Para toda a família: revendo hábitos de consumo dentro de casa

Atitudes mais ecológicas envolvendo as crianças no dia a dia são uma forma de cuidar do futuro, estimulando uma infância mais saudável e livre de consumismo

Da redação Publicado em 03.11.2021
Na foto, mãe e filho selecionam tomates em uma feira livre. Ambos têm pele clara e sorriem enquanto escolhem. A imagem possui uma intervenção de moldura na cor rosa.
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Resumo

Os adultos e as crianças precisarão de novas maneiras de pensar e agir para enfrentar os desafios da crise climática. Preparamos uma lista de ações que impactam positivamente a saúde coletiva do planeta, além de ser um primeiro passo para a educação ambiental.

Quando compramos um determinado produto, é preciso ter em mente que, além do desperdício e da má exploração de recursos naturais, sua produção envolve poluição industrial e seu empacotamento gera problemas de resíduos descartados indevidamente. Em 2020, objetos feitos pelo ser humano superaram a marca de toda a vida na Terra e a estimativa para 2040 é triplicá-la, se nada for feito. Ter consciência de que somos responsáveis por aquilo que consumimos e descartamos pode levar famílias a trilharem um caminho alternativo e repensarem seus hábitos de consumo em casa, desde cedo, junto das crianças.  

Levando em conta que as crianças precisarão de novas maneiras de pensar e agir para lidarem com os desafios do futuro, o Lunetas preparou uma lista de ações que impactam positivamente a saúde coletiva do planeta, além de ser um primeiro passo para a educação ambiental.

Caminhos para rever hábitos de consumo dentro de casa

  • 1  Priorizar o aleitamento materno

Comecemos pelo início da vida. Não há dúvidas sobre os benefícios do leite materno para a saúde e o desenvolvimento do bebê. Mas você sabia que amamentar também é um ato ecológico? 

O leite materno é gratuito, dispensa empacotamento e está pronto para ser usado. Sua produção ocorre de acordo com as necessidades do bebê, não havendo desperdícios, ao contrário do que acontece na compra de mamadeiras, bicos e outros acessórios feitos de plástico, vidro, borracha e silicone.

O estímulo ao aleitamento humano atende aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas ao promover saúde, bem-estar e menor poluição do ar e das águas, segundo a Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA). A organização defende que essa é uma forma de consumo responsável que também diminui a exploração animal e o desmatamento provocados pela produção leiteira. 

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o aleitamento materno ocorra por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos seis primeiros meses. Caso isso aconteça, durante esse período, grande parte das mulheres não menstrua e não necessita de absorventes, o que diminui a necessidade de fibra, alvejantes, empacotamentos e descarte.

  • 2  Trocar fraldas descartáveis por fraldas de pano

Elas são as campeãs dos chás de bebê. A praticidade das fraldas descartáveis faz com que se tornem essenciais para muitas famílias durante os primeiros anos de vida das crianças. Apesar disso, seu impacto na saúde e no meio ambiente tem sido questionado, dando espaço para a volta, com maior qualidade e conforto, das fraldas de pano e biodegradáveis. 

Sempre que ouvir a palavra “descartável”, desconfie. Esse descarte geralmente é feito às custas do corte de árvores, extração de petróleo, uso de água e produtos químicos – matéria essencial utilizada no caso das fraldas descartáveis. Se elas levam centenas de anos para se decomporem na natureza, imagine o impacto ambiental causado apenas nos dois primeiros anos do bebê, considerando a demanda diária pelo produto. 

Em 2014, o Brasil vendeu 7,9 bilhões de fraldas descartáveis, ocupando a terceira posição em consumo mundial do produto, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). 

  • 3  Repensar a rotina alimentar das crianças

Uma sociedade mais saudável passa, diretamente, pela qualidade da nutrição. Por isso, o cardápio familiar pode ser repensado a partir do trajeto que a comida percorre até chegar ao prato dos filhos: investigue! 

Dados obtidos pela Public Eye, em parceria com a organização de jornalismo investigativo Unearthed, indicam que o Brasil é o segundo maior comprador mundial de agrotóxicos fabricados e proibidos na Europa.

