Adolescentes chegam a usar celulares por mais de 16 horas diárias e o TikTok é a rede social onde passam mais tempo
Crianças e adolescentes de 11 a 17 anos recebem, em média, 237 notificações diárias no celular e passam quase metade do tempo no TikTok. Como estimular um uso mais consciente?
Em um só dia, crianças e adolescentes de 11 a 17 anos recebem uma média de 237 notificações no celular. Embora visualizem em média um quarto delas, o excesso de estímulo é “uma forma de mantê-los alerta e ainda acionar sentimentos como o medo de estar perdendo alguma coisa importante”, diz Manu Halfeld, mestranda em ciência política e especialista em direitos digitais. A especialista também cita que “a rolagem infinita e a reprodução automática de vídeos dão pouco tempo de reflexão e estimulam a continuidade na rede”.
Alguns chegam a registrar 16 horas de uso do celular, mas a maioria (43%) usa o aparelho de duas a cinco horas por dia. Entre as plataformas preferidas, TikTok (50%) lidera a lista, chegando a ocupar 38% do tempo de uso total do celular em um dia. O YouTube vem em segundo lugar, com 18%. Os dados são de um estudo da organização Common Sense Media, em parceria com o Hospital Pediátrico C. S. Mott, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Os próprios jovens explicam o domínio do TikTok. Segundo eles, o algoritmo da plataforma “sabe” o que eles buscam e quase sempre entrega algo divertido para assistir. Quando o usuário não se interessa pelo vídeo, o algoritmo rapidamente se adapta para entregar outros conteúdos que se encaixam melhor.
Além de ser “fácil” de usar, já que os vídeos passam automaticamente, sem que se precise tomar alguma decisão, vídeos curtos “oferecem doses pequenas de prazer quando se quer dar uma pausa sem ter muito tempo disponível”.
“O desenho das plataformas digitais não considera o bem-estar de crianças e adolescentes. A técnica é a mesma do reforço intermitente, que vem da psicologia e do design comportamental: você continua a navegar na expectativa de encontrar algo do seu interesse e, quanto mais tempo fica on-line, mais lucro ganham as grandes companhias”, diz Halfeld. “Ao encontrar, você se satisfaz momentaneamente e é estimulado a repetir, tal qual o ratinho do estudo realizado pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner que recebe uma recompensa sempre que aciona a alavanca. Se esse efeito atinge os adultos, imagina como explora ainda mais a vulnerabilidade dos mais jovens?”
Segundo Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, crianças e adolescentes do Sul Global são ainda mais afetadas, pois suas “vulnerabilidades no meio off-line acabam ampliando as vulnerabilidades no ambiente digital”, além de faltarem medidas regulatórias e baixa aderência a práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) compatíveis com os direitos nesses países.
Segundo o estudo, ganhar um celular é considerado um “rito de passagem” para a maioria das crianças e dos adolescentes nos Estados Unidos – quase metade deles costuma ganhar o presente aos 11 anos.
Por outro lado, negociações de quando adquirir, estabelecer limites de uso e o telefone ser considerado “um apêndice sem o qual não podem viver sem” são causas de estresse parental. O estudo oferece alguns caminhos para auxiliar a mediação parental:
Cada escola possui regras sobre o uso do celular em suas dependências e a Unesco recomendou recentemente que celulares fiquem longe da sala de aula. O estudo convida a refletir com as crianças e os adolescentes sobre como se sentem em relação ao uso de celular na escola (em termos de emoções, atenção e pensamento). Uma estratégia para que a sua criança ou adolescente fale sobre a própria experiência é perguntar como eles acham que os colegas usam demais os telefones.
A pesquisa também revelou que 45% dos participantes disseram já ter usado plataformas restritas a quem tem mais de 17 e 18 anos, como aplicativos voltados à pornografia, fantasy sports, apostas, Telegram, jogos violentos (como “Call of Duty”) e fóruns, como o Reddit ou 4chan.