6 caminhos para incentivar a autonomia das crianças

Mais do que atividades ou cartilhas prontas, a busca por autonomia pede respeito ao tempo da criança e ambientes favoráveis para o seu pleno desenvolvimento

Da redação Publicado em 30.09.2021
Foto de um menino negro, sorrindo, de braços abertos, como se estivesse voando ilustra o tema da autonomia das crianças.
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Resumo

Vestir-se, lavar a louça, arrumar o quarto, dar comida aos bichinhos: quem tem criança em casa sonha com o dia em que ela não precise mais gritar “manhê” ou “paiê” para fazer isso ou aquilo. Incentivar a autonomia é um ato de amor às crianças e aos adultos.

Muitas vezes, por vontade de cuidado ou para evitar frustrações, pode ser que pais, mães, avós, professores e cuidadores interfiram nas ações das crianças, especialmente naquelas que elas já têm condições de executarem sozinhas. Esse excesso de zelo impacta na conquista de autonomia das crianças, isto é, o impulso de desenvolver atividades por si, a partir de seu interesse e vontade, não apenas de acordo com um determinado comando. Quando interrompidas, as crianças recebem a falsa mensagem de que precisam esperar por ajuda para realizar seus movimentos, desencorajando a autoconfiança. 

Embora as crianças precisam de espaço e respeito para alimentar o senso de direcionamento interno e a percepção do próprio valor, ser autônomo não é sinônimo de indisciplina. Pelo contrário, os adultos ajudam, por diversos meios, a conscientizar os pequenos sobre a vida, sobre suas responsabilidades em relação a si, à casa e à natureza, compreendendo as consequências de suas ações. 

Por isso, o Lunetas preparou seis passos para refletir e ajudar as crianças em sua busca por autonomia. 

Como auxiliar a autonomia das crianças?

  • 1. Respeitar o tempo da criança

Respeitar o tempo da criança inicia pela compreensão de que cada ser humano, apesar de passar pelos marcos do neurodesenvolvimento em intervalos de idade específicos, é único em seu processo de conquistas físicas, intelectuais, emocionais, sociais e espirituais. Um exemplo é pensar que engatinhar é uma atividade saudável e que deve ser estimulada, mas não é uma fase obrigatória, já que algumas crianças apresentam variações fisiológicas e passam a caminhar antes ou depois do esperado. 

Mas também esse respeito está relacionado a não intervenção dos adultos em tarefas que a criança acredita que pode realizar sozinha. Seja amarrar o tênis, encaixar blocos de brinquedo, preparar um lanche: mesmo que haja desafios, é interessante observar e permitir que elas conquistem os próprios resultados. Isso não significa, obviamente, deixar os pequenos se machucarem ou se envolverem em atividades de grande risco, mas é uma maneira de oferecer condições favoráveis para que eles floresçam com independência e liberdade. O olhar de autonomia e desenvolvimento natural, com respeito ao tempo de aprendizado e oferecendo valor às iniciativas, é uma das bases da abordagem Montessori. 

  • 2. Envolver as crianças nas tarefas do lar

É um pouco ilusório esperar que as crianças, logo de cara, se interessem ou se ofereçam a ajudar nas atividades da casa. Em muitos casos, é preciso persistência para envolvê-las, porque essa ação também exige disposição por parte dos adultos. Basta imaginar que, quando ensinamos uma criança a dobrar suas roupas, secar a louça ou varrer o quarto, os minutos podem se desdobrar para além do esperado e resultar em alguns pratos quebrados ou em lixo debaixo do tapete. Os benefícios, no entanto, serão gradativamente sentidos por todos ao redor.

Famílias podem enxergar o lar como um ambiente educativo, como aponta a psicóloga psicoterapeuta familiar Thaís Olímpia Bernardes. Copiar uma lista de mercado, cortar as cebolas ou arrumar a mesa: o essencial é a presença – que torna o aprendizado um momento de afeto – e o estabelecimento de rotinas, que construam responsabilidade. A partir dos dois anos, as crianças já podem participar de algumas rotinas, como as que envolvem alimentação, interação ao redor da mesa e guardar os próprios brinquedos. 

De acordo com Thaís, a criança precisa se sentir parte, entender que consegue fazer e que está colaborando. Isso faz com que uma simples tarefa como arrumar a própria cama signifique cuidar das próprias coisas e da casa enquanto um ambiente coletivo e compartilhado. Esse direcionamento impulsiona o desenvolvimento da autonomia, responsabilidade e solidariedade. 

