O perigo de crianças expostas à publicidade infantil ontem e hoje

Palestrantes debatem possibilidades para que as crianças sejam livres de publicidade, embora elas estejam cada vez mais inseridas no olho do furacão digital

Da redação Publicado em 17.11.2021
Na foto, um menino de pele clara olha para a tela de um notebook. Ele está de costas e usa uma camiseta branca. A imagem possui intervenções coloridas.
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Resumo

Como a exploração comercial infantil se mostra atualmente? Que aprendizados as experiências passadas trazem? Palestrantes no evento “As crianças na era da convergência digital” discutem perspectivas sobre publicidade infantil ontem e hoje.

Você sabia que as crianças são expostas à publicidade infantil a cada três minutos? Apesar de ser uma prática ilegal e abusiva, a velocidade que as informações se espalham no ambiente digital dificulta o controle da recepção infantil a anúncios, fomentando práticas consumistas já na primeira infância. 

Além do estímulo ao consumo tradicional, muitas crianças atuam como youtubers e/ou influencers mirins: atividades que são consideradas trabalho quando realizadas por adultos, ainda são relativizadas quando feitas por crianças.

No primeiro dia do evento “As infâncias na era de convergência digital – 4º Fórum Internacional Criança e Consumo”, Deh Bastos (iniciativa Criando Crianças Pretas), Humberto Baltar (coletivo Pais pretos presentes) e Inês Vitorino (LabGrim – UFC) conversam sobre a exploração comercial infantil ontem e hoje. Também participam Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo, Ana Lúcia Vilela, presidente do Instituto Alana, e Pedro Hartung, mediador do painel. 

“Criança precisa ser livre para ser criança”

E isso só é possível em um mundo onde a publicidade não seja predatória desde a primeira infância. Além de massivo, o consumo sempre foi direcionado a e pensado por pessoas brancas, sendo comum que muitas crianças negras não tivessem referências para se enxergar com amor. “A mídia, a própria formatação do comercial na televisão, que era o que me atingia quando eu era criança, fez parte desse imaginário permeado pelo racismo. Era um lugar onde eu não me via. Isso é muito cruel e perverso para a infância”, conta Deh Bastos. Muitos pais ignoram que o consumo na infância molda personas de consumo, afetando a percepção que os pequenos têm desde cedo sobre si e o mundo. A publicitária também reflete sobre o espaço do ócio na rotina das crianças:

“Eu sou contra o hiperestímulo, criança precisa de tédio. Criança precisa dar mais trabalho do que deixar o filho apenas na internet”

Para Inês Vitorino, a convergência digital reflete no significado de “publicidade 360º”: “ela não só está em todo lugar, como está concebida para estar em todo lugar”, conta. Os produtos já nascem transmídia e o estímulo ao consumo vêm de diferentes formatos, sendo mais difícil preservar a criança nesse novo ecossistema. Inês ressalta que essa é uma missão não apenas das famílias, mas também de escolas: “se essa cultura invade a vida da criança, a escola tem que tratar, discutir, e não ser espaço de marketing”. Diversas ferramentas educacionais inclusive trazem hiperestímulo a curtidas e outros comportamentos que alimentarão bancos de dados para publicidade infantil posterior, aponta. 

Para Humberto Baltar, o consumo também direciona impressões sobre o lugar social em que as crianças pretas ocupam. Como muitas vezes o consumo está atrelado diretamente à leitura social recebida pela pessoa, múltiplos desdobramentos surgem a partir das relações interpessoais atravessadas pelo consumo. “A gente entende que se não tiver determinados símbolos de poder, status, de um lugar social, a gente não vai ser reconhecido”, conta. “Se eu saio com determinado relógio, a forma de me tratarem é uma. Com outro relógio, a forma já muda. Isso faz com que a gente pense em tudo isso na criação do nosso filho”, diz.

Após o painel, foi lançada a publicação “O futuro da infância no mundo digital – ensaios sobre liberdade, segurança e privacidade”; a palestra internacional “Infâncias, consumo e big data”, com Jeff Chester (Center of Digital Democracy, EUA); e o encerramento ficou por conta da cantora Luedji Luna, com as canções “Banho de folhas” e “Ameixa”, feita para o filho Dayó, de 1 ano, em parceria com o marido Zudizilla. 

O primeiro dia de evento está disponível na íntegra no canal do YouTube do programa Criança e Consumo e você pode acompanhá-lo aqui:

* O painel “Exploração comercial infantil: consumismo ontem e hoje” faz parte da programação do evento “As infâncias na era de convergência digital – 4º Fórum Internacional Criança e Consumo”. A programação completa pode ser conferida mediante cadastro gratuito no site do Criança e Consumo.

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