Projetos dedicados a democratizar o acesso à literatura desde a infância promovem a leitura entre crianças de escolas públicas e em vulnerabilidade social
A literatura cumpre seu papel social se acessível a todas as pessoas, como um direito. Conheça projetos que buscam garantir a democratização do acesso à literatura desde a infância, sobretudo entre crianças de escolas públicas e em vulnerabilidade social.
A função social da literatura infantojuvenil permeia as propostas desses projetos apresentados pelo Lunetas. Eles têm como objetivo comum democratizar o acesso aos livros e contribuir para a formação de sujeitos críticos e cidadãos mais participativos. Afinal, literatura é um “direito inalienável”, defendia Antonio Candido.
“A literatura é o sonho acordado das civilizações”
O Projeto Ubuntu é 100% colaborativo arrecada doações de livros infantis para montar bibliotecas (a primeira será no Povoado Leite, no Maranhão). Para ajudar, cada um pode escolher o livro que deseja doar contra emissão de boleto (sem frete) ou doar um livro usado em boas condições. O objetivo é que “todas as crianças, sejam elas pobres ou ricas, negras ou brancas, tenham o mesmo acesso à leitura e possam traçar um caminho rico em possibilidades.”
Há cinco anos, o programa de voluntariado Myra busca estimular o hábito da leitura entre crianças. Os encontros presenciais em escolas públicas e ONGs de São Paulo se adaptaram para o formato on-line. E os estudantes do 4º ao 6º ano do ensino fundamental acessam de casa sessões semanais formativas com um voluntário (profissionais das áreas de educação, cultura, artes, comércio, letras ou aposentados) para ler diferentes gêneros e formatos. Para o programa, a leitura é “um direito de todos e via de acesso aos bens culturais construídos pela humanidade”.
Para combater a vulnerabilidade social por meio da ação cultural e da democratização da literatura, o projeto Rodas de Leitura promove encontros virtuais semanais de escritores com crianças e jovens da rede pública de ensino da Favela da Malacacheta, no Morro do Alemão, Rio de Janeiro. Escritores são escolhidos pela curadoria, todos recebem um exemplar do livro trabalhado e professores especializados promovem a mediação em torno das obras direcionadas a faixas etárias específicas (5 a 8 anos; 9 a 12; e 13 a 21 anos). A interação com os autores acontece no último encontro de cada ciclo.
Projeto social busca incentivar o hábito da leitura infantil a partir da captação, seleção e doação de livros infantis a instituições que atendem crianças (hospitais, ONGs, creches e escolas por todo o país). O planejamento prevê quatro ações por ano. E inclui contações de histórias com os pequenos nas instituições, além de oferecer um kit com um livro indicado para cada idade.
A rede LEQT (Leitura e Escrita de Qualidade para Todos) reúne cerca de 80 organizações não governamentais. Além de bibliotecas públicas e comunitárias, institutos, editoras de livros e especialistas em leitura e escrita que trabalham pela promoção da leitura, da educação e da cultura, lutando para que esses direitos sejam garantidos no Brasil. A rede ainda atua no monitoramento de políticas públicas do livro e da leitura. E realiza mapeamentos territoriais, formula indicadores, pesquisas, campanhas e ações de advocacy para estimular o poder público e a sociedade civil a fomentar bibliotecas, mediadores de leitura e outros instrumentos de difusão do livro no país.
Nascida em 2012 na esteira da Lei 12.244/10, a campanha “Eu quero minha biblioteca” atua na “produção e divulgação de argumentos para defender a importância da biblioteca da escola, preferencialmente aberta à comunidade, informações sobre recursos públicos que podem ser acessados para viabilizá-las e caminhos de incidência da sociedade civil junto ao poder público”.
O projeto Estante Mágica torna crianças protagonistas de suas próprias histórias: elas desenham e escrevem livros, com direito à sessão de autógrafos no final. No processo de escrita, é valorizado o desenvolvimento do gosto pela leitura, escrita, autoestima, expressão de sentimentos e outras competências socioemocionais para tornar as crianças mais confiantes de seus potenciais.
Criar interesse pela literatura não precisa ser uma tarefa difícil. No projeto “Literatura Postal”, histórias clássicas se transformam em narrativas cheias de vida com o recurso de realidade aumentada. Postais, trilhas, Libras e ilustrações se unem à tecnologia para oferecer uma experiência diferenciada, onde o ato de ler também pode se tornar uma brincadeira.
Criada pelo grupo de leitura “Nós no mundo” em parceria com a pesquisadora Ayodele Floriano Silva, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), “SacoLê” é uma minibilioteca itinerante com livros infantis que trazem personagens negros em destaque. O acervo possui 80 títulos selecionados a partir da pesquisa de mestrado “Personagens negras infantis: retalhos de histórias”. Desenvolvida por Silva, ela identificou como os livros podem auxiliar no combate ao racismo por meio da valorização da cultura negra.
A “lei das bibliotecas escolares” estabeleceu em caráter obrigatório a instalação de bibliotecas em todas as instituições de ensino básico do país, das redes públicas e privadas. Com acervo mínimo de um livro para cada aluno matriculado e um bibliotecário por escola, até 2020. Apesar disso, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, apenas 45,7% das escolas públicas contam com bibliotecas ou salas de leituras.
Ano passado, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 9.484/18, que cria o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE) para incentivar a implantação de bibliotecas escolares, promover a melhoria do funcionamento da atual rede de bibliotecas escolares, definir a obrigatoriedade de um acervo mínimo de livros e materiais de ensino, além de buscar prorrogar para 2024 o prazo para a universalização das bibliotecas escolares.
Com a hashtag #LivrosParaTodos, a revista Quatro Cinco Um também pede mais bibliotecas, mais políticas públicas para o livro e para a leitura, e mais compromisso da iniciativa privada com a valorização da leitura.
Segundo pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Pró-Livro, o fato de uma escola ter uma boa biblioteca impacta diretamente no nível de aprendizado dos estudantes medido pela Escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), sobretudo entre aqueles que estudam em áreas mais vulneráveis do ponto de vista social e econômico.
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