 horas. O endereço é na rua Luiz de Camões, 337, no bairro Santo Antônio. Contato: (51) 99158-1348.
O Ministério Público e a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul também disponibilizam os seguintes números para mais informações: (51) 99562-6647 e (51) 98594-8784.
A orientação geral é oferecer cuidados sem expor a imagem e os dados das crianças e dos adolescentes, para garantir sua segurança e proteção.

Fonte: Rede de Pesquisa em Comunicação e Infância e Adolescência (RECRIA)

E as escolas?

As atividades estão suspensas em 2.338 escolas estaduais do Rio Grande do Sul. Com isso, mais de 200 mil crianças e adolescentes estão sem aula. Apesar de 68 escolas servirem de abrigo em situações de emergência, 421 estão danificadas por causa dos alagamentos.

Como explicar o que está acontecendo para as crianças?

Em situações de crise, crianças podem se sentir sobrecarregadas ao tentar lidar sozinhas com seus sentimentos. Elas precisam do apoio dos adultos. Um caminho é criar um espaço acolhedor para que ela possa se expressar e falar de um jeito que facilite a sua compreensão. Assim, ela pode entender melhor o que está acontecendo com o seu círculo imediato de convivência e com toda a comunidade.

Para a criança que está acompanhando as notícias de forma remota, você pode:

  • Observar se ela teve alguma mudança no comportamento (às vezes, os sinais não são verbalizados);
  • Perguntar o que ela sente ao saber o que está acontecendo;
  • Demonstrar que pode não ter todas as respostas;
  • Mediar o que chega até elas, sem ocultar a verdade;
  • Explicar o que está sendo feito pelas autoridades;
  • Contar que pessoas de todo o Brasil estão se unindo em uma rede de solidariedade para ajudar as vítimas das enchentes.

“A mudança da sociedade passa por uma mudança nos sentimentos das pessoas. Tudo bem manifestar indignação, mas é preciso transformar esse sentimento em ações e em compromissos.” – Francisco Veras, jovem ativista ambiental

Por que se chegou nessa situação?

De acordo com especialistas ambientais, as enchentes são resultados diretos da crise climática. “Cada grama de petróleo, cada pedra de carvão queimada, cada árvore derrubada contribui para esse cenário“, disse ao UOL o professor Alexandre Araújo Costa, da Universidade Federal do Ceará, que fez parte do Grupo de Trabalho de meio ambiente do atual Governo Federal.
“Quando está mais quente, os oceanos evaporam muito mais, e a água é o veículo dos eventos meteorológicos todos, inclusive os extremos”, explica o climatologista Carlos Nobre, em entrevista ao UOL News. “Afinal, tudo está interligado, desde as ondas de calor cada vez mais frequentes até as secas e queimadas no Pantanal e na Amazônia, por exemplo. Essa combinação de eventos contribuiu para um maior volume de chuvas e cheia dos rios na região sul. Além disso, o Rio Grande do Sul está localizado em um ponto em que os sistemas polares e tropicais se encontram. Assim, o ar quente e o ar frio criam um ‘berço’ para fenômenos climáticos.”

O que fazer para evitar novos eventos climáticos extremos?

Investimentos em políticas para o meio ambiente, planos de enfrentamento e prevenção, educação ambiental e fiscalização contínua são estratégias para evitar novas catástrofes climáticas. Do mesmo modo, os principais relatórios de soluções para a crise climática ressaltam que a devastação da floresta e o consumo desenfreado também precisam parar. Um estudo do Unicef, por exemplo, aponta que mais de 40 milhões de crianças e adolescentes estão expostos a ameaças e riscos de desastres ambientais no Brasil. Portanto, é preciso considerar a proteção da vida das novas gerações com prioridade absoluta, principalmente a de crianças indígenas e negras do sul global, as mais afetadas pela crise do clima.

Como garantir os direitos ambientais de meninas e meninos?

Segundo o comentário geral de número 26, documento apresentado à ONU com o pedido de crianças de vários países para que suas vozes sejam consideradas na proteção ambiental, as principais recomendações são:

  • Proteger as crianças contra os danos ambientais provocados, por exemplo, pelo desmatamento, nas terras e culturas tradicionais;
  • Dar especial atenção à preservação de terras tradicionais das crianças indígenas. Isso inclui reconhecer o caráter inconstitucional do “marco temporal” por atentar contra a identidade, o território e os direitos dos povos originários;
  • Garantir a qualidade do ambiente natural para fruição dos seus direitos, incluindo o direito a um nível de vida adequado em que possam se desenvolver plenamente.

