Os benefícios da robótica educacional para crianças nas escolas

Estudantes e professores contam como melhoraram o desempenho escolar e a socialização a partir da aprendizagem de novas tecnologias e programação

Célia Fernanda Lima Publicado em 26.08.2024
imagem de capa para matéria sobre robótica educacional mostra dois adolescentes montando um equipamento eletrônico em um laboratótio escolar
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Resumo

Nas aulas de robótica educacional, estudantes usam novas tecnologias, fomentam o conhecimento em outras disciplinas e desenvolvem habilidades sociais. Cada vez mais presente em sala de aula, a matéria deve fazer parte do currículo escolar brasileiro.

A robótica está presente na rotina de muitas crianças – dos carrinhos de brinquedo aos controles remotos. Mas, nos últimos anos, passou a fazer parte do currículo das escolas de ensino público e privado do país com as aulas de “robótica educacional”. Considerada uma alternativa para acompanhar o ensino das novas tecnologias, “a robótica é uma tecnologia que está muito mais próxima dos alunos porque eles entendem o conteúdo de maneira prática”, diz Marcelo Gasparin, coordenador de Tecnologias Educacionais da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. 

“Hoje temos aula de robótica a partir do sexto ano do ensino fundamental até o ensino médio. As aulas duram uma hora e meia e estão no currículo de escolas integrais ou no contraturno em escolas regulares.” Em três anos, desde que o estado incluiu cursos completos de robótica nas escolas, mais de 156 mil estudantes já tiveram alguma experiência na área.

Além de materiais didáticos, a secretaria disponibilizou uma plataforma on-line com planos de aula, apostilas, tutoriais e vídeos. Desse modo, crianças e adolescentes aprendem conceitos básicos sobre robótica e dispositivos, teorias da física, os componentes eletrônicos e até as técnicas de montagem dos robôs

“Respeitamos a faixa etária dos alunos. Por isso, no ensino fundamental, eles têm aulas mais lúdicas, montando robôs em forma de insetos e flores. Já no ensino médio, o conteúdo é mais técnico, no sentido de aprender fazendo.” Segundo Gasparin, se antes os alunos faziam maquetes mais simples, hoje, conseguem desenvolver protótipos com iluminação e movimentos. “É uma evolução natural dos projetos e do interesse dos alunos.”
E os bons resultados entre os alunos que participaram do curso de robótica alcançam também outras disciplinas. “Tivemos um aumento real em quase 10% das notas em língua portuguesa e 12% em matemática.” Para o coordenador, a troca direta entre eles, quando partilham dúvidas e buscam soluções em conversas, acabaram melhorando inclusive a socialização e a concentração dos estudantes da educação especial.

Imagem mostra cinco adolescentes em uma aula de robótica educacional no Paraná. Todos estão em pé ao redor de uma mesa onde há um protótipo de robô.
No Paraná, mais de 156 mil estudantes das escolas públicas tiveram contato com robótica e programação. Os resultados foram a melhora nas notas e mais interação entre os estudantes, principalmente da educação especial.

Aprender a criar, e não apenas a consumir 

Entender, na prática, como funciona um botão de ligar e desligar, um pequeno motor e a programação de um computador é possível também nas escolas públicas do Pará. Os irmãos Jéssica Lima, 12, e Gustavo, 15, já participaram de várias competições e exposições de robótica, tanto na região norte quanto fora do estado, com a equipe de robótica “Pavulagem”. Outra experiência celebrada por eles é a parceria com o Museu Emílio Goeldi, referência em pesquisa e ciência na região, para desenvolver projetos.

Para Jéssica, que está no 8º ano do ensino fundamental, a parte preferida é usar os materiais e fazer a estrutura do robô para montar. “Quando descobri [a robótica], foi uma paixão.” Aluno do 1º ano do ensino médio, a disciplina trouxe para Gustavo “um novo jeito de ver as coisas“. Assim, segundo ele, conseguiu um melhor desempenho também em matemática, física e até artes. “Eu tinha dificuldade com alguns assuntos de cálculos e a robótica, além de ensinar mais sobre tecnologia, me ajudou muito.”

De acordo com o professor Rafael Herdy, coordenador da equipe Pavulagem, o grupo não tem restrições de turma ou idade. “Nossa única regra é que 50% dos participantes sejam meninas. Isso porque o objetivo é valorizar e incentivar a participação feminina na tecnologia e nas ciências.”
Para ele, como a robótica exige colaboração constante e ativa entre os participantes, isso impacta outras áreas de estudo e traz benefícios como mais concentração e uma melhora na autoestima, porque eles se sentem mais valorizados e confiantes. Além disso, há um avanço no pensamento lógico, na capacidade de resolução de problemas e fortalecimento do trabalho em equipe.

