Escolas apresentam às crianças ‘Mulheres que Fizeram História’

Alteração da LDB prevê a Semana da Valorização de Mulheres que Fizeram História. Escolas do país se preparam para lembrar a data em atividades pedagógicas

Vanessa Fajardo Publicado em 06.03.2025
Semana de Valorização das Mulheres : Imagem mostra colagem com fotografias de mulheres conhecidas pela luta por direitos.
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Resumo

Em homenagem ao Dia da Mulher, escolas da educação básica vão promover a Semana da Valorização de Mulheres que Fizeram História. Projetos envolvem leitura, escuta e reflexão para a igualdade de gênero.

Pagu, Dandara, Carolina Maria de Jesus, Marielle Franco e Dona Ivone Lara são algumas das mulheres retratadas em uma pintura na entrada da Escola Municipal Maria Aparecida Rodrigues Cintra, na Zona Norte de São Paulo. A obra integra o projeto “Mulheres Incríveis”, que começou em 2019. No entanto, a iniciativa permaneceu nas paredes e nas atividades escolares com o objetivo de dar visibilidade à biografia de brasileiras que se destacaram em diversas áreas. A valorização da figura feminina tornou-se um dos pilares do projeto pedagógico da escola. Por isso, atravessa as ações realizadas ao longo do ano e não somente no mês de março. O período prevê a comemoração da Semana da Valorização de Mulheres que Fizeram História, iniciativa que passou a vigorar em 2025.

O evento entrou no calendário escolar a partir de uma atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), feita pelo governo federal ano passado. Desse modo, as escolas de educação básica das redes públicas e privadas devem incluir em seus planos de aulas atividades relacionadas à data. A ideia é que a comemoração seja na segunda semana do mês de março, por conta do Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março. Dentre os conteúdos que as escolas podem trabalhar com os estudantes estão, principalmente, as contribuições de mulheres para a sociedade no Brasil e no mundo.

Celebração pode inspirar os estudantes

Dentre as ações que os 600 alunos da escola paulista participam estão os projetos de leitura de obras feministas, onde conhecem personalidades marcantes. Há também a oportunidade de saber mais sobre as histórias das mulheres que trabalham na própria escola, por meio de entrevistas com as funcionárias.

Além disso, o “Mulheres Incríveis” inspirou os estudantes a nomearem a pracinha da escola, área verde de convivência, como Marielle Franco. Outras pinturas de mulheres em paredes da unidade foram produzidas coletivamente.

“As datas comemorativas são marcos importantes porque representam conquistas de lutas muito longas. Mas aqui este é um tema incluído na convivência dos estudantes e no projeto político pedagógico da escola”, diz Solange Miranda, vice-diretora. “Não paramos para falar isso só na data em questão. Falamos todos os dias, pois as crianças convivem com essas personalidades e com a importância delas.”

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Arquivo Escola Municipal Maria Aparecida Rodrigues Cintra

Na Escola Municipal Maria Aparecida Rodrigues Cintra, em São Paulo, estudante aprendem o ano inteiro sobre a importância de mulheres na história do país. Na entrada, um mural do projeto “Mulheres Incríveis” mostra o rosto dessas personalidades.

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Arquivo Escola Municipal Maria Aparecida Rodrigues Cintra

A área verde de convivência da escola se chama "Marielle Franco", em homenagem à vereadora e ativista do Rio de Janeiro.

Projeto vai homenagear as mães dos alunos

Na Unidade de Educação Básica (UEB) Zebina Eugênia Costa, em São Luís do Maranhão, o mês de março vai trazer a história de três mulheres inspiradoras aos estudantes. A professora de informática, Helena Menezes, vai trabalhar com as turmas do 2º e 4º ano do ensino fundamental as biografias da paquistanesa Malala Yousafzai, que lutou pelo direito das meninas irem para a escola; da cientista Marie Curie, que fez descobertas sobre a radioatividade; e da astronauta Valentina Tereshkova, primeira mulher a viajar pelo espaço.

“O mais importante em conhecer histórias de mulheres que superaram desafios e alcançaram sonhos, é inspirar as crianças a acreditarem em seu próprio potencial e desconstruir estereótipos e preconceitos”, diz Helena. A atividade também terá a proposta de abrir rodas de conversa para que os estudantes compartilhem impressões e reflitam sobre a igualdade de gênero.

Além disso, a etapa seguinte do projeto vai reconhecer a história das próprias mães dos estudantes como mulheres inspiradoras. Eles vão completar com palavras, músicas, poesias ou desenhos a frase ‘Admiro minha mãe porque ela é uma mulher…’

Esses depoimentos ficarão gravados para compor um vídeo para as famílias. “É fundamental que eles também tenham um olhar sobre a sua mãe enquanto uma mulher importante, que precisa ter a história valorizada”, reforça a professora.

