O que o ano de 2024 trouxe para as infâncias?

Celulares nas escolas, inteligência artificial, olimpíadas, eleições, tragédias climáticas e fim da escala 6x1. Saiba como este ano impactou a infâncias

Da redação Publicado em 20.12.2024
Imagem de capa para matéria sobre a restrospectiva do ano de 2024 mostra um grupo de crianças brincando de roda com as mãos levantadas.
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Resumo

Relembre alguns assuntos que foram notícia em 2024 e como as lentes do Lunetas mostraram o impacto dessas discussões na vida de crianças e adolescentes, desde a rotina com a família, saúde e comunidade escolar.

Conquistas no esporte, atenção para o uso excessivo de celulares e alerta de crise climática. Dentre as temáticas que mais movimentaram o debate público no ano de 2024, mostramos que os assuntos da esfera política e social sempre têm alguma conexão com a vida das crianças e adolescentes. Seja uma discussão na Câmara dos Deputados, uma trend nas redes sociais, um evento climático extremo ou os avanços tecnológicos. O importante é estar atento à garantia da proteção dos direitos de meninos e meninas como prioridade absoluta.

Por isso, confira alguns assuntos que impactaram crianças e adolescentes em 2024 e que o Lunetas mostrou com as lentes das múltiplas infâncias.

Celulares nas escolas

A proibição do uso de celulares em sala de aula é uma discussão que acontece dentro e fora das escolas. Enquanto no Brasil várias leis estaduais e municipais foram aprovadas neste ano, restringindo a utilização dos aparelhos no ambiente escolar, as decisões de países que já vivem essa realidade foram além. Na Austrália, por exemplo, a expectativa é que as redes sociais sejam vetadas para crianças e adolescentes menores de 16 anos.

Dentre as opiniões de especialistas, educadores e estudantes, mostramos como o tema é urgente e diz respeito à proteção das crianças e adolescentes. Além disso, acompanhamos as movimentações para um Projeto de Lei Nacional. O texto prevê a proibição de celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e particulares. A decisão também cabe para os horários de recreio e intervalos entre as aulas. Atualmente, o PL foi aprovado pelo Senado e aguarda a sanção presidencial.

Inteligência Artificial

Nas músicas, nos textos, nas imagens e até nos jogos, as ferramentas de Inteligência Artificial estão na rotina das crianças e adolescentes com mais frequência. Por isso, se faz necessário a mediação e o controle parental do uso desses recursos.

Embora algumas escolas do país já utilizem a Inteligência Artificial para orientar os alunos sobre como fazer uma pesquisa e também para a educação midiática, especialistas alertam para os riscos do uso sem regulamentação formal. Este ano, a pesquisadora coreana Hye Jung Han, da organização internacional Human Rights Watch falou ao Lunetas sobre o risco de plataformas de banco de dados de I.A se apropriarem de imagens não autorizadas de crianças brasileiras.

Outro assunto de destaque foi a popularização da plataforma Character.AI, que disponibiliza chatbots (robôs) de personagens que interagem com os usuários – muitos deles menores de idade. Os danos para a saúde mental de crianças e adolescentes que utilizam a plataforma para buscar ajuda psicológica foram explicados em uma reportagem vencedora do 4º Prêmio de Comunicação da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, na categoria texto.

Confira: IA, terapia e saúde mental: robôs podem ajudar as crianças?

Enchentes no Rio Grande do Sul

Os eventos climáticos extremos preocupam cada vez mais a população e as discussões globais. Enquanto o país se prepara para receber, em 2025, a Conferência da ONU para o Clima (COP), enchentes, queimadas e devastação da floresta se intensificam.

Em maio, o estado do Rio Grande do Sul passou por uma das piores tragédias climáticas do país. Na época, mais de 80 mil pessoas ficaram desabrigadas e 2,3 mil escolas interditadas por causa da cheia do rio Guaíba. Com o olhar para o cuidado com as crianças, mostramos como protegê-las dentro dos abrigos. Outra reportagem destacou como os educadores tiveram papel fundamental no acolhimento de meninos e meninas que perderam suas casas. Em entrevista ao Lunetas, o pedagogo e terapeuta social, Reinaldo Nascimento, profissional da Pedagogia da Emergência, contou como as equipes atuaram no estado.

Além disso, mostramos a situação de mães que perderam as casas e o que tinham conquistado para os seus filhos. Mães indígenas, quilombolas e imigrantes, contaram como enfrentaram o desafio de reconstruir a rotina.

