Maternidades em luta: 15 coletivos de mães que lutam pelo futuro

O Brasil possui 67 milhões de mães, que representam 32% do país. Reunimos 15 coletivos de mulheres focados em maternidade que lutam pelo direito à vida

Renata Penzani Publicado em 08.05.2019 Atualizado em 23.04.2023
Coletivos de mães: Foto em preto e branco de uma mulher com um cartaz levantado escrito: Meu filho não será estatística, e com a bandeira LGBT em suas mãos.
OUVIR

Resumo

Segurança, saúde, respeito. São inúmeras as pautas da existência de um sujeito neste mundo. Todas elas fazem parte das preocupações de uma mãe que luta. Conheça 15 coletivos sobre maternidade para acompanhar e apoiar.

“Estamos diante de um homicídio massivo de meninos pobres e negros“, “Atlas da Desigualdade alerta: 16 milhões de meninas nunca irão às escolas“: essas são manchetes publicadas pelo Lunetas. O que elas têm em comum? Por trás das notícias e números, há incontáveis mães e coletivos de mães em desespero por seus filhos.

Neste mês das mães, em que a publicidade e até mesmo as floriculturas do bairro estão atentos a essa figura de afeto, relembramos uma faceta menos romantizada da maternidade. Por isso, é ainda mais digna de nota: a luta e resistência das mães trabalhadoras que se unem para salvaguardar a vida das suas crias. Para honrar a coragem de mulheres que defendem direitos básicos de crianças e adolescentes no Brasil, mapeamos alguns coletivos de mães para apoiar e acompanhar o ano todo.

Luta e a busca por direitos

Afinal, quando falamos de garantir os direitos da criança, estamos falando, também, de garantir que os adultos de referência dessa criança tenham possibilidade de ter uma vida estável para oferecer o mesmo aos seus filhos. São eles que farão escolhas por sua vida – onde vão morar, o que vão comer, quando vão brincar, etc. No Brasil, enquanto não atingirmos a tão almejada igualdade de gênero, capaz de colocar o pai também na posição de responsabilidade pela criança, essa figura ainda é prioritariamente a mãe.

Os dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), do IBGE,  mostram que mulheres e negras e pardas sem cônjuge e com filhos compõem a parcela da população que mais sofre diretamente a pobreza (64,4%). Ou seja, a pobreza afeta majoritariamente a mãe solo negra e parda.

“Não basta falar que somos importantes para a sociedade e não garantir o mínimo que necessitamos. Não basta falar que nossos filhos e filhas são o futuro do país e seguir hostilizando as mães trabalhadoras”, diz o texto de apresentação do coletivo Mães na Universidade. “Nenhum elogio pode substituir nossos direitos, pois apenas a garantia efetiva de nossas vidas de nossas crianças pode significar um apoio concreto”, finaliza.

Quem faz parte desses grupos?

Em sua maioria, os coletivos de mães são organizações independentes, feitas na unha e na coragem, por mulheres que trabalham para preencher lacunas de políticas públicas, e transformar realidades que diariamente violam a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no que diz respeito ao direito à segurança, alimentação, moradia, entre outros.

“Não aceitaremos mais a invisibilidade, enquanto nossas crianças arcam com os tipos mais cruéis de violência, como a morte por armas de fogo”

“Mulheres mães e crianças estão excluídas de participação política, economia e social, em uma sociedade que pouco tem feito para melhorar as condições de vida desses dois grupos. Nós, as mães, somos um terço da população do país. Somos responsáveis por toda a reprodução e manutenção de vidas humanas. E, muitas vezes, responsáveis sozinhas por nossos lares, e relegadas ao esquecimento nos espaços de poder”, afirma Anne Rammi, parte do coletivo Política é a Mãe e idealizadora do Mamatraca.

