Vencedores do Prêmio Criativos: Escola + Natureza participaram da conferência global para representar seus bioma e defender a preservação de seus territórios
Estudantes vencedores do Prêmio Criativos: Escola + Natureza representaram seus biomas na COP30 e defenderam a importância de projetos escolares para a conexão com a natureza e a sustentabilidade.
Adolescentes filhos de ribeirinhos, pescadores, agricultores e indígenas estiveram na COP30, em Belém, apresentando ideias para melhorar a vida em cada um dos seis biomas brasileiros. Eles foram vencedores do Prêmio Criativos: Escola + Natureza, com projetos que mobilizaram comunidades inteiras e criaram novas formas de impactar seus territórios.
Para Nicolas,17, estudante do Cerrado, representar sua comunidade na conferência global do clima é realizar mais um dos “infinitos sonhos” que movem a vontade de mudar o mundo. “No início, tínhamos apenas uma ideia de resolver um problema da escola, e isso nos trouxe até a COP30.”
Na conferência, os grupos conheceram os espaços de discussões, defenderam seus projetos em público, discursaram para autoridades e visitaram o navio Rainbow Warrior III, do Greenpeace. “É um sentimento de conquista saber que nosso projeto está dando certo”, conta Júlia, 16.
Stella Gonçalves, professora responsável pelo projeto do Pantanal, afirma que o prêmio fez os adolescentes se sentirem “protagonistas”. Isso porque representam suas origens: “são pantaneiros que veem de perto a realidade dos incêndios e o mal que isso traz.”
“Queremos mostrar que o Pantanal é importante para toda a natureza do país”, diz Ester, 14. Ela e os demais estudantes produziram maquetes itinerantes dentro de malas, com fotos, desenhos e representações de cada território.
Para Beatriz, 17, estudante da Caatinga, participar da conferência é uma oportunidade de despertar a reflexão sobre o engajamento da juventude, especialmente das comunidades quilombolas, de onde ela é originária. “Espero que, após a COP, mais jovens se inspirem nesses projetos para produzir ciência e assim beneficiar suas comunidades.”
Da Amazônia, Marcelly, 16, indígena do povo Mura, explica que fazer parte da delegação dos vencedores do Prêmio Criativos reafirma o compromisso de valorizar a ancestralidade. “Queremos abraçar as crianças e os adolescentes indígenas da cidade que, assim como eu, sentiram medo ou preconceito nas escolas”, diz. “Mesmo morando em Manaus, nem todo estudante conhece sua ancestralidade; por isso, é gratificante saber que nosso projeto chegou tão longe e que podemos mudar um pouco a visão da sociedade sobre os povos indígenas.”
A troca de informações durante a COP30 fez os adolescentes entenderem mais sobre as necessidades de cada bioma. Foi então que chegaram a uma conclusão: “o que acontece no nosso território também acontece nos outros. Ou seja, os problemas do Norte e do Sul são parecidos”, reflete Alice, do Pampa. “Todas as queimadas e destruição da floresta prejudicam o espaço, a história e a ancestralidade.”
Nicolas conta que representar Codó (MA) e o Cerrado é, antes de tudo, representar uma ideia que se transformou em uma questão social e ambiental. “A mensagem que fica para os próximos participantes é de continuar estudando sobre seus biomas e conhecer as necessidades e importância de cada um.”
Durante a programação, Júlia entendeu que não dá para ignorar a presença da natureza na escola. Ela diz que fazer parte do projeto, que mapeia trilhas ecológicas em manguezais, enriqueceu sua formação. “Queremos levar mais educação ambiental para a comunidade e para a escola, valorizando as comunidades tradicionais e o protagonismo juvenil.”
