Lista de desejos e outras inspirações para fazer com as crianças

Crianças têm ideias incríveis para experimentar o mundo. Criar uma lista de desejos é uma forma de valorizar suas existências e melhorar a autoconfiança

Célia Fernanda Lima Publicado em 24.03.2023
Uma mulher e um menino estão deitadas no sofá, onde apoiam um caderno no qual ela escreve
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Resumo

Fazer uma lista de desejos com as crianças melhora a autoestima, cria conexões e incentiva um jeito de olhar para o mundo mais simples.

Subir em árvore, pular na piscina de roupa, adotar um pet ou acampar no quintal com os amigos. Os desejos mais simples, muitas vezes, são os que mais importam na infância. Registrar esses itens em uma lista de desejos é uma forma de motivar as crianças a entenderem a importância de viver de forma livre e plena suas infâncias, valorizando o que realmente importa.

Em oposição a pedidos materiais, os desejos das crianças costumam ser muito simples e fáceis de realizar. “Uma vez uma criança contou que o que mais queria era tomar café com o pai e a mãe. Todos juntos. Se formos pensar, o que as crianças querem de nós não é muita coisa”, conta Thaís Lobato, psicóloga e educadora parental.

Para ela, fazer uma lista de desejos com as crianças requer um processo criativo afetuoso. “Manter uma lista de desejos desenvolve a criatividade, favorece a autoestima e a autoconfiança da criança. Ela percebe que é capaz de concluir o que quer. Quando isso acontece, gera um prazer e satisfação em viver”, explica Lobato.

Como treinar um olhar mais simples para o que está à nossa volta?

Registrar as vontades das crianças em uma lista de desejos é uma forma de conectar mundos e sentimentos muito maiores do que podemos imaginar, além da possibilidade de revelar ideias curiosas e histórias divertidas nesse processo.

Em 2021, uma lista de desejos feita por alunos do ensino infantil, de Minas Gerais, viralizou nas redes sociais. Entre os pedidos, andar em uma bicicleta de doces, ter a família unida, ser uma fada e, simplesmente, ser feliz. A estratégia de misturar uma atividade lúdica às vontades reais da turminha valorizou as ideias, os sentimentos e as motivações de cada criança.

Parece corriqueiro, mas a lista de desejos pode ser uma ferramenta para validar a existência das crianças – e não precisa esperar até o Natal para descobrir o que a criança quer de verdade. “Para o processo de formação de personalidade, é fundamental que a criança entenda que está viva no mundo e que pode experimentá-lo de formas diferentes além das coisas materiais. Crianças ansiosas ou depressivas precisam de uma validação. Portanto, fazer uma lista de desejos é um processo que toda a família deveria participar, pois fundamenta a essência e a existência da criança”, explica a psicóloga.

Além de conectar pais e filhos, compartilhar as vontades em família é um exercício de juntar propósitos de vida. Cada um pode ter suas diferenças, mas os valores precisam ser comuns. “Quando pais e filhos compartilham seus desejos, um motiva o outro. Um completa o desejo do outro. Isso gera uma conexão forte. E tem coisas que dá para fazer em meia horinha”, aponta Lobato. “Digo para os pais que são 30 minutos de qualidade de vida com os filhos e que melhora o emocional e sentimento deles de uma forma gigante”.

Para ela, praticar a lista de desejos junto com a criança beneficia também a mudança do olhar para a sociedade, entendendo que vale a pena viver, sentir emoções novas e descobrir o prazer de experimentar pequenas coisas na companhia uns dos outros e até mesmo sozinhas.

Como criar uma lista de desejos com as crianças: 

Use a criatividade para explorar várias possibilidades: canetas coloridas, colagens, letras diferentes, desenhos e enfeites. Depois, pode ser interessante criar categorias ou metas de tempo para deixar suas ideias mais arrumadinhas no papel. Veja as dicas:

  1. Pesquisa: o primeiro passo é conversar com as crianças e saber seus interesses, incentivar que elas conversem entre si e troquem ideias com pessoas mais velhas da família para descobrir algo em comum que pode ser incluído na lista. Ex: viajar de carro com o vovô até a praia ouvindo as músicas preferidas dele; acampar no quintal com o melhor amigo; provar um sabor de sorvete diferente com os primos a cada mês.
  2. Chuva de ideias: liste tudo o que vai surgindo durante as conversas – assuntos, temas, ideias que podem virar alguma meta ou desejo – e deixe anotado numa lista de rascunhos.
  3. Crie categorias: organize a lista inicial em categorias. Ex: viagens, comidas, filmes, passeios, leituras.
  4. Temporize: trace possíveis metas para realizar alguns itens. Não precisa ser um prazo fechado, mas apenas uma perspectiva. Uma viagem curta que pode ser no fim do ano, uma festa do pijama no feriado, aprender a dirigir quando fizer 18 anos ou conhecer as pirâmides do Egito aos 30.
  5. Esteja aberto às mudanças: é importante ensinar desde cedo que imprevistos acontecem, planos podem ser mudados e interesses redirecionados. Então, deixe claro que a lista não precisa ser fechada, permitindo modificações com a inclusão ou eliminação de algum item.
  6. Não pare de atualizar: a cada item cumprido, outro pode surgir. Sua lista não precisa ser extensa, mas, se for dinâmica, pode ficar mais divertido. O importante é não deixar de desejar e correr atrás para realizar cada item.

Outras ideias inspiradoras para fazer com as crianças

Além da lista de desejos, outros projetos podem aproximar pais e filhos e inspirar uma atividade para fazer juntos no tempo livre. As sugestões a seguir têm as fotos em comum como possibilidade de construir uma memória afetiva e revelar as emoções que nos habitam desde a infância.

“Vou te enviar diariamente por 100 dias fotos nossas, pra lembrar de como fomos parceiros”, escreveu a filha mais velha do escritor e influenciador digital Marcos Piangers sobre o presente que deu ao pai no último Natal. Até completar o prazo, ele recebe um e-mail por dia com fotos dos dois aproveitando os momentos mais simples. “A gente na pracinha, na praia, na bicicleta, em casa, ela crescendo, minha barba ficando branca”, conta Piangers no post.
Uma foto por dia também foi a ideia do britânico Ian McLeod para registrar o crescimento do filho Cory. Foram 21 anos de fotos diárias. Nos anos seguintes, até completar 30 anos, Cory assumiu o projeto e lançou, no ano passado, um vídeo que mostra os detalhes do seu crescimento até a vida adulta.
Com as fotografias que fez do filho a cada ano, a fotógrafa taiwanesa Annie Wang, montou um túnel do tempo para a série “A mãe enquanto criadora”. A ideia foi sempre incluir a última foto na foto atual para causar o efeito da sobreposição.
Já no documentário “Duty Free”, a gente percebe que o contrário também vale e, quando crescem, os filhos podem proporcionar aos mais velhos a realização de sonhos antigos. O jornalista norte-americano Sian-Pierre Regis decidiu pegar a estrada com a mãe Rebecca Danigelis, na época com 75 anos, e cumprir todos os desejos dela, como aprender hip-hop, saltar de paraquedas e ordenhar uma vaca.

E você, o que deseja realizar com o seu filho hoje?

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