Síndrome inflamatória multissistêmica é a doença que demanda mais atenção, porque pode atingir o coração
Das doenças atreladas à covid-19, síndrome inflamatória multissistêmica é a que requer mais atenção pela possibilidade de causar sequelas no coração.
Após quase dois anos de pandemia de coronavírus, vacinação tardia dos pequenos e intensificação da crise sanitária devido à alta transmissibilidade da variante ômicron, informações sobre sequelas da covid-19 em crianças têm chamado a atenção. Segundo estudo (em inglês) do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, quatro em cada dez crianças e adolescentes estão apresentando diversos efeitos prolongados da covid-19 nas 12 semanas seguintes à contaminação, como a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P).
A doença tem preocupado pais e responsáveis pela possibilidade de afetar o coração, causando sequelas como miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e insuficiência cardíaca. Até janeiro, mais de 2.400 casos da SIM-P acometeram crianças, segundo levantamento realizado pelo Instituto Butantan.
A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) é uma complicação associada à covid-19 que pode ocorrer em crianças e adolescentes. A doença é caracterizada por uma resposta inflamatória tardia e exacerbada, que acontece, geralmente, de 4 a 6 semanas após o contato com o vírus. Apresenta sinais e sintomas variados que podem afetar os diversos sistemas que fazem nosso corpo funcionar, principalmente o sistema cardíaco. Entre os sintomas, segundo o Guia de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde, podem aparecer febre alta, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, conjuntivite, disfunções cardíacas, hipotensão arterial, choque. A doença também pode causar aneurisma da artéria coronária.
Apesar de rara (1 caso a cada 3.000), grande parte dos casos evoluem para a forma grave, com necessidade de internação. As manifestações clínicas podem aparecer de forma simultânea ou ao decorrer da evolução clínica, com a presença de sintomas respiratórios ou não. Como a doença é de difícil diagnóstico, é importante um acompanhamento adequado da criança que apresentar sintomas.
“O cenário ressalta a importância da vacinação das crianças, cabendo a reflexão sobre a responsabilidade dos pais em relação aos filhos e as consequências do descumprimento desse dever legal”, avalia, em nota, a Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.
Além da SIM-P, outras sequelas da covid que podem afetar crianças e adultos são: alteração de troca de função pulmonar (principalmente da capacidade de difusão do oxigênio), dores de cabeça, perda do olfato e paladar.
De acordo com um estudo veiculado pela USP sobre sequelas da covid, após contraírem o vírus, depressão, ansiedade e/ou estresse pós-traumático foram relatados por mais da metade dos 425 participantes adultos que participaram da pesquisa.
“Não se sabe ainda como o covid-19 tem afetado psicologicamente crianças e adolescentes, mas um estudo (em inglês) publicado no JAMA Pediatrics, em 2021, mostrou que, no primeiro ano de pandemia, cresceram cerca de 25% os casos de depressão e 20% casos de ansiedade em crianças e adolescentes”, conta Marina Maia Cavalcanti, médica neuropediatra da CP Human Clínica Médica. Além dos sintomas de doenças físicas, os pais também devem ficar atentos a sinais como mudança repentina de humor (ou oscilação frequente), irritabilidade extrema, frustração, falas de menos valia e/ou isolamento social.
Para construir um espaço seguro de conversa, Marina pontua que “se mostrar como ouvinte interessado e dar valor às queixas” são algumas das possibilidades para lidar com crianças que estão passando por períodos turbulentos. “Para elas também é um momento difícil, com perdas e sentimentos negativos associados”, finaliza, reforçando a necessidade do acolhimento de pais e responsáveis para atravessar momentos complicados junto de seus filhos e suas filhas.
Ter a consciência de que “crianças são indivíduos com suas peculiaridades, desejos e sonhos” é um começo para cuidar da saúde mental das crianças
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