8 projetos para apresentar às crianças no dia da independência

A participação de mulheres, pessoas negras e indígenas evidencia como a história vai além do grito do imperador por “independência ou morte”

Eduarda Ramos Publicado em 06.09.2023
Colagem com as imagens de Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica. A imagem ilustra uma matéria sobre o Dia da Independência.
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Resumo

Para falar sobre a independência do Brasil com as crianças, o Lunetas traz oito projetos que abordam a temática e mostra como vários conflitos entre 1808 e 1831 marcaram o processo para além do grito de Dom Pedro I.

Às margens do Ipiranga, o grito do imperador Dom Pedro I foi eternizado em “Independência ou morte” (1888), pintura de Pedro Américo. Contudo, considerar outras perspectivas para falar sobre o dia da independência do Brasil pode ajudar as crianças “a encararem a história como um processo e identificarem a si mesmas como sujeitos históricos”, afirma Luís Otávio Vieira, historiador e mestre em história social.

O estudo do passado envolve a noção de possibilidades. Portanto, não está restrito apenas ao modo como foi. O Brasil, desde seu início, é multifacetado”, diz ele sobre “outras independências” que aconteceram antes, durante e depois de 1822, com a participação ativa de pessoas negras, indígenas e mulheres.

Você já ouviu falar delas?

O professor Vieira comenta a participação de algumas figuras femininas na luta:

  • Maria Quitéria foi “a primeira mulher a fazer parte do exército brasileiro que lutou contra os portugueses”;
  • A freira Joana Angélica foi “assassinada por portugueses que forçaram a entrada em um convento imaginando que brasileiros estavam se refugiando por lá”; e
  • Maria Felipa de Oliveira ficou conhecida por ter liderado um grupo de aproximadamente 40 mulheres na resistência contra os portugueses nas guerras de independência na Bahia.

Além do grito no Ipiranga: as independências brasileiras

“Normalmente as pessoas associam a independência ao 7 de setembro de 1822. Mas, na realidade, foi um processo que começou em 1808 e terminou em 1831”, conta Vieira. Bahia, Maranhão e Pará, por exemplo, se tornaram independentes apenas em 1823. Como explica a historiadora Lorena Gnaccarini, o período termina com a renúncia de Dom Pedro I, em 1831, após a pressão popular na “Noite das garrafadas”. Neste episódio, brasileiros que se opunham ao governo enfrentaram os portugueses favoráveis ao império.

Segundo Vieira, há uma falsa ideia de que a independência no Brasil ocorreu sem conflitos. Contudo, ele cita alguns eventos que foram determinantes para esse processo. Na Revolução Pernambucana de 1817, a elite local lutou contra a corte portuguesa por mais liberdade e menos impostos, embora defendessem a manutenção da escravidão. Inspirado pela Revolução do Haiti, o militar Pedro da Silva Pedroso, conhecido como o “pardo do Recife”, tentou implantar um governo negro no estado.

“Liberalismo não significava abolicionismo. Os direitos eram para os cidadãos; escravizados eram considerados propriedades”, diz Gnaccarini

Também houve embates na Batalha do Jenipapo, em 1823, quando trabalhadores civis do campo, homens escravizados e indígenas lutaram contra portugueses armados no Piauí. Na Bahia, uma série de conflitos ocorreram entre 1822 e 1823. Já na Confederação do Equador de 1824, em Pernambuco, a população desejava um regime republicano que se contrapusesse ao autoritarismo de Dom Pedro I e à escravidão.

“As elites locais precisavam do imperador porque ele garantia a ordem social, portanto, a sociedade escravista”, destaca Gnaccarini. Mas, “o Brasil tinha a maior população negra livre da América (27%), enquanto nos EUA eram 5%. Era muita gente reivindicando por direitos.”

8 projetos para falar de independência com as crianças

Para conhecer mais sobre as “outras independências” do Brasil, o Lunetas selecionou oito projetos que evidenciam a importância da pressão popular de pessoas negras, indígenas e mulheres.

1. Histórias de Pindorama

Coordenado pela historiadora Claudia Hlebetz, o projeto “caixas da história” traz, em seu primeiro volume, livros digitais sobre a “Independência do Brasil”. Tem informações, poesias e desenhos para imprimir, recortar e brincar. Além disso, há um minidocumentário, um videolivro no YouTube, episódios de podcast e narrativas sobre o impacto da independência em populações negras e indígenas, com a sugestão de sites para saber mais. Atualizado de forma contínua, a intenção é de que as discussões sobre história do Brasil se estendam para cursos e rodas de conversa.

2. Era uma vez… Brasil

O programa de atividades visa expandir o conhecimento da história e da cultura nacional, bem como levantar propostas que possam impactar a vida das comunidades. Nas primeiras etapas, os alunos produzem histórias em quadrinhos dentro do recorte temático proposto e realizam uma imersão em diferentes linguagens artísticas. Depois, partem para vivências em territórios quilombolas e indígenas, e podem inclusive participar de um intercâmbio em Portugal.

3. Portal do bicentenário

A iniciativa produz e realiza curadoria de conteúdos sobre os 200 anos da Independência do Brasil e seus desdobramentos. Os conteúdos passam por distintos campos do conhecimento científico, pela arte, pela cultura e pelo mundo do trabalho. Entre as quatro trilhas disponíveis, “Independências” convida a revisitar “os esforços do passado que tentaram silenciar outros projetos de nação e compreender as diversas demandas populares e os seus sentidos de liberdade e independência na construção do Estado brasileiro”.

4. Portal 2 de julho

Com curadoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o portal reúne uma série de documentos (fotografias, periódicos, panfletos, poesias e quadrinhos) que contam sobre os processos de independência no estado. Como explica Jocélio Teles dos Santos, responsável pelo departamento de antropologia da UFBA, a independência baiana deve ser analisada de maneira interdisciplinar. Isso porque há disputa política e ideológica sobre suas narrativas desde a segunda metade do século XIX.

5. Outros gritos da independência

Em quatro capítulos, a websérie “Outros gritos da independência” aborda a participação da população negra, indígena, de mulheres e trabalhadores durante os processos de independência. “A imagem que simboliza a Independência e que nos foi passada é a figura de Dom Pedro I e de homens brancos fardados empunhando espadas. Mas o processo envolveu outros importantes grupos sociais que tiveram participação decisiva em combates e revoltas”, explica a cartilha que acompanha os vídeos, com informações e sugestões de atividades para realizar em sala de aula.

6. No recreio!

Produzido pelas Universidades Federal e Federal Rural de Pernambuco (UFPE e UFRPE), o podcast “No Recreio!” traz historiadores e historiadoras que respondem a questões enviadas por docentes e turmas da educação básica na intenção de contribuir com o debate público. Os 11 episódios da primeira temporada abordam temas como a participação de populações indígenas e afrodescendentes nas lutas por independência, as repercussões do período no continente africano e como se deram os embates na Bahia, Pernambuco e Piauí.

7. 3 vezes 22

Produzidas pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Laboratório de Ensino e Material Didático (Lemad), do Departamento de História da USP, as cartilhas “Representações da independência no Brasil”, “Independência(s) em disputa no Brasil” e “As mulheres e a independência do Brasil” incorporam documentos históricos, textos de orientação direcionados a professores e sugestões de questões para trabalhar com os alunos. Entre os materiais, estudantes podem acessar jornais que falaram da independência em períodos como a ditadura militar, por exemplo.

8. Planos de aula: africanos e indígenas no final do período colonial

As cinco trilhas formativas da Nova Escola abordam a participação de indígenas e negros no final do período colonial e como essas populações seguiram lutando pela sobrevivência, ainda que o país não fosse mais uma colônia. Os materiais trabalham habilidades alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e ajudam os estudantes a identificarem preconceitos, estereótipos e violências contra estas populações no Brasil e nas Américas.

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