Racismo: 6 livros para lembrar que o mundo é de muitas cores

Crianças que conhecem exemplos positivos de diversidade crescem mais conscientes do preconceito e mais aptas para lutar contra ele

Renata Penzani Publicado em 23.11.2017 Atualizado em 19.04.2023
Parte da capa do livro Zumbi assombra quem um menino de olhos fechados. Ele é negro e tem na cabeça alguns elementos que remetem à cultura afrobrasileira.
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Resumo

Existem pessoas pretas, brancas, amarelas, marrons e outras que são uma mistura de tudo isso. Conheça histórias infantis que valorizam a pluralidade do mundo.

O ano é 2018, mas a reflexão é a mesma desde que o Brasil ganhou status de país: o racismo ainda intrincado nas relações interpessoais, no mercado de trabalho, nas composições sociais e nas estruturas de poder. Considerando a literatura como porta de entrada para a pluralidade do mundo, listamos aqui livros infantis para falar sobre racismo com as crianças. São histórias que discutem o preconceito na sociedade, mas também instigam a praticar um olhar sensível para a diversidade racial.

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Mauricio Negro

Imagem interna do livro “Gente de cor, cor de gente”, do artista gráfico e escritor Mauricio Negro

Afinal, uma infância livre de preconceitos não se faz só de livros que refletem o valor da cultura afrobrasileira e escancaram as situações de racismo, mas também daquelas histórias sobre as relações mais cotidianas. Essas que nos mostram com simplicidade como o mundo tem várias cores, e é preciso celebrá-las.

Por que falar (cada vez mais) sobre isso?


Conversar com as crianças sobre a questão negra no Brasil é tarefa complexa, mas fundamental. Ela passa também por discutir a violência que recai sobre essa população, principalmente porque afeta em cheio a infância de hoje.  Segundo o IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) pesquisa do Unicef em parceria com o Observatório de Favelas, o cenário aponta o homicídio massivo de jovens negros e pobres. De cada mil adolescentes brasileiros, pelo menos três serão assassinados antes de completar 19 anos, e negros são as maiores vítimas, com taxas 2,88 vezes mais elevadas.

Para nossa sorte, a literatura infantil e juvenil está cheia de livros que cumprem bem este papel. São clássicos que atravessam os tempos, como “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado, ou o “O menino marrom”, de Ziraldo – ambos publicados nos anos 80, entre outros tantos. Aqui, listamos obras mais recentes, que mostram como a reflexão sobre o assunto continua urgente, dentro e fora das escolas.

Livros infantis para discutir sobre o racismo

Capa do livro "A cor de Coraline", de Alexandre Rampazo, com imagem de uma menina com cabelos presos, que sorri de olhos fechados.
“A cor de Coraline”, Alexandre Rampazo (Rocco)

“Me passa o lápis cor de pele?”. É essa pergunta que move o livro de Alexandre Rampazo, lançado em 2016. Mas afinal, “cor de pele é uma só?”, questiona a personagem. Ao colocar uma criança negra no centro dessa pergunta, o autor propõe uma reflexão sobre identidade, representatividade, empatia e consciência sobre a pluralidade. A história também chama a atenção para como o preconceito é socialmente construído. E, portanto, apreendido pelas crianças a partir da atitude dos adultos.

Capa do livro "No black power de Tayó", de Kiusam de Oliveira, com ilustração da silhueta de uma mulher de lado, com o título do livro em seu interior.
“No black power de Tayó”, Kiusam de Oliveira (Peirópolis)

Tayó é uma menina negra que tem orgulho de sua cabeleira crespa, inventando as mais variadas formas de enfeitá-la. A personagem, criada pela escritora e pesquisadora Kiusam de Oliveira, é a protagonista do livro, que aprende a tomar parte de sua identidade ao responder aos colegas que rotulam seu cabelo de “ruim”. “Vocês estão com dor de cotovelo porque não podem carregar o mundo nos cabelos”, diz a pequena. A história é uma jornada pela autoconfiança, e ajuda meninas e meninos a se empoderar de seus cachos e valorizar sua beleza natural.

Capa do livro "Cor de gente, gente de cor", de Mauricio Negro, com ilustração do título do livro, escrito com fonte sem serifa em vermelho e azul.
“Cor de gente, gente de cor”, Mauricio Negro (FTD)

Neste livro-imagem, lançado em 2017, o artista gráfico e escritor Mauricio Negro parte de uma expressão perigosamente naturalizada na sociedade para definir uma pessoa negra: “gente de cor”. A sacada é mostrar como todo ser humano compartilha das emoções, medos e angústias. A cada virada de página, o leitor se depara com dois personagens: um tem a pele negra, o outro tem a pele de outra cor. Lado a lado, eles vivem momentos de fome, frio, calor, raiva, ou alegria.

Capa do livro "Zumbi assombra quem?", de Allan da Rosa, com ilustração de um menino negro, de lado, que carrega na cabeça um chapéu com plantas.
“Zumbi, assombra quem?”, Allan da Rosa (Nós)

O líder quilombola Zumbi dos Palmares se eternizou na História como um símbolo da resistência negra. Mas como ele aparece no imaginário social do brasileiro? Como as crianças o veem? Que outros símbolos habitam a discussão sobre raça no universo da infância? Buscando sensibilizar as crianças sobre questões de raça, de classe e também sobre a ancestralidade, o escritor e historiador Allan da Rosa traz um olhar sobre a cultura afrobrasileira pela perspectiva de uma criança. No livro “Zumbi, assombra quem?“, o menino Candê está muito curioso sobre a africanidade que traz na pele e na alma, e faz uma série de descobertas sobre a cultura negra.

Capa do livro "Óculos de cor: ver e não enxergar", de Lilia Moritz Schwarcz, com ilustração de várias crianças de várias etnias, todas usam óculos.
“Óculos de cor: ver e não enxergar”, Lilia Moritz Schwarcz (Companhia das Letrinhas)

Este livro traz aos leitores uma reflexão sobre a branquitude e o racismo estrutural. Na história, Alvo e Ebony se encontram e trilham juntos uma jornada de autoconhecimento – e também de reconhecimento do outro. Enquanto Alvo está sempre com um assunto diferente na cabeça, Ebony tem a agenda cheia e está prestes a iniciar o ano letivo em uma nova escola. A partir desse encontro, as personagens compreendem que o mundo é muito mais diverso do que imaginam.

Capa do livro "Olhe para mim", de Ed Franck (texto) e Kris Nauwelaerts (ilustrações), com ilustração de duas crianças, uma negra e uma branca, que estão de lado e olham de frente uma para a outra.
“Olhe para mim”, Ed Franck e Kris Nauwelaerts (Pulo do Gato)

O premiado livro dos autores belgas Ed Franck (texto) e Kris Nauwelaerts (ilustrações) é um exemplo de como o preconceito aparece nas relações sociais e é reproduzida pelos pequenos. Na história, o menino africano Kitoko foi adotado pela mãe, que é branca e está grávida. Em seus medos de criança, ele só consegue pensar se a nova irmã vai aceitá-lo por ser diferente dela. Angustiado enquanto acompanha a mãe no museu onde ela trabalha, ele adormece e sonha com a África, relembrando a história carregada de sofrimento de sua família de sangue. O livro propõe uma reflexão sobre o choque de culturas, a construção social do racismo, e como isso tudo impacta a percepção de mundo e de si de uma criança. Brincando com a questão da identidade e representação, no final do livro, há informações sobre uma série de pinturas que aparecem ao longo da história e passam quase desapercebidas pelo leitor, como Monet e Dalí.

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