“Para salvaguardar as crianças e evitar que novas catástofres como essa se repitam, é preciso ter um olhar cuidadoso para ações de recuperação e regeneração do meio ambiente” – JP Amaral, gerente de Natureza, do Instituto Alana.

Como ajudar as famílias do Rio Grande do Sul?

O estado está recebendo doações de todo o Brasil e também de países próximos, como a Argentina e o Uruguai. Além de mantimentos, água e roupas, doações em dinheiro também são aceitas, mas somente nos canais oficiais do estado e de instituições devidamente credenciadas. Outra forma de ajudar é se alistar para trabalhos voluntários, inclusive para oferecer apoio psicológico. Cada estado possui canais próprios (Defesa Civil, prefeituras e ONGs, por exemplo) para ajuda voluntária.

A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) também está arrecadando brinquedos, jogos e livros para as crianças que estão nos abrigos. “As crianças estão sofrendo muito com essa angústia sem entender direito o que está acontecendo. Então, esse material é para elas poderem se distrair nos próximos dias”, disse o pediatra José Paulo Ferreira, presidente da SPRS.

“Ninguém ficará sozinho”

Com distribuição livre e gratuita, o livro “E a chuva…”, da psicóloga clínica Sabrina Führ, fala da diferença de uma chuva gostosa para essa especial, que “encheu os rios todinhos e aumentou eles de tamanho, fazendo com que algumas cidades virassem grandes poças de lama”. Entre os sentimentos que isso pode causar, há o questionamento para que a criança responda o que sentiu: medo, tristeza, raiva?. “Olhe para o lado, sinta quem está aí por você”, convida a autora. “Conte a essa pessoa sobre as suas emoções e saiba que vamos juntos esperar a chuva passar… ela sempre passa!”. Enquanto isso, dá para se entreter ao colorir algumas páginas.

O que doar?

Alimentos não perecíveis
Água potável
Material de higiene pessoal
Material de higiene e alimentação para crianças (fraldas, lenços umedecidos, pomadas, sabonete, leite, mamadeira, copos, pratos, talheres etc.)
Roupas e calçados para todas as idades
Cobertores e colchões
Roupas de cama e toalhas
Brinquedos
Ração para animais

Onde doar?

Materiais e alimentos:
Defesa Civil de cada estado e município
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) das capitais
Central Única das Favelas (CUFA) de cada cidade
Agências dos Correios (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Paraná, Brasília e algumas unidades do Rio Grande do Sul)

Brinquedos e livros:
Campanha “Criança tem que brincar”, da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul
Local: Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers)
Rua Coronel Corte Real, 975, bairro Petrópolis, Porto Alegre, CEP: 90630-080

Dinheiro:
Valores em dinheiro somente podem ser doados pelos canais oficiais das instituições credenciadas e pela campanha oficial do Governo do estado, “SOS Rio Grande do Sul
Pix: 92.958.800/0001-38 (CNPJ)
Nome: Associação dos Bancos no Estado do Rio Grande do Sul ou Banco do Estado do Rio Grande do Sul.

As plataformas paraquemdoar.com.br e acaodacidadania.org.br recebem doações para projetos sociais. Nesse momento, elas se voltaram para o Rio Grande do Sul. O doador deve se cadastrar nas páginas com nome, CPF e o valor que deseja doar em Pix, cartão de crédito, boleto ou PayPal.

O que fazer quando a água baixar e como se proteger de doenças?

De acordo com a Vigilância Epidemiológica do município de Lajeado, um dos mais afetados pelas chuvas, o contato prolongado com a água suja pode aumentar o risco de transmissão de doenças por causa da sensibilidade da barreira natural da pele. Portanto, a orientação é usar equipamentos de proteção adequados, como galochas, luvas e capas de chuva.

Como a situação é considerada de alto risco, autoridades de saúde recomendaram a medicação prévia para tratamento de leptospirose em casos específicos. A decisão veio por meio de uma nota técnica da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Gaúcha de Infectologia e Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. “Essa orientação é crucial para proteger especialmente as equipes de socorristas e voluntários que têm contato direto com águas de enchente“, explicou a médica infectologista pediátrica Carolina Brites.

Além disso, quem for limpar casas e comércios deve evitar ficar com as mãos e os pés molhados por muito tempo. Também não se deve consumir alimentos que tiveram contato com a água da enchente ou da lama, mesmo aqueles embalados. Isso porque há risco de contaminação por hepatite A.

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