Biografia mostra às crianças quem foi Glória Maria

As histórias que a jornalista contou marcaram o seu nome na história da televisão brasileira

Laís Barros Martins Publicado em 02.02.2024
Ilustração de Glória Maria, uma mulher negra de blusa verde, com duas meninas, também negras. Ambas usam vestidos cor-de-rosa.
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Resumo

Glória Maria abriu caminhos ao deixar a sua marca na televisão brasileira e inspirou meninas e mulheres a seguirem seus sonhos. Há um ano da sua morte, uma biografia infantil reconta fatos da sua trajetória e mostra por que manter viva a sua memória entre as crianças.

“Eu não pretendo ficar velha”, declarou certa vez Glória Maria. Contra isso, ela se desafiava a cada reportagem, colocando em tudo que fazia as marcas que a levariam a ser reconhecida como uma das principais jornalistas da história da televisão brasileira. “Quando você se sente confortável, você perde o frescor, você envelhece internamente.” Ela também costumava dizer que não queria agradar a todos, pois quem pagava as contas no fim do mês era ela.

Agora, há um ano de sua morte, o livro “Glória Maria – Glória Maria Matta da Silva” resgata essas declarações e reconta a sua trajetória como forma de manter viva a sua memória entre as crianças das novas gerações. O autor, Duílio Fabbri Júnior, acredita na importância de preservar o exemplo de uma mulher “muito autêntica e corajosa”.

“Ela tinha uma força que a motivava a fazer as coisas, não permitindo que os outros lhe dissessem qual era o caminho. Ela os criava.”

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“Glória Maria – Glória Maria Matta da Silva”, Duílio Fabbri Júnior e Manoela Costa (Editora Mostarda)

Além de apresentar em detalhes a sua transição de telefonista para repórter e alguns episódios importantes de sua carreira, como as entrevistas com Michael Jackson e Madonna, o livro retrata a vida pessoal da jornalista, citando, por exemplo, a adoção das filhas Maria e Laura, e sua luta contra o racismo. Com lançamento previsto para a segunda quinzena de fevereiro, o título faz parte da Coleção Black Power, que apresenta ao público infantojuvenil 30 personalidades negras que se transformaram em símbolos de resistência e superação, como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Machado de Assis, Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus.

O exemplo de Glória para que haja mais Glórias

Primeira repórter preta a entrar ao vivo na TV, Glória Maria fez parte do cotidiano das pessoas por mais de três décadas, registrando suas aventuras e também momentos importantes na história do mundo. Mas fazia isso do seu jeito. Ela dividia detalhes de acontecimentos em tempo real, até mesmo em situações de perigo, e dava sua opinião sobre determinados assuntos. Assim, foi pioneira na criação de um novo jornalismo, rompendo com as escolas tradicionais que defendem a imparcialidade do repórter.

Enquanto produzia reportagens e inspirava o público com suas histórias, Glória Maria ia abrindo caminhos para meninas e mulheres negras seguirem seus sonhos. Para a ilustradora Manoela Costa, depois dela, “muitas mulheres incríveis estão lutando e conquistando seus espaços na mídia, na música, nos livros, nos jornais… Espaços que antes eram inacessíveis”, diz. Então, seu desejo é que as crianças de hoje saibam: “apesar de Glória Maria ser única, ela não é a única”. Quer dizer, “que tenham essa referência não como exceção, mas que tenham um repertório mais rico do que o meu foi quando pequena.”

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Ilustração Manoela Costa/Divulgação

Fotos do miolo do livro "Glória Maria - Glória Maria Matta da Silva", que reconta a vida da jornalista para as crianças.

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Ilustração Manoela Costa/Divulgação

O livro reconta a trajetória de Glória Maria que, antes de ser repórter, foi telefonista.

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Ilustração Manoela Costa/Divulgação

Glória Maria não sonhava em ser mãe. Até encontrar Maria e Laura, em 2009, quando participou de uma ação voluntária em um orfanato, em Salvador (BA).

Nesse sentido, a biografia de Glória Maria traz à tona as diversas possibilidades de representatividade desde a infância. E não só para crianças pretas. Mas, também, para crianças como a ilustradora do livro foi no passado, quando os pais deixavam que ficasse acordada até mais tarde para assistir a jornalista no “Fantástico”, conta.

Os legados de Glória Maria

“Glória Maria representou a possibilidade de uma nova imagem, abriu caminhos para a diversidade“, afirma Duílio Fabbri Júnior. Foi assim que conquistou Mirella, a menina que, aos 11 anos, declarou em uma entrevista à irmã que Glória era sua inspiração porque se identificava com a repórter. “Ela é bem parecida comigo”, disse.

Em 2017, Mirella e os irmãos denunciaram a situação das ruas esburacadas de onde moravam, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O vídeo da reportagem caseira viralizou e chamou a atenção do “Fantástico”, que promoveu um encontro surpresa entre as duas jornalistas.

“Por sua história, Glória Maria continua sendo um exemplo”, diz Fabbri.

“Ela também é um exemplo para adultos e crianças, pois quebrou barreiras, enfrentou homens poderosos. Não estava disposta a aceitar a discriminação racial“, afirma Manoela Costa, coautora do livro. Ao se lembrar de quando foi barrada por um gerente de hotel, que alegou que negros não podiam entrar, Glória disse: “O racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre.”

Como mãe, Glória Maria comentou sobre seu compromisso diário de passar para as filhas, Maria e Laura, “que elas têm que ser livres. Sempre, a qualquer preço, a qualquer custo”. Segundo ela, sua vontade não era fazer crianças ambiciosas, nem vencedoras. “Eu quero fazer crianças reais, crianças felizes.”

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