O setor brasileiro de alimentos também é responsável por 19% do total do uso de artigos plásticos no país, ficando atrás apenas da construção civil, com 25,7%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). 

  • Em vez de bolachas recheadas, salgadinhos e qualquer comida enlatada ou empacotada, por que não priorizar alimentos in natura (frescos e sazonais)? Além de maior valor nutricional, eles geram menos impacto à natureza. Evite comprar frutas, verduras e legumes embalados em plásticos, alumínios ou bandejas de isopor. 
  • O ideal é que sejam escolhidos alimentos oriundos de manejos ambientalmente saudáveis (ou seja, o ciclo completo de preparo de terra ao beneficiamento de uma determinada cultura), em que há pouca ou nenhuma utilização de produtos químicos que possam contaminar o solo, o ar, a água e o próprio alimento. Priorize as feiras e compras diretas com agricultores da sua cidade. 
  • 4  Diminuir o consumo de plástico

Já imaginou mares com mais plásticos que peixes? Se mantivermos o consumo e o descarte desse material como estão, esse será o cenário de 2050. Todos os anos, 8 milhões de toneladas de plástico alcançam as águas, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). São sacolas, canudos, tampinhas e garrafas PET: 60% a 90% do lixo encontrado nos oceanos já é composto por plásticos. 

Além do consumo de alimentos in natura, que diminui a utilização de plástico, como citado anteriormente, há outras possibilidades: 

  • No lanche da escola, você pode substituir as lancheiras de plástico por papéis de pão, embalagens recicladas ou sacolas de tecido. 
  • Em aniversários e piqueniques, os copos de plástico podem dar lugar aos reutilizáveis. Os talheres descartáveis ou de metal podem ser substituídos pelos de bambu ou materiais biodegradáveis. Os pratinhos também podem ganhar soluções criativas e de mais afeto, como serem feitos de folhas de bananeira cortadas. 
  • Não esqueça de eliminar os canudinhos da vida das crianças: eles contêm polipropileno e poliestireno, que podem levar até mil anos para se decompor.
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Believe.Earth

Entenda o impacto individual do consumo de plástico

  • 5  Incentivar um brincar mais sustentável

A maioria dos produtos consumidos é projetada pela indústria para ter uma expectativa curta de vida. Os brinquedos não fogem da regra. Considerando que, em todo o mundo, 90% deles são feitos com plástico, é possível calcular o impacto ao meio ambiente provocado por uma infância estimulada pelo consumo de passatempos descartáveis. 

A pesquisa pioneira “Infância Plastificada: O impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente”, encomendada em 2019 pelo programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, apontou que 71% da publicidade infantil é destinada a brinquedos. Apesar de ser ilegal e abusiva, esse tipo de mensagem ainda atinge as crianças, que têm forte influência nas tomadas de decisão de compras da família. 

O estudo ainda estimou que 1,38 milhão toneladas de brinquedos de plástico serão produzidos no Brasil entre 2018 e 2030. Por conta da mistura de diversos materiais que os compõem, sua reciclabilidade se torna praticamente inviável. 

Ajude a incentivar uma infância com mais fantasia e menos consumismo. 

A indústria têxtil também faz parte do ranking dos poluidores mundiais. Em apenas um ano, ela consome de água o equivalente a trinta e dois milhões de piscinas olímpicas. É o que indica o relatório Pulse of the Fashion Industry. Segundo o mesmo documento, os descartes do setor atingem mais de 92 milhões de toneladas de lixo, e somente 20% destas peças jogadas fora são reutilizadas.  

Aliado do bolso e do planeta, o consumo consciente de roupas pode começar desde a preparação do enxoval do bebê e se tornar um hábito familiar. 

