Reforçar a hidratação e consumir comidas leves são as principais dicas para enfrentar as temperaturas que estão acima do comum até o fim da semana
A onda de calor que atinge o país pede hidratação reforçada e pais e cuidadores atentos a sintomas de desidratação. Em dias quentes, tomar bastante água pode evitar que a criança passe mal.
Uma onda de calor tomou grande parte do Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a persistência do fenômeno por vários dias consecutivos oferece perigo à vida. Por isso, o Lunetas consultou pediatras para contarem quais cuidados ter com as crianças neste período atípico.
Para auxiliar pais e responsáveis, os pediatras Daniel Becker e Tadeu Fernandes comentam quais são os principais cuidados com as crianças nesses dias de extremo calor. A recomendação mais importante é manter a hidratação e não sair no sol em horários críticos, entre 10h e 15h30.
Segundo Becker, em dias de calor extremo (que beiram os 45ºC) pode até ser uma escolha não tirar as crianças de casa, mas o ambiente escolar deve ter estratégias para lidar com o calor, como o uso de aar-condicionado. “As escolas precisam do máximo de ventilação possível, com janelas abertas para circulação do ar, e de toldos ou outros artifícios de proteção que impeçam o sol de bater diretamente na criança, especialmente à tarde.” Em dias muito quentes, se possível, colocar garrafas de água e copos de papel dentro da sala de aula, além de ter bebedouros espalhados pela escola. “No recreio é obrigatório!”, diz o pediatra. “Quando a criança percebe que está com sede, ela já está um pouco desidratada. Por isso, é importante hidratá-la preventivamente.”
“Em uma onda de calor dessa, deve-se evitar ficar fora de casa entre 10h e 15h30, mesmo na sombra”, comenta Becker. Fernandes também pede que os pais fiquem atentos ao choque térmico, caso a criança entre e saia com frequência de ambientes com e sem ar-condicionado. A sugestão é brincar dentro de casa!
Arroz e feijão acompanhado de legumes e verduras de todo tipo e carnes leves, como frango e peixe. Lembrar sempre de beber muita água, água de coco, sucos bem diluídos e comer frutas. Fernandes lembra que, em dias muito quentes, também é recomendado evitar laticínios, como queijos e iogurtes, que podem estragar facilmente caso não sejam mantidos em refrigeração adequada.
Somente oferecer água à criança não é capaz de garantir uma hidratação integral. “Como o corpo das crianças é menor, a perda de água e sal na transpiração pode levá-la à desidratação.” Segundo Fernandes, o xixi é o termômetro para saber se a criança está hidratada. “Uma urina ausente ou escura, de cheiro forte e concentrada, é sinal de desidratação”. Becker comenta que, quando a temperatura do corpo está muito elevada e ultrapassa a capacidade de autorregulação, a criança precisa ser levada ao hospital. Isso geralmente vem acompanhado de mal-estar, náusea, cansaço e febre acima de 39ºC. “Se não tratados, quadros de desidratação extrema podem deixar a criança prostrada, com confusão mental, insolação, desmaios, convulsões, movimentos anormais, tremores e até mesmo levar ao coma.”
De acordo com Fernandes, doenças gastrointestinais podem ser frequentes no calor. “Quando nós temos diarreia, vômitos ou febre, que levam à perda de água, ou transpiramos devido ao calor excessivo, estamos perdendo mais do que água. Não adianta apenas fazer uma hidratação normal, é preciso uma dieta leve e reidratação com sais.” Já em quadros de diarreia, o médico comenta que ela desaparece por conta própria na maioria dos casos, por ser uma defesa do organismo. Então, dispensa medicação.
Evitar se expor ao sol em horários críticos, usar roupas leves e protetor solar. Os banhos não devem ser muito frios, para evitar choques térmicos. E principalmente, deixar a criança mostrar para você que ela está se sentindo bem. “A criança com calor fica irritada”, diz Fernandes. Se a criança está brincando de forma muito movimentada ou é uma atleta mirim, Becker pede atenção redobrada: “Ela começou a se sentir mal? Descanso, lugar arejado, de preferência mais fresco. Voltar para o esporte só depois de se hidratar bem.”
Julho de 2023 foi o mês mais quente da história recente do planeta e também o julho – em pleno inverno – mais quente no Brasil desde 1961, de acordo com o Inmet. O aquecimento é resultado do fenômeno “El Niño” nas águas do Pacífico. Além das temperaturas elevadas, ciclones extratropicais somados ao impacto do El Niño afetaram a parte Sul do país de forma agressiva. As chuvas acima da média podem se estender até novembro.
JP Amaral, gerente de meio ambiente, clima e biodiversidade no Instituto Alana, explica que “já aumentamos em 1,2 graus a temperatura do planeta por causa da interferência humana. Isso altera os ciclos naturais do equilíbrio do clima dos ecossistemas e leva a estes eventos que já estão sendo vistos e serão cada vez mais intensificados, trazendo impactos especialmente para as crianças.”
Para reforçar a hidratação, o soro de reidratação está disponível gratuitamente na rede pública de saúde, mas você também pode encontrá-lo na farmácia ou fazer em casa. A medida é três pitadas de açúcar e uma de sal para um copo americano de água.