Vencedores do Prêmio Criativos: Escola + Natureza apresentam projetos de impacto em seus territórios e poderão ampliar as atividades na comunidade escolar
Estudantes e educadores do Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa, Mata Atlântica e Amazônia que venceram a premiação vão participar de formações, receber 12 mil reais para ampliar seus projetos e participar de atividades ligadas à COP30.
O tema “Ideias para um mundo mais verde” mobilizou mais de 60 mil estudantes envolvidos nos projetos que concorreram ao Prêmio Criativos: Escola + Natureza. Mais de 90% deles eram de escolas públicas. Os seis vencedores trazem propostas de ações educacionais voltadas para a sustentabilidade e cultura originária dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
O convite a olhar para os próprios territórios levou meninos e meninas a “perceber problemas ambientais, criar soluções criativas e se reconhecerem como parte da natureza”, conta Ana Claudia Leite, especialista em educação e culturas infantojuvenis do Instituto Alana. Os projetos premiados abordam o fomento à arte e cultura dos povos originários, disseminação da literatura indígena e afro-brasileira, conscientização ambiental e produção de ferramentas para práticas sustentáveis.
Para a decisão, os jurados consideraram: protagonismo dos estudantes, potencial de transformação ambiental, empatia e solidariedade, criatividade e trabalho em equipe. Cada grupo receberá o valor de R$ 12 mil para ampliar as ações na comunidade e participará de uma jornada de encontros on-line para trocar experiências entre educação e natureza.
Além disso, os grupos poderão participar de atividades ligadas à 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). “Essa participação é mais do que um reconhecimento. É um chamado à escuta e à ação. Crianças e adolescentes já vivenciam os impactos da crise climática em seus territórios e estão criando soluções a partir dessas realidades”, ressalta Ana Cláudia Leite.
Para ela, essa mobilização é urgente, pois a crise climática impacta as infâncias de maneira desproporcional. “Segundo o Unicef, quase metade das crianças do mundo vive em condições de risco climático extremamente elevado. Embora elas sejam 33% da população global, ainda não são consideradas na maioria das decisões que mais impactam suas vidas.”
Depois de uma aula prática sobre ervas medicinais, os alunos pediram à professora de biologia Márcia Gomes para saber mais sobre o assunto. Então, as turmas do 3º ano do ensino médio, do Instituto de Educação da Amazônia (IEAM), em Manaus, passaram a pesquisar sobre a cultura dos povos originários em atividades pedagógicas com o projeto “Diálogo com a natureza”.
“Eles estudam sobre as etnias, suas culturas, as lutas e como é a relação com a natureza e as práticas de sustentabilidade”, explica a professora. “Essas atividades aumentam os conhecimentos dos alunos não-indígenas e valorizam os que são indígenas. Estão envolvidos estudantes munduruku, tikuna, mura e kokama, que não têm mais vergonha de falar de suas identidades, pois agora andam com grafismos e acessórios de seus povos”, ressalta. “Temos o cuidado de não cometer apropriação cultural. Por isso, vamos atrás dos representantes indígenas para saber se está tudo certo.”
Hoje, o projeto faz parte do calendário pedagógico da escola. No início do ano letivo, as turmas sorteiam as etnias que pesquisarão. Em abril, mês dos povos originários, começam as exposições. Depois, acontecem rodas de conversas com pesquisadores e representantes indígenas. O projeto finaliza com os jogos indígenas no mês de setembro.
Durante a produção de farinha de mandioca na comunidade quilombola Caroá, em Carnaíba (PB), as casas de farinha descartavam um líquido chamado manipueira, que contém substâncias tóxicas, como o ácido cianídrico, que contaminam a natureza.
Ao ouvir esse relato dos alunos do 2º ano do ensino médio, da Escola Técnica Estadual Paulo Freire, os professores Gustavo Bezerra e Carla Nascimento elaboraram o projeto “Filtropinha”. A proposta é produzir filtros em impressora 3D, com cascas de fruta-pinha e carvão ativado. O equipamento ajuda a reduzir a toxicidade da manipueira e mobiliza os estudantes a conectar o conhecimento tradicional à ciência.
“Alguns alunos têm familiares trabalhando nas casas de farinha. Então, os impactos são diretos porque, além de se sentirem protagonistas por enxergarem uma problemática e darem uma solução, contribuem para melhorar as condições de trabalho nesses lugares”, ressalta Gustavo.
Com o prêmio, o grupo pretende implantar efetivamente os filtros nas casas de farinha do quilombo. “Fizemos testes filtrando dois litros de manipueira, mas a comunidade produz mais de cinco mil litros. Portanto, precisamos aumentar a escala desse estudo e vamos usar o incentivo do prêmio para isso”, conta. “Vamos investir em equipamentos e dar o reconhecimento para a comunidade”.