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Arquivo pessoal

Os irmãos Jéssica, 12, e Gustavo, 15, fazem parte da equipe de robótica Pavulagem, da rede pública de ensino do Pará. Além de aprender sobre novas tecnologias, eles já participaram de competições em outros estados e melhoraram o desempenho em sala de aula.

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Arquivo pessoal

Equipe Pavulagem é coordenada pelo professor Rafael Herdy, que faz questão de incluir mais meninas no grupo para incentivar a presença feminina na ciência.

Embora o foco da robótica seja as novas tecnologias, os estudantes desenvolvem, consequentemente, habilidades sociais como o trabalho em equipe, a competição saudável e a curiosidade pela inovação. Além disso, alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um dos princípios é fazer com que os estudantes compreendam, utilizem e criem “tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética”.
Assim, de forma geral, praticar robótica na escola junto de seus pares leva os estudantes a deixarem de ser apenas consumidores de tecnologias para se transformarem em criadores e agentes de inovação.

Política educacional garante a robótica nas escolas

Apesar disso, até 2021, apenas 13% das escolas públicas do país tinham atividades de robótica educacional ou programação. O dado é da pesquisa “O abismo digital no Brasil”, do Instituto Locomotiva, que mostrou ainda que 27% dessas escolas não tinham internet para ensino e aprendizagem. Em conclusão, a pesquisa afirmou que o Governo deveria impulsionar mais projetos ligados à tecnologia para aproveitar a conectividade e ampliar as políticas de acesso à tecnologia. 

Desde o ano passado, está em vigor a lei que instaura a Política Nacional de Educação Digital (Pned) em todo o país. O objetivo é promover a inclusão digital com a educação digital escolar e o desenvolvimento em tecnologias da informação e comunicação. A política altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e aponta como dever do Estado a educação digital nas instituições públicas de ensinos básico e superior. No entanto, com a justificativa de que as mudanças na grade curricular das escolas deveriam ser feitas pelo Ministério da Educação, um dos vetos foi para “a inclusão de competências digitais, como aulas de programação e robótica na grade escolar”. Porém, o Congresso Nacional derrubou o veto em dezembro de 2023 e, assim, o ensino de robótica deve compor a grade curricular do ensino fundamental e do ensino médio.

Um dos responsáveis por incentivar o ensino de robótica nas escolas é o Serviço Social da Indústria (Sesi) que mantém, desde 2009, a disciplina no currículo de sua rede de escolas. A metodologia envolve três eixos principais, conhecidos como os “3 Ps”: Pesquisa, Prototipação e Programação. Em uma pesquisa com 2.500 estudantes da rede, comprovou-se um aumento de 6,4% nas notas em matemática, 5% em ciências e 4,5% em linguagem.

Para Marcelo Gasparin, a inclusão da robótica nas atividades escolares traz benefícios para além do aprendizado acadêmico. “Aprender automação ajuda a solucionar problemas do cotidiano porque os alunos podem aplicar de forma direta. Além disso, eles conseguem vislumbrar mais possibilidades de carreiras e conhecimento.”

Gustavo foi um dos estudantes que despertaram para outras profissões relacionadas à tecnologia. “Meu primeiro plano sempre foi ser piloto de avião. Mas agora tenho novos sonhos, como o de ser programador para criar sites, aplicativos e jogos“, conta. Por outro lado, embora ainda não tenha decidido qual área seguir, sua irmã já entendeu que a robótica abre caminhos que ela nunca imaginou percorrer. “Estar na equipe me ajudou com os estudos em física antes mesmo de começar essa matéria na escola”, diz Jéssica. Ela foi a primeira menina de escola pública a ganhar uma medalha de prata nas Olimpíadas de Ciências do Pará.
Já na outra ponta do país, Gasparin percebe como os alunos do Paraná evoluem com a robótica educacional. “Quando o aluno começa a solucionar e a criar por conta própria, quer dizer que deu certo!”

Além de ajudar no desenvolvimento de competências digitais e incrementar o aprendizado de disciplinas como matemática, ciências e física, a robótica estimula as habilidades socioemocionais, promovendo mais autonomia e o protagonismo dos estudantes. De acordo com o Sesi e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem industrial), a abordagem multidisciplinar da robótica educacional traz os seguintes benefícios:

  • estimula o raciocínio lógico;
  • melhora a capacidade de resolução de problemas;
  • desenvolve o trabalho em equipe;
  • fomenta a investigação matemática;
  • eleva a criatividade e comunicação;
  • torna o aprendizado mais atrativo;
  • introduz ao ensino de programação e computação.

Fonte: Sesi / Senai

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