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Fonte: Constituição Federal/1988)

 Confira a lista de coletivos de mães

  • 1. Mães de Maio

Em maio de 2006, após um massacre ocorrido na Baixada Santista, um grupo de mães se reuniu para transformar seu luto em luta. Em 2018, uma das fundadoras do Movimento Mães de Maio, Vera Lúcia Gonzaga dos Santos foi encontrada morta em casa. O lema “Nossos mortos têm voz”, hoje absorvidos por uma série de outros movimentos sociais, passou a ser difundido a partir daí.

  • 2. Mães pela Diversidade

Há mais de cinco anos, durante a Parada LGBT de São Paulo, a linha de frente é formada por mães de homossexuais, bissexuais e transsexuais. O objetivo é formar uma espécie de barricada de proteção contra a violência. O Movimento Mães pela Diversidade tem como objetivo pautar o respeito e aceitação, lutando em família contra a LGBTfobia. Em sua página no Facebook, o projeto divulga notícias ligadas à causa e recebe sugestões de cidades que queiram se aliar a essa luta.

  • 3. Política é a mãe

O Política é a Mãe é um coletivo fundado em dezembro de 2018 por mulheres auto-organizadas em torno de pautas que priorizam a maternidade e a infância. O coletivo de mães tem como pilares a pró-democracia, a garantia dos direitos humanos, redução da desigualdade, protagonismo das mulheres mães e crianças como prioridade. Atualmente, o grupo organizou uma petição online contra a flexibilização da posse de armas, e pela revogação do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.

  • 4. Nana – Maternidade Preta

Visibilidade, cor, ancestralidade e maternidade. Esses são os quatro pilares que sustentam o coletivo de mães Nana – Maternidade Preta, que luta contra o racismo estrutural e a favor da representatividade na criação dos filhos. “O Nana é alimentado por Nós, Mães, Pretas e Reais preocupadas com a representatividade cotidiana das n questões pertinentes ao nosso mundo!”, diz a descrição da página no Facebook.

  • 5. A mãe preta

Idealizado pela nossa colunista, a socióloga Luciana Bento, o projeto A mãe preta é um site e uma página no Facebook, que abordam temas relacionados à criação de filhas e filhos negros em um país submetido diariamente ao racismo estrutural. Mãe das pequenas Aísha e Naíma, Luciana escreve sobre literatura, maternância e os impactos do racismo na infância.

  • 6. Milc (Movimento Infância Livre de Consumismo)

Desde 2012, o Milc trabalha pela regulamentação da publicidade infantil. Como? Sensibilizando a sociedade civil, o poder público e privado sobre o uso das telas na vida das crianças. Fora do ambiente online, o grupo tem presença pontual em eventos relacionados ao tema.  Além disso, é frequentemente é convidado para debater em eventos sobre sustentabilidade, consumismo e publicidade infantil. Acompanhe a página da iniciativa no Facebook.

  • 7. Mães da Sé

Criada em 1996, a Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD) surgiu da iniciativa de duas mães de crianças desaparecidas, Ivanise Esperidião da Silva e Vera Lúcia Gonçalves. O objetivo foi criar uma entidade que atuasse em busca de soluções para um problema que atinge milhares de famílias no país: o desaparecimento de crianças. Hoje, a organização é conhecida como Mães da Sé.

  • 8. Parent in Science

Quantas mães você conhece que aliam a carreira acadêmica com a maternidade? Para lutar pelos direitos dessas mulheres, nasceu o projeto Parent in Science, uma iniciativa da pesquisadora Fernanda Staniscuaski, do Rio Grande do Sul. A luta do movimento é fortalecer os direitos das mulheres e evitar comparações com homens, que conseguem produzir mais.

Image

Movimento Infância Livre de Consumismo

O Movimento Infância Livre de Consumismo (Milc) realiza diversos encontros para sensibilizar mães e pais sobre a questão do consumo, como feira de troca de brinquedos e piqueniques

  • 9. Mamães na Pós-graduação

“Conciliar maternidade e pós-graduação é extremamente difícil, quase insano, mas é possível desde que haja uma rede de apoio. Foi vivenciando isso e me sentindo cada vez mais solitária que criei o grupo no Facebook chamado Mamães na Pós-graduação. Mesmo que virtualmente, me senti amparada e o peso diminuiu”, diz Vanessa Clemente Cardoso, historiadora e professora.