  • Procure doar e receber roupas. Os pequenos crescem rápido e dificilmente uma peça servirá por muito tempo. 
  • Troque com outros pais e mães.
  • Faça pequenos reparos e transforme.
  • Reutilize os tecidos como matéria prima para outros produtos. 
  • Já experimentou os brechós infantis? Essa pode ser a oportunidade que faltava para aderir ao mundo da economia circular. 
  • Não se esqueça de dispensar as caixas e embalagens durante as compras.  
  • 7  Rever os hábitos de higiene pessoal dos pequenos

Os produtos de beleza e higiene pessoal também são protagonistas da crise climática. Os shampoos e sabonetes usados pelos pequenos diariamente podem conter substâncias nocivas para as crianças, pecar no excesso de embalagens, gerar desmatamento, aumentar o uso de agrotóxicos para sua produção, ser testados em animais, contaminar lençóis freáticos (e diretamente a água que bebemos) e ser prejudicial para a biodiversidade do planeta. A agropecuária utilizada para este fim, por exemplo, é uma atividade que emite grande quantidade de gás carbônico e de gases formadores do efeito estufa. 

Dependendo dos componentes contidos no produto, ele pode poluir ainda mais os rios e os lençóis freáticos ao sair pelo ralo da pia ou do chuveiro. Além de evitar os banhos demorados e economizar luz nas horas da higiene pessoal, outras atitudes podem revolucionar a relação da sua família com a  natureza. 

  • Observe as marcas que você utiliza, dando prioridade a produtos com matéria prima orgânica.  
  • Evite produtos de higiene pessoal com frascos oferecidos em hotéis, brindes e promoções. As embalagens infantis adoram fazer apelo aos pequenos.
  • Prefira sabonetes sólidos naturais nus, em embalagens de papel ou material biodegradável. 
  • Você também pode substituir a escova de dentes e de cabelo das crianças pelas de cabo de bambu ou madeira. 
  • Procure alternativas de substâncias naturais que se adaptem à pele, cabelos e ao corpo do seu bebê ou criança. Óleos essenciais e vegetais, manteigas naturais, cera de abelha e bicarbonato de sódio estão entre os preferidos dos produtos ecológicos infantis. É bom para a nossa saúde e para a biodiversidade do planeta!
  • 8  Ensinar as crianças a compostar e separar o lixo

O descarte adequado é importante, pois reduz os impactos ambientais do consumo. É fácil relacionar economia de papel, água e energia à preservação da vida para as futuras gerações. Mas e o lixo, por que ele é importante e tem relação direta com as mudanças climáticas?

Quando falamos em “lixo”, na verdade, estamos nos referindo aos resíduos (que ainda têm utilização possível por meio da reciclagem ou reutilização) e aos rejeitos (aqueles que não podem mais ser utilizados). Quando separamos o lixo, por exemplo, estamos facilitando seu tratamento. A reciclagem correta, que torna um resíduo sólido em matéria-prima novamente,  evita parte dos processos de produção e da emissão de gás carbônico, o mais nocivo dos gases do efeito estufa.

A compostagem, que é a reciclagem dos resíduos orgânicos, também ajuda a diminuir as sobras de alimentos e pode ser feita em casa. Ensinar as crianças a fazer uma composteira pode ser uma atividade divertida e o ponto de partida para gerar o adubo necessário para uma horta caseira. No processo de decomposição, fungos e bactérias transformam a matéria orgânica em húmus, um material fértil e rico em nutrientes. 

Como envolver a família toda na gestão de resíduos?

As crianças são capazes de entender aquilo que lhes é explicado. Mas nenhuma linguagem técnica sobre alterações climáticas e degradação de ecossistemas pode ser verdadeiramente potente se entrar em contradição com a experiência vivida. A biodiversidade necessária para a manutenção da vida na terra também é um valor que se cultiva na convivência social, por meio do cuidado. A vida é um grande livro aberto e tudo começa pelo exemplo. 

* As ideias e sugestões trazidas nesta matéria são uma forma de estimular que nós, adultos e crianças, possamos rever nossos hábitos de consumo e tenhamos uma atitude mais sustentável. Contudo, sabemos que ações individuais, sozinhas, não são a solução para enfrentar a emergência climática ou evitar desastres ambientais. A solução deve vir da união global entre estados, empresas e organizações comprometidas em garantir um meio ambiente saudável para as atuais e futuras gerações. 

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