Obras de escritores consagrados como Saramago e Clarice Lispector são oportunidade de aprimorar o percurso leitor com uma literatura potente
Autores consagrados na literatura como José Saramago e Clarice Lispector produziram vasta obra para adultos, mas também têm livros voltados para a infância. Conheça quem são alguns desses outros autores e o que escreveram para as crianças.
Ao entrar em uma livraria e pedir ajuda para escolher um presente para uma criança, em geral as primeiras sugestões do livreiro seriam contos de fadas ou clássicos, em versões bem caprichadas. E se você perguntar sobre livros de autores que você admira que também escreveram para crianças? Afinal, ao explorarem temas universais, obras de grandes autores, sejam clássicos ou contemporâneos, expõem as crianças a diferentes perspectivas e experiências de vida.
Com a divertida linguagem do autor italiano, essa história é sobre três irmãos que recebem de seu pai doente um saco de moedas como herança. Cada irmão corre o mundo para multiplicar a herança como orientou o pai, só que encontram pelo caminho um padre que faz uma aposta: quem ficar zangado primeiro perde o saco de moedas. Quem será que perdeu?
De identidade desconhecida, Elena Ferrante é o pseudônimo da autora (ou autor, não se sabe) responsável pela tetralogia napolitana que começa com “A amiga genial”. Além desse fenômeno literário, Ferrante escreveu o romance sobre maternidade “A filha perdida”, considerado um divisor de águas em sua carreira, também adaptado para o cinema.
Essa fábula sombria trata de temas como abandono e retoma o universo de “A filha perdida” para narrar a interminável noite de sustos e surpresas vivenciada por Celina, uma boneca que é perdida em uma praia.
Era uma vez um homem que trabalhava muito e quase não prestava atenção no tempo que passava diante de seus olhos. Não que sua vida fosse ruim. Ele apenas sentia que tudo ao seu redor estava plano, como se estivesse se movendo na folha de um caderno de matemática inteiramente coberta por quadradinhos iguais e onipresentes.
Senhor Aparecido era um homem muito expressivo. Bastava apenas uma olhada para ele e seu rosto ficarem guardados na memória de qualquer um. Quando descobre o universo das selfies, essa prática se torna uma obsessão. Mas não demora muito até que ele comece a perceber que, com o excesso de exposição, sua face de belos contornos está ficando cada vez menos nítida.
“Antes de construir o primeiro barco, o homem sentou-se na praia a olhar o mar”. A frase abre essa narrativa recém-lançada aos pequenos leitores. Frente ao oceano, é sempre necessária uma dose de ousadia e força para que a aproximação seja bem-sucedida. E, nas palavras de José Saramago, este encontro se torna ainda mais sublime. O texto foi originalmente publicado no livro “Cadernos de Lanzarote II”, de 2014, com o título “Prefácio para um livro”.
Em “A maior flor do mundo”, Saramago conta às crianças sobre sua ideia de uma história que poderia ser a mais bonita de todos os tempos se ele tivesse habilidade para escrever a esse público.
O texto, uma das crônicas do livro “A bagagem do viajante”, beira o fantástico, com nuances de ironia, uma das características da escrita de Saramago. No auge da confusão, quando um lagarto gigante aparece no meio de um bairro movimentado, um acontecimento transforma tudo. Cabe ao leitor decidir se depois do ocorrido acredita ou não em fadas.
Um episódio da infância de Saramago, registrado em “As pequenas memórias” (2006), toma fôlego ao se transformar em livro ilustrado. Relançada em 2022, nesta obra acompanhamos a disputa de Saramago menino com um peixe, “que pela sua força, devia ser uma besta corpulenta”, em um dia de pesca no rio Almonda, que banha a aldeia onde viviam seus avós. A voz do menino, resgatada de seu baú de memórias, dialoga com a infância a partir da aventura, da ingenuidade e também de uma pontinha de teimosia.
O convite para acompanhar o tio em uma expedição a pé até Santarém para vender bácoros, pequenos porcos criados pelos avós, se transforma em uma jornada de deslumbramento. Mais uma das crônicas de “A bagagem do viajante” que vira livro ilustrado e nos leva em viagem, dia e noite, guiados pelas estrelas, lendo nas imagens o percurso e o extraordinário a partir do olhar da criança até “aquilo que não tornou mais a acontecer”.
