96% das crianças acessam a internet todos os dias, diz pesquisa

Apesar da ampla presença virtual, a qualidade de acesso ainda não é uma realidade para todas as crianças e adolescentes brasileiros

Eduarda Ramos Publicado em 04.05.2023
Uma mãe e um filho utilizam um celular juntos. A imagem ilustra a matéria 96% das crianças acessam a internet todos os dias, diz pesquisa TIC Kids Online
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Resumo

Apesar do alto número de crianças e jovens conectados, ainda há desafios na qualidade do acesso à internet. A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2022 reflete os hábitos na internet de aproximadamente 26,6 milhões de crianças e adolescentes brasileiros.

Em 2022, 96% dos usuários de internet de 9 a 17 anos acessaram a internet todos os dias ou quase todos os dias, principalmente redes sociais como o TikTok e Instagram, frequentadas por 86% dos entrevistados. Estas duas redes cresceram 2% entre 2021 e 2022, sendo o TikTok a rede mais utilizada por crianças de 11 e 12 anos (46%), enquanto o Instagram tem adesão de 51% dos jovens de 15 a 17 anos. Os dados são da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2022, realizada entre junho e outubro do ano passado, que ouviu 2.604 crianças e adolescentes e 2.604 pais e responsáveis. A amostragem reflete os hábitos na internet de aproximadamente 26,6 milhões de crianças e adolescentes brasileiros.

Os dados aparecem num contexto de crescente preocupação em relação à segurança nos ambientes digitais, segundo a opinião de 65% dos participantes que declaram se preocupar sempre, quase sempre ou às vezes com sua privacidade no ambiente digital.

Crianças a partir de 11 anos já entendem que sua presença na internet também deve estar acompanhada de cuidados: 79% são cautelosos com a exposição de informações pessoais postadas na internet; 77% só usam aplicativos ou sites que confiam; 76% têm cuidado com links de vídeos e 73% com convites de amizades que recebem na internet. Fornecer o mínimo de informações pessoais possível ao se registrar on-line, como em redes sociais ou para jogar e ouvir música, é uma prática apontada por 58%.

Apesar das boas práticas de segurança na internet, a pesquisa mostra que a falta de letramento sobre como a internet funciona, sobretudo quando se fala em algoritmos, compromete uma experiência plena nestes espaços. Luísa Adib, coordenadora da pesquisa, ressalta o papel de educadores, pais, responsáveis e adultos que convivem com essas crianças de “orientar um uso crítico dessas plataformas e alertar sobre os conteúdos acessados on-line”, diz.

O que mais as crianças fazem na internet?

Segundo a TIC Kids Online Brasil 2022, além das redes sociais, 87% já utilizaram a internet para consumo de conteúdo multimídia, como ouvir música, e 82% para assistir a vídeos, programas, filmes ou séries on-line. Pesquisar na internet para trabalhos escolares foi uma atividade relatada por 80% dos entrevistados, enquanto 65% já pesquisaram algo na internet por interesse próprio. Para 43% das crianças e adolescentes a partir dos 11 anos, o primeiro resultado de pesquisa é sempre a melhor fonte de informação. A internet também é usada como canal de comunicação, para enviar mensagens instantâneas (79%) e conversar por chamada de vídeo (32%).

Conectividade ainda é desigual

A velocidade da internet e a dependência de usar os créditos do celular para se conectar é uma realidade que predomina entre os entrevistados pertencentes às classes D e E: 39% reportaram que sempre ou quase sempre sentem a velocidade da conexão ficar ruim e 25% relataram que já deixaram de fazer alguma atividade on-line com medo de os créditos terminarem.

Na série histórica da pesquisa, a utilização da TV como dispositivo de acesso à internet e o crescimento no consumo de jogos on-line refletem as diferenças de acesso entre as classes sociais, aponta Adib, já que atividades que exigem melhor qualidade de conexão “acabam sendo mais realizadas por usuários com condições socioeconômicas mais elevadas”.

“Isso implica no aproveitamento de oportunidades, no desenvolvimento de habilidades e na compreensão sobre o espaço on-line, apesar dos avanços quando pensamos no acesso universal da internet e de políticas de inclusão digital”

Para Alexandre Barbosa, gerente do Nic.Br, a questão central não é apenas ter acesso à internet, mas “ter condições de acesso apropriadas para uma conectividade significativa, que lhes permita desenvolver habilidades digitais e se beneficiarem da participação on-line”. Segundo ele, “o limite no acesso pode restringir direitos fundamentais dessa população na sociedade da informação”, comenta em nota.

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