Jogos Olímpicos e Paralímpicos

De Paris para o mundo, os atletas e paratletas brasileiros conquistaram medalhas e viraram referências para as crianças. No ano em que o break entrou para a disputa, falamos da importância da saúde mental de atletas mirins e vibramos com as medalhas conquistadas:

Ouro de Rebeca Andrade no solo da ginástica artística, bronze na disputa por equipes, prata da seleção feminina de futebol, ouro de Beatriz Souza no Judô, bronze de Rayssa Leal no skate, e mais um primeiro lugar no pódio do vôlei de praia feminino com Duda e Ana Patrícia. O saldo foi justamente reafirmar como especialmente as meninas pretas podem ter inspirações no mais alto lugar do olimpo.

Além disso, mostramos a importância de torcer com as crianças, falar sobre representatividade, respeito aos adversários e o alerta para o ufanismo. Já sobre os Jogos Paralímpicos, vimos como o Brasil se mostrou uma verdadeira potência! Foram 25 medalhas de ouro, 26 de prata e 38 de bronze. Em entrevista ao Lunetas, a paratleta Mariana D’Andrea ressaltou a importância das famílias acompanharem as paralimpíadas com as crianças. “Incentivem as crianças a se aproximarem da pessoa com deficiência e a ter mais contato. Expliquem que somos iguais e que uma deficiência não vai deixar uma pessoa impossibilitada de brincar e de realizar sonhos.”

Confira: Como falar sobre capacitismo com as crianças nas Paralimpíadas?

Imagem mostra a atleta da paralimpíadas, Mariana Dandrea, uma mulher branca, com naninsmo, vestindo uniforme da seleção brasileira e comemorando após a prova de halterofilismo
Em Paris, a paratleta brasileira Mariana D’Andrea conquistou a segunda medalha de ouro no halterofilismo, categoria até 73 Kg.

Eleições municipais

Em 2024, a população brasileira elegeu prefeitos e vereadores para um novo mandato de quatro anos. Atentos às políticas públicas que garantem a proteção dos direitos das crianças e adolescentes, propomos reflexões sobre a importância de escolher um representante que priorize as infâncias.

Além disso, mostramos histórias de adolescentes que votaram pela primeira vez este ano e que estão antenados à situação política de suas cidades. Ouvimos também especialistas que confirmaram: “na democracia, elegemos pessoas que nos representam e as decisões delas podem melhorar ou piorar nossas vidas. Então, quem vai votar – e quem ainda não tem idade para votar – deve entender como a política funciona, além de saber como fiscalizar e cobrar”, disse Adriana Passos, servidora do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA).

Já Ana Potyara, diretora da ANDI – Comunicação e Direitos, reforçou a ideia de ensinar a consciência social e política desde cedo.

“Precisamos fazer com que as crianças e os adolescentes participem ativamente das políticas e das decisões do país. A partir daí, teremos um eleitorado muito mais consciente e que compreende onde ele se encaixa enquanto cidadão e como parte do processo.”

Apostas online

Em uma reportagem especial, mostramos como os jogos de apostas online afetam o comportamento de crianças e adolescentes. Contamos histórias de estudantes que jogam em seus celulares dentro das escolas e tivemos depoimentos de professores que já viram seus alunos gastarem o dinheiro do benefício do programa Pé-de-Meia, do Governo Federal, para alimentar as apostas, principalmente do jogo popularmente conhecido como “Tigrinho”.

A informação impactou a sociedade e o poder público, engrossando o caldo das discussões sobre a regulamentação das plataformas de jogos e bets no país. Outras preocupações foram os riscos dos vícios, as propagandas feitas por influenciadores digitais e o uso dos benefícios sociais para apostar. Atualmente, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o governo federal adote medidas para impedir que beneficiários do Bolsa Família usem recursos do programa com apostas online.

Fim da escala 6×1

Imaginar uma rotina de trabalho com duas folgas fixas por semana e os benefícios para a qualidade de vida e saúde mental de todos os trabalhadores brasileiros, especialmente para as mães, foram motivos de debates dentro e fora das redes sociais. Isso porque, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê uma revisão na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) gerou uma discussão sobre as condições de trabalho no país.

O Lunetas acompanhou as movimentações e, junto a especialistas, questionou: quais os impactos da proposta de fim da escala 6×1 na vida das crianças?

Segundo Pedro Hartung, diretor de Políticas e Direito das Crianças do Instituto Alana, proteger os direitos das crianças e adolescentes também está diretamente ligado ao cuidado das condições de trabalho dos adultos que cuidam delas. Do mesmo modo, um dia a mais de folga beneficiaria milhões de mães solo, que enfrentam dupla e até tripla jornada de trabalho com a chamada economia do cuidado.

“Em uma sociedade em que as crianças dependem dos adultos para orientação, educação e segurança, assegurar que mães, pais e cuidadores tenham condições adequadas de trabalho significa garantir que elas cresçam em um ambiente saudável e apoiador.”

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