Imagem mostra uma sala de informática com uma professora ao centro e alunos sentados em frente a computadores.
Na Unidade de Educação Básica Zebina Eugênia Costa, em São Luís (MA), estudantes vão pesquisar as biografias de mulheres que fizeram história e fazer homenagens às próprias mães.

Pesquisas e bate-papo fazem parte das atividades

Outro projeto correspondente à Semana de Valorização das Mulheres que Fizeram História é o do Colégio Miguel de Cervantes, da rede particular de São Paulo. Alunos do 5º ano pesquisaram as histórias de mulheres que fizeram descobertas importantes na astronomia. Tudo começou com a distribuição de fichas com curiosidades sobre essas astrônomas. Nomes como, Henrietta Swan, que mapeou estrelas e indicada ao Nobel depois de sua morte, estão na lista.

Em seguida, os estudantes montaram painéis, produziram trabalhos escritos e apresentações. A atividade incluiu a exibição do filme “Estrelas Além do Tempo” e a reflexão sobre o impacto e legado das mulheres na ciência.

“O principal objetivo não é apenas ensinar ciência, mas também inspirar os alunos a valorizarem a diversidade e a igualdade no campo científico. Mostramos que grandes descobertas e avanços podem vir de qualquer pessoa, independente de gênero, raça ou origem social”, afirma Denise Tonello, orientadora do ensino fundamental.

Já o Colégio Stocco, em Santo André (SP), investiu em palestras sobre meninas na ciência. A iniciativa teve a presença de Nancy Magnani Barbosa, gerente da Empresa Brasileira de Aviação (Embraer), e Juliana Stevanato, gerente médica do grupo Merckque. Elas falaram sobre o mercado de engenharia de aeronáutica e sobre o que faz uma embriologista.

“Foi muito importante ver mulheres em posições de tantas responsabilidades terem tempo para falar com a gente e responder todas as dúvidas e curiosidades. Além disso, elas mostraram que qualquer pessoa pode trabalhar com isso”, diz Manoela, 11 anos, aluna do 6º ano.

Luiza, colega de turma, complementou: “Foi bem diferente e muito importante para gente ter esse conhecimento com mulheres tão importantes nas áreas delas.”

Valorização precisa ir além de datas comemorativas

A educação escolar pode ser um poderoso vetor para a igualdade de gênero e a criação de uma geração anti-machista. Por isso, projetos que envolvem clubes de leitura, oficinas e espaços de discussão são essenciais. Assim, as meninas podem ter espaço para dizer o que mais as incomodam. Inclusive, os meninos são chamados para a reflexão, defende Rita de Cássia Machado, doutora em Educação, professora na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e fundadora da instituição “As Pensadoras”.

“É muito importante que a escola, como lugar de mudança social, de formação de pensamento e de possibilidade de um outro projeto de sociedade, possa promover projetos concretos de mudança”, diz. “Incluindo, por exemplo, o estudo de mulheres históricas na aula de história”.

Por meio do projeto “As Pensadoras”, Rita oferece cursos, formações e a venda de uma coleção de livros autorais, de dez volumes. As obras retratam 100 mulheres da história que precisam ser visibilizadas. O quinto livro será lançado neste ano.

Para Rita, a mudança também exige a capacitação de professores, pois a igualdade de gênero só será possível com oportunidades educacionais mais inclusivas, que vai além da criação de uma semana comemorativa. “Ainda temos processos de uma educação machista e misógina, onde as meninas não são colocadas para jogar no time da escola, por exemplo, ou não são incentivadas a fazerem pesquisa”, afirma a professora.

Conheça 5 mulheres que deveriam ser lembradas nesta semana e em todas as outras:

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Maria Firmina dos Reis, escritora

Nascida em São Luís do Maranhão, foi a primeira escritora abolicionista. Escrevia para jornais, especialmente sobre a pauta abolicionista e foi autora do primeiro romance brasileiro contra a escravidão (Úrsula, de 1859). 

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Nísia Floresta, escritora e educadora

A primeira educadora feminista do Brasil. Escreveu seu primeiro livro sobre o direito das mulheres aos 22 anos. Até sua morte, em 1885, produziu outras 14 obras hoje prestigiadas mundialmente.

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Rita Lobato Velho, médica

Primeira mulher formada em Medicina no Brasil. Nascida em 1866 no Rio Grande do Sul. Seguiu carreira em obstetrícia e oferecia consultas gratuitas. Lutou pelo direito ao voto das mulheres, conquistado em 1932.

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Sonia Guajajara, ativista indígena

Atual ministra dos Povos Indígenas, tem reconhecimento internacional pela luta em defesa dos direitos dos povos indígenas. Em 2012, foi eleita uma das pessoas mais influentes pela revista Time. 

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Tarciana Medeiros, administradora

Presidenta do Banco do Brasil, referência no setor financeiro, ocupa o 18º lugar no ranking da Forbes. Única brasileira na lista das mulheres mais poderosas do mundo, ela faz história no cenário mundial.

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