‘Brincar de pensar’: as memórias de Clarice Lispector no teatro

Espetáculo traz oito contos de Clarice voltados para ‘pessoas grandes ou pequenas’, adaptando a experiência individual da literatura para a coletividade teatral

Eduarda Ramos Publicado em 03.03.2023
Brincar de pensar: na imagem, atrizes e um ator sorriem enquanto olham confetes jogados ao ar.
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Resumo

A peça “Brincar de pensar” une a literatura de Clarice Lispector ao exercício de revisitar as memórias da infância com doçura. Dirigido por Vanessa Bruno, o espetáculo leva oito contos de Lispector para o palco.

Na coletânea “Felicidade clandestina”, de Clarice Lispector, a autora define os contos como “tudo o que uma pessoa grande ou pequena pode ter a ousadia de querer”. Essa frase foi responsável por guiar a diretora Vanessa Bruno na idealização de “Brincar de pensar”, espetáculo que adapta contos da autora para o teatro, extrapolando a experiência individual da literatura para estabelecer uma conversa com públicos de todas as idades, de forma coletiva.

Embora as histórias de Lispector não tenham sido escritas para crianças, na abordagem trazida pela peça, a memória é o elo que aproxima tantas histórias. Em cada conto, um “pedaço de memória” é resgatado pela protagonista, convidando o público a revisitar suas próprias lembranças: em “Felicidade clandestina”, uma menina de oito anos apaixonada por literatura implora para que a filha do dono de uma livraria empreste os livros que ela não lê; em “Restos do carnaval”, uma garota deseja ir pela primeira vez a um baile de carnaval; já em “Sou uma pergunta?”, uma série de questionamentos sobre cores, crenças, situações e comportamentos nos levam de volta à infância.

“Clarice se inspirou nas suas lembranças de infância e na observação dos seus filhos para desenvolvê-las. É por isso que essas narrativas ecoam tão bem nos corações de pessoas de várias idades”

Outros cinco contos compõem o espetáculo: “Come, meu filho”, com diálogos irreverentes entre mãe e filho; “Das vantagens de ser bobo”, que narra observações entre o esperto e o bobo; “Se eu fosse eu”, que imagina como tudo seria diferente se cada um fosse si mesmo; “Uma esperança”, em que mãe e filho dão de cara com um inseto verde chamado esperança e com uma enorme aranha; e “Brincar de pensar”, em que o público é apresentado aos prazeres e divertimentos do ato de pensar. Os oito contos e crônicas abordados no espetáculo foram publicados por Clarice Lispector no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973.

De volta à infância

“Quando eu comecei a fazer o espetáculo, eu perguntei aos atores ‘o que você faz com suas memórias’, mas fiquei pensando no que eu faço com elas também”, compartilha a diretora Vanessa Bruno, em entrevista para o Lunetas. Sua infância como filha única, cercada de livros e escritos dos pais jornalistas, refletem na costura que interliga as narrativas. “Minha criança gostaria muito de ver um espetáculo de uma menina sozinha, que limpa o sótão e cria mil histórias a partir de roupas, vitrolas ou máquina de escrever”, diz.

“Achei que estivesse fazendo um espetáculo sobre os contos da Clarice. Quando vi, virou uma peça sobre como eu lidava com as minhas memórias”

Pesquisadora de transposição da literatura para o palco, Bruno comenta que “Brincar de pensar” buscou combinar recursos como música, projeções e iluminação com a narrativa. “Tem um lugar de deslocar a literatura, que é uma experiência individual, para a experiência compartilhada que é o teatro. Essas escolhas são importantes para tornar a palavra viva e fazer com que ela alcance um público amplo, não só quem conhece e já frui a Clarice”, ressalta. Assim, o público é convidado a assistir à obra como se estivesse virando as páginas de um livro, com uma construção narrativa dividida em episódios que passam pelos oito contos da autora.

“Não sinto diferença em criar um espetáculo para criança e para adulto. Cada um tem uma particularidade que acessa alguma coisa”

‘Brincar de pensar’, por Vanessa Bruno

  • 4 de março a 5 de abril
  • Gratuito – ingressos devem ser retirados 1 hora antes de cada espetáculo
  • Todas as apresentações são na cidade de São Paulo
  • Dias marcados com * possuem tradução em Libras

  • Teatro Alfredo Mesquita
  • 4* e 5 de março (sábado e domingo), às 16h
    Endereço: Av. Santos Dumont, 1770 – Santana
    Após as apresentações, estão programados debates com a diretora Cristiane Paoli-Quito (4 de março) e o encenador e contador de histórias Victor Cantagesso (5 de março)

  • Teatro Paulo Eiró
  • 11 e 12* de março (sábado e domingo), às 16h
    Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro
    Após as apresentações, estão programados debates com a dramaturga e atriz Andrezza Czech (11 de março) e a consultora em acessibilidade Livia Motta (12 de março)

  • Centro Cultural da Diversidade
  • 21 e 22* de março (terça e quarta), às 11h
    Endereço: R. Lopes Neto, 206, Itaim Bibi
    Após as apresentações, estão programados debates com a dramaturga e escritora de livros infantis Fernanda Suaiden (21 de março) e com um convidado a confirmar (22 de março)

  • Centro Cultural São Paulo – Espaço Cênico Ademar Guerra
  • 24, 25* e 26 de março (sexta a domingo), às 16h
    Endereço: Rua Vergueiro, 1000, Paraíso
    Após as apresentações, estão programados debates com a psicóloga e professora Cris Torres (25 de março) e o ator e influencer Odilon Esteves (26 de março)

  • Teatro Flávio Império
  • 29* de março e 5 de abril (quartas), às 14h
    Endereço: R. Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba
    Após as apresentações, estão programados debates com convidados a confirmar

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