“É preciso fazer agora porque não temos tanto tempo para procurar as respostas. Se somos o futuro e temos que tomar decisões, precisamos ter voz.” – Alice, estudante do Pampa
Após uma jornada de formações on-line e o encontro presencial durante a COP30, os grupos planejam expandir suas iniciativas. Além disso, os estudantes querem mobilizar mais adoelscentes em suas escolas. Já os professores conatram que a premiação em dinheiro ajudou a garantir mais equipamentos, ampliar a mobilização e criar novas ações nas comunidades. Saiba quais são os próximos passos dessa turma de Criativos:
Projeto: “Povos indígenas da Amazônia e a sustentabilidade”
A professora Márcia Gomes, do Instituto de Educação da Amazônia (IEAM), em Manaus (AM), afirma que o projeto ganhou mais visibilidade e alunos mais novos interessados em fazer parte. “Estamos deixando um legado a partir da participação no Criativos. Temos a intenção de incluir mais atividades no projeto, que agora faz parte do calendário fixo da escola e expandir para o ensino fundamental.”
Projeto: “Filtropinha: dos resíduos aos recursos”
“Com o prêmio, compramos uma impressora 3D mais avançada para confeccionar os filtros e investimos no quilombo com caixas d’água para o tratamento da manipueira. Além disso, construímos uma horta comunitária”, conta o professor Gustavo Bezerra, da Escola Técnica Estadual Paulo Freire, Carnaíba (PB). Para ele, a inclusão de práticas sustentáveis nas casas de farinha do quilombo foi um retorno direto das pesquisas dos alunos. “Provamos que no interior da Caatinga estamos fazendo pesquisa e ações efetivas nas comunidades tradicionais.”
Projeto: “Protótipo de sistema de reuso de água para a sustentabilidade”
O projeto de reaproveitamento de água no Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, em Codó (MA) ganhou mais equipamentos após o prêmio. A professora Vivian Sousa fala das expectativas daqui para frente. “Produzimos mais canais para captar mais água e continuar com o reaproveitamento de 100% na escola. Assim, a comunidade entendeu a importância desse projeto. Estamos na expectativa de fazer a diferença, firmando parcerias para que outras escolas façam o mesmo.”
Projeto: “ECOTECH nos manguezais”
Márcia Santos, professora do Instituto Federal de Sergipe, em Estância (SE), explicou que o projeto se expandiu para os municípios vizinhos, com o mapeamento de mais trilhas ecológicas e com a formação de professores para replicar o projeto em outras escolas. “O nosso foco é ampliar as trilhas a partir do tripé: escola, como o protagonismo juvenil; a comunidade, pela troca de saberes com as mulheres marisqueiras; e a natureza, como forma de conexão.”
Projeto: “Colocar o coração no ritmo da Terra”
A visibilidade do projeto em Porto Alegre (RS) inspirou outras comunidades a entenderem a importância do Parque Saint-Hilaire. Para a professora Maria Gabriela de Souza, da Escola Municipal Saint-Hilaire, a comunidade se engajou mais no combate às queimadas e ao descarte de resíduos no local. Além disso, elas pretendem levar a mais turmas o projeto com ações artísticas e literárias.
Projeto: “Queimadas no Pantanal”
Além de compartilhar informações práticas sobre como se proteger das queimadas, os alunos da Escola das Águas, extensão da Escola Municipal Rural Sebastião Rolon, em Corumbá (MS), se tornaram referência na comunidade. A professora Stella Gonçalves confirma que o prêmio os levou a realizar sonhos, aprender a usar novas tecnologias e informar a família sobre como cuidar do Pantanal. “Queremos continuar o projeto e produzir um livro infantil de educação ambiental com eles contando sobre como se proteger das queimadas.”
Este ano, a premiação do programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, reconheceu projetos de cada bioma brasileiro: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Os grupos vieram de Manaus (AM), Carnaíba (PE), Codó (MA), Estância (SE), Porto Alegre (RS) e Corumbá (MS). Os projetos apresentaram soluções para transformar a natureza na escola e na comunidade, como a valorização da identidade indígena, o reaproveitamento de água desperdiçada, a preservação de um parque ambiental e o combate às queimadas.