O grupo Mamães na Pós-graduação tem atualmente mais de mil mães cientistas das mais diversificadas instituições de ensino superior brasileiro, dentre elas: UnB, UFRJ, UFG, USP, UFRN, UFBA, etc. Muitas contam seus relatos de superação, suas dificuldades, choram seus medos, suas dores e comemoram sua vitória. “É maravilhoso saber que não estou só e que tem muitas mulheres espalhadas pelo Brasil lutando diariamente contra as adversidades. Entretanto é triste constatar que nós, mães, somos negligenciadas deliberadamente. Eles sabem que existimos! Nós incomodamos! A universidade não foi pensada e criada para as mulheres. É muita ousadia querer ser cientista, ousadia maior ainda querer ser mãe e cientista.

  • 10. Mães de Manguinhos

Um movimento independente formado por mães da comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Formado por mulheres que têm seus filhos encarcerados ou que foram assassinados. Na página do Facebook, elas trocam denúncias e informações sobre a violência em Manguinhos, na zona norte da capital carioca. O canal funciona também como centralizador de manifestações e levantes organizados pelas mães.

  • 11. Rede de Mães e Familiares da Baixada Fluminense

“Nossos mortos têm voz” é um dos lemas do movimento, criado a partir da Chacina da Baixada, que ocorreu em 2005. O objetivo da Rede de Mães e Familiares da Baixada Fluminense é formar um canal de articulação de mães e familiares diante da violência de Estado, por meio de ações de valorização da justiça e da memória.

  • 12. Mães da Periferia Porto Alegre

A organização reúne mulheres que estão em busca de condições coletivas para solucionar crises nas regiões periféricas de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. O coletivo tem o objetivo de atuar em locais invisibilizados pelo poder público de forma ativa. Para isso, a educação popular com qualidade é uma das maiores lutas desse grupo de mães. Mas também movimentam iniciativas para proporcionar cultura, esporte e lazer às crianças dessas localidades.

  • 13. AMPARAR – Associação de Amigos/as e familiares de presos/as

“O sofrimento compartilhado entre familiares e presos é naturalizado por já compor o cenário cotidiano de moradores das periferias”. É nesse contexto que foi criada a AMPARAR, que tem como missão a defesa dos direitos humanos de jovens e adultos encarcerados ou egressos do sistema penal.

  • 14. Põe no Rótulo

Coordenado por Cecilia Cury, Ana Maria Alvarez Melo e Fernanda Mainier Hack, o projeto trabalha para garantir rótulos com informações mais claras. Dessa forma, tem se destacado por sua atuação no processo de construção da legislação de alergênicos no Brasil, e encabeçou uma conquista histórica junto à Anvisa. Em 2019, o Põe no Rótulo lança a iniciativa Alergia Alimentar Brasil, para ampliar a conscientização sobre a alergia alimentar e avançar na conquista de políticas públicas que aumentem a segurança e inclusão das pessoas que convivem com este tema segue com as ações voltadas à promoção do direito à alimentação adequada.

  • 15. A Equipe de Base Warmis-Convergência das Culturas

A Equipe de Base Warmis-Convergência das Culturas, de São Paulo, é formada por mulheres imigrantes voluntárias que se reúnem para discutir ações de transformação da comunidade, tendo como preocupação central a igualdade de oportunidade para todos. A maternidade perpassa as discussões do grupo, entendendo as particularidades de ser uma criança imigrante diante de um contexto de discriminação e violência étnica. “Todas as violências que possa sofrer uma mulher as sofrem as mulheres migrantes”, diz uma das publicações da página. Ela referencia uma entrevista com a jornalista especializada em migrações Eileen Truax.

Leia mais

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS