Pesquisa investiga mudanças vividas por famílias na pandemia

A partir de entrevistas com pais e mães de todo o Brasil, o estudo busca entender os comportamentos das famílias em relação às crianças em tempos de covid-19

Da redação Publicado em 16.06.2021
Famílias na pandemia: Uma mãe segura seu bebê no colo. Ela usa máscara. Ao fundo, há uma estante de livros
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Resumo

Pesquisa investiga alterações nos comportamentos das famílias brasileiras em relação a crianças de 0 a 3 anos em tempos de pandemia.

A fim de investigar de que maneira a chegada do novo coronavírus afetou as dinâmicas familiares de cuidado e desenvolvimento da criança pequena, bem como a percepção de pais e responsáveis sobre a relação com as crianças, o estudo “Primeiríssima infância – interações na pandemia: comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de covid-19“, lançado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, trouxe achados importantes sobre estas interações em eixos como pandemia, educação, hábitos e estímulos. 

Participaram da pesquisa 1.036 homens e mulheres de todo o Brasil, entre 16 e 65 anos, que representam as classes A, B, C e D. O questionário abordou quatro esferas: o espaço familiar, a rede de apoio, os aspectos ligados ao trabalho de pais e mães, e o acesso a serviços básicos de educação, saúde e assistência social.

“Nós sabíamos que em um momento delicado como esse, as crianças poderiam estar expostas a situações atípicas capazes de impactar o seu desenvolvimento. Foi por isso que decidimos realizar o estudo, que mostra de que maneira a chegada do coronavírus afetou as dinâmicas familiares de cuidado e desenvolvimento da criança pequena, bem como a percepção das famílias sobre sua relação com as crianças”, explica Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Conheça alguns pontos impactados pelo isolamento social:

  • Sentimentos de sobrecarga materna

A classe D se sente mais triste, ansiosa, sobrecarregada e exausta durante o isolamento: 23% se declararam tristes contra a variação de 7% a 11% em outras classes sociais; 34% das mães se declararam sobrecarregadas, contra 19% dos pais; e, em relação à exaustão, o percentual é de 36% das mães e 15% dos pais.

“Não há um único motivo para isso, mas o fator financeiro é, com certeza, um ponto de atenção, porque essas pessoas se sentiram inseguras em relação à renda familiar”, explica Eduardo Marino, diretor de Conhecimento Aplicado da Fundação. Em relação à sobrecarga, Mariana Luz reflete sobre o acúmulo de funções das mulheres. “Histórica e culturalmente, o cuidado com a criança é uma tarefa que recai muito sobre a mãe. Isso foi visto ao longo da sociedade, nos mais diferentes momentos, e ainda hoje é um marcador, uma desigualdade que impacta outros aspectos da vida.”

  • Aumento no tempo de convivência com os filhos

Especialmente nos segmentos de classe e educação mais elevados, o confinamento pode ter possibilitado maior tempo de convivência dos pais com as crianças durante a pandemia, em relação àqueles de situação intermediária. Segundo a pesquisa, 51% da classe AB1 teve mais tempo e boas oportunidades de convivência e 52% da classe D relatou que não houve alteração no tempo de convivência.

Considerando a totalidade de entrevistados, sem separação por classe social, 51% relataram ter mais tempo de convívio com a criança. Destes, 39% tiveram mais tempo e boas oportunidades e 12% tiveram mais tempo, mas dificuldades para conciliar com outras obrigações. No recorte, as mães têm mais dificuldades para conciliar a convivência com a criança com outras obrigações (21%) contra 11% entre os pais. Para 33% dos pais e 39% das mães, não houve alteração no tempo com a criança.

Os dados indicam aspectos nos quais a relação entre pais/cuidadores e crianças podem ser fortalecidas ou precisam ser reorientadas. 

  • Regressão no comportamento das crianças

27% dos cuidadores relataram que a criança apresentou algum tipo de regressão no comportamento. Além disso, houve um aumento na porcentagem de cuidadores que relataram que a criança utilizou videogames, celulares e tablets durante a pandemia, contra 16% antes do isolamento.

As crianças da classe D são as que mais realizam atividades sozinhas (64%). Destas, 25% assistem desenhos e filmes na TV, celular ou computador e 39% brincam sozinhas. Elas também brincam menos com os adultos (13%), enquanto nas outras classes esses números variam de 29% a 33%, em comparação às mesmas atividades.

  • Relação entre famílias e unidades educativas

Mais de 85% dos respondentes de todas as classes sociais que tinham filhos na creche mantiveram contato com as unidades durante a pandemia, mesmo com as escolas fechadas. Na maioria das vezes, as principais razões para isso foram para compartilhar orientações sobre atividades escolares (86%), receber orientações sobre prevenção do contágio (82%) e ajuda para enfrentamentos da pandemia – cestas básicas e máscaras (70%).

A classe D é o grupo que apresenta maiores porcentagens em relação a nunca terem recebido orientações da escola para realizar atividades com a criança (21%) e sobre prevenção do contágio (29%).

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