Garimpo continua a atingir vidas de crianças yanomami

Mesmo com a redução do desmatamento e a retirada de milhares de garimpeiros, a malária e a desnutrição atingem crianças yanomami um ano após a crise humanitária

Da redação Publicado em 15.01.2024
Imagem ilustra matéria sobre a situação atual das crianças yanomami. Um amulher indígena está de costas carregando um bebê em um sling indígena.
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Resumo

Após um ano de ações emergenciais para controlar a crise humanitária, o governo vai instalar bases permanentes para acabar com o garimpo ilegal, que atinge a vida dos povos originários e crianças yanomami, em Roraima.

Um ano após o Governo Federal decretar a crise humanitária nas terras Yanomami, as crianças continuam sofendo as consequências do garimpo. Ainda há meninos e meninas internados com desnutrição grave, malária e diarreia. Na semana passada, na aldeia Sanumá (RR), cinco crianças foram transferidas de helicóptero para Boa Vista em situação grave. Um menino de quatro anos morreu. Enquanto na região de Auarís, fronteira com a Venezuela, a equipe médica atendeu uma menina de 13 anos que pesava apenas 10 quilos.

O cenário acende o alerta de que as ações não podem ser apenas emergenciais, como defende a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. “O garimpo destrói não só o meio ambiente, a saúde, mas também a própria identidade de um povo. Para sarar o povo, precisamos primeiro sarar a terra.”

Após a primeira força-tarefa, em janeiro do ano passado, o desmatamento da floresta pelo garimpo caiu 85%, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Forças nacionais retiraram quase 20 mil invasores das terras indígenas e a Polícia Federal abriu mais de 400 investigações para acabar com a atividade ilegal no território Yanomami. Além disso, a Força Aérea Brasileira montou um hospital de campanha na zona rural de Boa Vista, que funcionou por seis meses e fez mais de sete mil atendimentos.

No entanto, mesmo com o fim do plano emergencial, os yanomami continuam vivendo com medo e com fome na medida em que o garimpo persiste, desta vez mais violento. Isso porque, segundo as investigações e a declaração de Guajajara, os invasores que permanecem nas terras indígenas seriam da “parte criminosa”, ligados a facções.

O que há por traz do garimpo ilegal?

A exploração do ouro e da cassiterita, usada em aparelhos eletrônicos, devasta a natureza e a vida de várias gerações. O consumo desenfreado e o tráfico dessa matéria-prima é financiado por grandes e pequenos compradores do mercado de joias, indústrias e até gigantes de tecnologia.

Para conseguir o minério, garimpeiros invadem terras indígenas, devastam a floresta, poluem os rios, expulsam os povos originários, usam de violência e levam doenças para as comunidades. Assim, mulheres e crianças são quem mais sofre as consequências. Segundo dados da Fiocruz, a desnutrição crônica atinge 8 em cada 10 crianças yanomami. Já os casos de malária chegaram a 22 mil em uma população de quase 30 mil yanomami nos últimos anos.

Ao mesmo tempo, a destruição da floresta chegou a quase 4 mil hectares só em Roraima e no Amazonas, conforme o monitoramento do Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com Hutukara Associação Yanomami. A exploração ilegal de ouro existe em vários territórios indígenas no país, mas, segundo uma pesquisa da UFMG, 90% é de origem amazônica.

Os yanomami, um dos maiores povos tradicionais da Amazônia brasileira e venezuelana, lutam contra o garimpo e as feridas abertas das mortes de sua população há mais de 30 anos só no papel. Contudo, a história da exploração persiste há várias gerações e atinge a vida dos mais frágeis, como as crianças.

O que será feito?

Desta vez, no lugar de uma operação emergencial, as forças de segurança vão se instalar no território yanomami com três bases de vigilância. Além disso, Boa Vista terá uma “casa sede” do Governo para administrar o orçamento destinado às operações de combate ao garimpo.

Essas ações visam, portanto, barrar o que aconteceu em 2023, quando, de janeiro a novembro, 308 crianças yanomami com menos de 4 anos morreram. As principais causas foram pneumonia, diarreia, malária e desnutrição.

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