  • 3. Conversar sobre o sentido da ação

A comunicação é fundamental em qualquer fase do desenvolvimento das crianças e vai muito além das palavras. No entanto, quando se trata de fazê-las entender o significado de suas escolhas, é fundamental que haja um diálogo aberto de apoio. Em muitos casos, as crianças podem perceber as consequências de uma determinada ação quando se deparam com resultados inesperados, como, por exemplo, se o cachorro destrói aquele brinquedo que os pais pediram para ela tirar do quintal e guardar. 

Mas também é possível, dependendo da idade e da dinâmica de cada família, incentivar decisões próprias. Quando se trata de mediação parental para o consumo de mídias, os adultos podem combinar com as crianças que elas gerenciem o tempo de tela disponível: se elas escolhem, movidas pela ansiedade, gastar o “saldo” com um conteúdo não tão interessante, elas devem saber que não poderão assistir um desenho animado mais tarde com os irmãos. Assim, podem refletir melhor sobre as escolhas nos dias seguintes. A ideia não é desmotivar, muito menos punir as crianças, e sim conversar sobre as experiências, fortalecendo vínculos. 

Momentos muito simples como pentear os cabelos, amarrar os sapatos ou escovar os dentes, que geralmente precisam de alguma direção inicial dos adultos, podem se tornar oportunidades lúdicas ou de afeto que fortaleçam as relações, até que as crianças “peguem o jeito” e façam por conta própria. 

  • 4. Criar ambientes confortáveis para sua atuação

Imagine tentar escolher suas roupas diárias sem alcançar gavetas, prateleiras e cabides. Se o filtro de água está sobre a pia e os copos em armários próximos ao teto, como as crianças irão se aventurar a matar a sede sem chamar algum adulto? Para incentivar as crianças a se envolverem nas decisões sobre o universo ao seu redor, ganhando autonomia, os adultos podem assegurar um ambiente mais confortável para o seu desenvolvimento. Quando elas começam a se vestir, os adultos não precisam, logo de cara, pedir para que escolham suas roupas por completo, mas podem começar dando três ou quatro opções para dias quentes ou frios, até que elas se acostumem e consigam decidir por si mesmas.  

As crianças ganham confiança quando se deparam com objetos do seu tamanho, possíveis de serem carregados por elas, onde possam se sentar ou manipular sem grande dificuldade. Uma opção é deixar à disposição cadeiras e mesas pequenas, gavetas e prateleiras baixas, além de objetos de necessidade pessoal a seu alcance, para que encontrem segurança e conquistem algum grau de liberdade.   

  • 5. Brincar livre na natureza

Crianças fantasiam e criam o mundo a todo o momento. Brincar é sua linguagem mais genuína e quando há liberdade nessa ação, grandes conquistas são alcançadas. Brincando, as crianças assumem papéis, desafiam umas às outras, estabelecem lideranças sem a tutela e a centralidade dos adultos, fazem escolhas e lidam com suas frustrações. Oferecer a elas a oportunidade de se expressarem ao ar livre, em meio à natureza, traz inúmeros benefícios: além de refúgio para momentos de solitude, introspecção ou descanso, espaços verdes proporcionam habilidade física, equilíbrio e agilidade. 

A natureza não deve ser entendida como perigosa ou assustadora, mas parte da essência da criança. Correr e tropeçar em troncos de árvores, perceber que insetos morrem ao serem caçados e retirados de seus ambientes, escolher deitar na grama depois da correria: o brincar livre é uma das chaves de conquista de autonomia e encantamento. 

  • 6. Proporcionar atividades lúdicas e sensoriais

Apesar da liberdade conquistada na ação do brincar, também é possível incentivar atividades com algumas regras para que as crianças tentem segui-las, com atenção direcionada e cheguem a um objetivo final. Muitas vezes, esse objetivo está implícito no objeto, como, por exemplo, o encaixe de legos ou cilindros. A criança pode levar dez minutos ou dez dias, mas ao notar a incompatibilidade nas cavidades, buscará por meios próprios, vai identificar os erros e evoluir. O corpo, nesse sentido, começa a criar a memória de que é capaz de solucionar problemas. 

Em casa ou na escola – grande protagonista da educação da criança e do incentivo pela busca de autonomia – os adultos podem se aliar a ferramentas e brincadeiras que envolvam iniciativas. Jogos de tabuleiro são sempre uma boa ideia: eles instigam as crianças a construir pensamentos proativos, criar estratégias e tomar decisões que podem levá-las à perda (lidando com frustrações) ou à vitória (celebrando suas escolhas). Seja qual for o resultado, elas estão tendo experiências valiosas.

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