Neste seu livro mais recente, de 2023, a autora propõe um caminho de autoaceitação às crianças, em vez de esconder seus sentimentos mais confusos. O objetivo é falar de acolhimento e elaboração da personalidade. Afinal, saber redirecionar as emoções permite que cada um possa assimilar o convívio em sociedade à medida que crescem.
Depois de testemunhar um ato de racismo numa escola primária do Brooklyn, nos Estados Unidos, quando uma professora leu para as crianças uma história sobre cabelos “ruins”, hooks escreveu seu primeiro livro infantil, em 1999. Além de enaltecer a beleza dos fenótipos negros, exaltando penteados e texturas afro, aproxima crianças negras e não negras à reflexão sobre identidade de maneira afetuosa.
Em “Minha dança tem história”, a autora amplia e ressignifica o leque de possibilidades do que é ser um menino a partir da história de Bibói, um garotinho que arrasa nas batalhas e nas rimas, enquanto descobre quem ele é.
De forma poética, “A pele que eu tenho” abre um diálogo com as crianças sobre raça e identidade e ressalta o perigo que é julgar uma pessoa no primeiro olhar.
Depois de uma chuva incessante, um casal vê caído em seu quintal um homem com asas enormes, que acreditaram ser um anjo. Essa presença mexeu com todo o vilarejo.
Neste conto, Gabo narra, de forma lúdica e delicada, como dois irmãos resolvem navegar pelo jorro de luz saído de uma lâmpada quebrada.
Seu primeiro livro infantil passou mais de uma década guardado na gaveta antes de ser publicado, em 1967. A obra conta a história de Joãozinho, um coelho branco muito esperto. De tanto farejar ideias com seu focinho inquieto, Joãozinho inventou uma que iria dar o que falar: fugir da casinhola de grade de ferro sempre que esquecessem a sua comida.
Publicado originalmente em 1968, é um livro sobre perdas, animais e sobre uma mãe que não tem medo de falar a verdade. Clarice deixou os peixinhos de seu filho morrerem de fome, admite sua culpa e está pedindo perdão. Seria tudo muito simples se essa não fosse uma história para crianças. Nesta edição, as ilustrações são de Mariana Valente, neta de Clarice Lispector.
No conto, a galinha é apresentada como um ser que “tem muita vida interior” e, sobretudo, um “disfarce do ovo” – símbolo do mistério da existência. Como de costume, Clarice vai nesta obra descortinar junto às crianças leitoras o mistério existente sob a vida cotidiana. Tudo a partir do pequeno universo de Laura, uma galinha muito simpática, de pescoço bem feio, casada com um vaidoso galo chamado Luís.
Lançado postumamente, esse título é narrado, ou melhor, “latido”, por Ulisses. Nesta homenagem da escritora ao seu cachorro vira-lata, conhecemos a história de uma figueira invejosa que traça um plano para obrigar as galinhas a colocarem ovos continuamente. Com toques de metalinguagem e um forte conteúdo político, abordado de forma lúdica e bem-humorada, a autora provoca os pequenos com “uma história que até parece de mentira e até parece de verdade”.
Para cada mês do ano, uma lenda ou um conto retrata tradições da cultura brasileira e dos povos originários, com a participação de personagens do folclore, como a sereia Iara, o Curupira e o Saci-Pererê. A história que dá nome ao título conta como, em uma aldeia, travessos curumins deram origem a “gordas estrelas brilhantes”. Apesar das fábulas terminarem com um aprendizado, em uma delas, Clarice alerta: “Será que a moral desta história é que o bem sempre vence? Bom, nós todos sabemos que nem sempre. Mas o melhor é a gente ir-se arranjando como pode e dar um jeito de ser bom e ficar com a consciência calminha.”
A obra reúne os talentos da poeta e ativista Maya Angelou e do artista gráfico Jean-Michel Basquiat. Dois artistas com histórias de vida sofridas e infâncias problemáticas, mas que nunca se deixaram intimidar. Não importa qual obstáculo apareça no caminho, você sempre pode encontrar forças para superá-lo. O livro, publicado originalmente há 30 anos, chegou ao Brasil apenas em 2018. Neste mesmo ano, o país recebeu pela primeira vez uma mostra individual de Basquiat.