O que as famílias querem da escola?

Pesquisa revela que educação em tempo integral e valorização dos professores estão entre as prioridades

Raphael Preto Pereira Publicado em 04.08.2025
Três crianças de uniforme verde fazem um trabalho em grupo
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Resumo

Uma pesquisa do Itaú Social entrevistou famílias de estudantes de escolas públicas para entender quais devem ser as prioridades das escolas e do ensino no Brasil. Entre elas estão a educação em tempo integral e a valorização dos professores.

Educação em tempo integral, infraestrutura, valorização dos professores e investimento em alfabetização. Essas são algumas das principais demandas das famílias para as escolas em 2025, de acordo com uma pesquisa do Itaú Social. O estudo “Opinião das famílias: percepções e contribuições para a educação municipal” ouviu 4.600 pais ou responsáveis por estudantes de escolas públicas municipais em todo o Brasil.

6 desejos das famílias

  1. Educação integral

Para 48% dos entrevistados, a primeira ou segunda prioridade é aumentar a carga horária dos estudantes. Hoje, o Plano Nacional de Educação (PNE), com ações e metas para serem cumpridas até 2034, prevê que 40% dos estudantes do ensino fundamental e médio estejam matriculados no ensino integral. Esse modelo, que abrange não apenas o aspecto intelectual, mas questões emocionais, físicas, sociais e culturais, também prevê uma jornada de 35 horas semanais na escola.

“A educação integral, em tempo integral, oferece mais oportunidades para inovações curriculares e pedagógicas. Além disso, amplia as possibilidades de aprendizado por meio de parcerias com equipamentos educativos na cidade, como centros culturais, artísticos, esportivos, e de ciência e tecnologia.” É o que afirma a superintendente do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes.

Apesar da vontade das famílias e das metas do governo, o Brasil enfrenta dificuldades nessa missão. Assim, até 2022, apenas 18% dos estudantes estavam matriculados no modelo integral, contra os 25% previstos no PNE vigente entre 2004 e 2024.

  1. Infraestrutura

Para 40% dos cuidadores entrevistados, a melhoria da infraestrutura também aparece como prioridade, em primeiro e segundo lugar. A pesquisa explora a importância ou não da presença de espaços como parquinhos, banheiros, quadras e até elevadores, mas não detalha mudanças necessárias nas escolas.

Outros dados dão indícios de que a infraestrutura das instituições de ensino precisa melhorar. Isso para auxiliar a implementação do ensino integral, que exige espaços de interação para além das salas de aula. Segundo o censo escolar de 2023, por exemplo, apenas 12,6% das escolas possuem laboratório de ciências.

Embora as áreas verdes estejam previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sejam fundamentais para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, por proporcionarem possibilidades de interação, por exemplo, elas ainda são minoria. Em 2024, uma pesquisa realizada pelo Instituto Alana, em parceria com o Map – organização que monitora a situação da vegetação e da água no planeta – mostrou que apenas quatro em cada 10 escolas públicas e particulares das capitais possuem parques, jardins ou bosques naturais.

Dados do censo escolar de 2022 mostram ainda que essas estruturas não são suficientes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Os números apontam que apenas 30% das escolas públicas possuem equipamentos que ajudam a suportar o calor, como ventiladores ou ar-condicionado, por exemplo.

  1. Valorização dos professores

De acordo com a pesquisa do Itaú Social, para 36% dos pais ou cuidadores, garantir melhores condições de trabalho aos professores é a primeira ou segunda coisa mais importante para a escola.

Em 2005, o PNE instituiu o Piso Nacional de Educação, permitindo que 60% dos recursos oriundos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) fossem destinados obrigatoriamente para a remuneração de professores. No entanto, os professores no Brasil são os que mais trabalham e menos recebem. O salário está 47% abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Especialistas observam que a carreira docente não está entre as principais opções dos estudantes que alcançam boas notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um dos motivos é o piso salarial, que até 2024, era de R$ 4.420,55 para uma jornada de 40 horas semanais.

  1. Investir na alfabetização dos estudantes

Investir na alfabetização dos estudantes é uma demanda que aparece em primeiro e segundo lugar para 36% dos entrevistados. Dados do Sistema da Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que apenas 49% dos alunos estão alfabetizados ao final do 2º ano do Ensino Fundamental. Ou seja, metade das crianças brasileiras não desenvolve, no tempo certo, as habilidades básicas de leitura e escrita. Pensando nisso, o governo federal lançou então, no primeiro semestre de 2023, o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. As metas envolvem alfabetizar as crianças na idade certa e recuperar aprendizagens afetadas durante a pandemia, em colaboração entre estados, municípios e a União.

  1. Ampliar o número de vagas em creche

O acesso à creche traz benefícios tanto para o aprendizado quanto para a socialização das crianças. Atualmente, boa parte dos municípios, que são responsáveis por essa etapa educacional, aumenta a oferta de vagas por meio de convênios com organizações sociais. No entanto, o tema ainda aparece nas respostas de 22% dos entrevistados, que a consideram a primeira ou segunda maior prioridade na pesquisa do Itaú Social.

  1. Modificar a escola do 6º ao 9º ano do ensino fundamental

Para 16% dos entrevistados, a primeira ou segunda prioridade deve ser investir em uma nova proposta de escola para os anos finais do ensino fundamental. Isso inclui melhoria da infraestrutura, ampliação da carga horária e estratégias que busquem desenvolvimento do aprendizado.

Evasão escolar

A pesquisa do Itaú Social ainda evidencia a preocupação de pais e mães em relação ao abandono escolar logo nas primeiras etapas de ensino. Dessa forma, a percepção de que cada vez mais crianças estão abandonando a escola aparece em 51% das respostas.

As causas da evasão escolar se relacionam com diversos fatores. Entre eles, as dificuldades de aprendizagem que levam estudantes à reprovação e, consequentemente, ao acúmulo de fracassos nos anos seguintes. Nesse sentido, as famílias afirmam que apenas seis em cada 10 estudantes estão aprendendo o que é esperado para a idade.

“Essa percepção tem uma queda à medida que avança a idade e a etapa escolar dos alunos, o que sugere o aumento dos desafios de aprendizado no decorrer da trajetória escolar e, mais especificamente, nos anos finais do ensino fundamental”, descreve o estudo do Itaú Social.

É também expressivo que apenas cerca de seis em cada 10 estudantes sintam vontade de ir para a escola. “Em especial, os adolescentes mais velhos, que já enfrentam desafios como a necessidade de trabalhar para complementar a renda familiar, exigem estratégias de apoio mais direcionadas, com foco no acolhimento, suporte e busca ativa”, afirma Patrícia.

Assim, o tema está na agenda política, que discute soluções especialmente para grupos de estudantes que passam por processos históricos de exclusão no sistema educacional, como negros e pessoas com deficiência. Nesse sentido, o governo federal criou o programa “Pé de meia”, que disponibiliza R$200 por mês como um incentivo para a frequência e R$1.000 reais a cada ano letivo do ensino médio concluído com aprovação.

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