Ao perceber a quantidade de água desperdiçada nos bebedouros do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, do campus Codó, alunos do ensino médio, junto com a professora Vivian Sousa, planejaram um protótipo de sistema de reuso de água. Para isso, firmaram parcerias com empresas locais e organizaram atividades para ensinar outras pessoas.
Unindo os conhecimentos de ciências e robótica, eles iniciaram a planta e o protótipo desse sistema que inclui captação, filtragem e redistribuição da água para usos não potáveis, como irrigação e descarga de sanitários.
“Queremos expandir o sistema até a horta da escola, que produz alimentos e ervas. A intenção é também aproveitar a água na confecção de itens como desinfetantes, sabões e amaciantes”, conta a professora.
O sistema já está parcialmente implantado e utiliza sensores, energia solar e materiais acessíveis. O objetivo é pensar e agir de forma sustentável dentro da comunidade escolar. “Nosso grupo pretende ampliar o sistema com um filtro robotizado. Também pensamos em confeccionar pastilhas purificadoras para uso doméstico em comunidades com acesso limitado à água potável”, conclui Vivian.
“Conhecer para pertencer” é o lema do projeto Ecotech, de estudantes do 2º ano do Ensino Médio do Instituto Federal de Sergipe, campus Estância. Eles produziram um documentário sobre o mapeamento de trilhas ecológicas de ecossistemas ameaçados da região, como os manguezais e as restingas, essenciais para o bioma.
O grupo visitou as comunidades tradicionais, mapeou as trilhas, organizou eventos educativos e criou um aplicativo de informação sobre as trilhas e conteúdos socioambientais. Também elaboraram um livro de receitas tradicionais da região com ingredientes típicos, como o aratu, o maçunim, a ostra, o camarão e a mangaba, o que impactou a valorização dos conhecimentos tradicionais, especialmente os das marisqueiras e dos pescadores artesanais.
“As escolas são espaços essenciais para essa troca, ao fortalecer a identidade dos adolescentes e contribuir para a valorização dos ecossistemas locais a partir do aprendizado ao ar livre. As ações do Ecotech têm grande capacidade de serem replicadas em outros territórios”, diz a professora Márcia de Jesus Santos, uma das responsáveis pela orientação do grupo.
Um grupo de meninas da Escola Municipal Saint-Hilaire, em Porto Alegre, une literatura e ativismo ambiental, com poemas, performances artísticas e debates. Por meio do projeto “Colocar o coração no ritmo da terra”, elas levam para a comunidade escolar a pauta da conservação do Parque Saint-Hilaire, área próxima à escola que sofre constantes queimadas ambientais.
“Os professores e estudantes da escola nunca tinham ido ao Parque Saint-Hilaire. Ou seja, tinham pouco contato com a natureza mesmo vivendo ao lado dela”, conta Maria Gabriela de Souza, educadora responsável pelo projeto. “Então criamos esse projeto como forma de reflorestar as mentes das crianças, para que se tornem cidadãs que amam o planeta e conectem seus corações com a natureza.”
Em um vídeo, as alunas apresentam o parque, explicam a importância do lugar e mostram suas atividades artísticas inspiradas em escritores indígenas e negros. O projeto circulou por outras escolas e espaços públicos gerando uma mobilização que fortaleceu as denúncias e levou a uma audiência pública sobre a proteção do parque.
No meio de uma comunidade rural de Corumbá (MS), estudantes do 6º ao 9º ano se transformaram em bombeiros, brigadistas, roçadores e fazendeiros em um vídeo produzido a partir de uma peça teatral autoral. A ideia partiu dos alunos da Escola Municipal Rural Sebastião Rolon – Extensão Nazaré atingidos pelas queimadas do Pantanal.
Junto com seus professores, produziram panfletos informativos distribuídos na comunidade. O grupo também escreveu o roteiro da peça. O texto explica os impactos das queimadas, o que os moradores podem fazer para evitá-las e onde procurar ajuda. Dessa forma, o projeto alia a expressão artística à educação ambiental.
“O Pantanal é um dos biomas mais diversos do mundo, e também um dos mais devastados pela ação humana. Portanto, o objetivo foi orientar a população local sobre os impactos das queimadas no Pantanal, especialmente quando áreas de roçado são incendiadas”, explica a professora Stella de Souza.
* O prêmio Criativos + Natureza é promovido pelo programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, com apoio da Undime e do Greenpeace Brasil.