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Pouco açúcar, muito afeto: 3 receitas para a hora da sobremesa

Imagem para ilustrar a matérias de receitas de sobremesas caseiras mostra uma fatia de bolo recheado com creme de avelã.

Você lembra qual foi seu primeiro contato com açúcar? Por melhor que seja a sua memória, dificilmente terá acertado a resposta: no leite materno. “Graças a esse apelo profundo, os alimentos ricos em açúcar estão hoje entre os mais populares e os mais consumidos no mundo”, diz o pesquisador americano Harold McGee. Por isso, não seria exagero dizer que a doçura desperta uma memória ancestral de conforto e prazer. Assim, dá para entender porque é difícil resistir a um docinho.

Apesar de considerar os problemas que o excesso de açúcar pode trazer, a sobremesa é parte da cultura alimentar. E ela pode ser um momento especial, que vai além da comida, como bem definiu Francisco, 9. “A sobremesa é a hora que a gente tem para esticar a conversa. Faço isso sempre com meu avô.”

Embora não fale espanhol, Francisco explica, com essa definição, o significado da palavra “sobremesa” nos países de língua hispânica. Mais do que a hora de servir um doce, ela é o momento em que as pessoas permanecem à mesa para conversar sem pressa, compartilhar lembranças e, assim, fortalecer laços construindo novas memórias.

Sem exageros mas com uma dose extra de carinho

Não é o caso de banir de vez os doces, mas é importante repensar. O mundo vive uma epidemia de problemas de saúde relacionados aos alimentos ultraprocessados que já nascem – sejam eles doces ou salgados –, com muito açúcar e sódio em suas composições. Nesse sentido, o pediatra e sanitarista Daniel Becker, explica que um dos caminhos é consumir menos e melhor. “Uma boa relação é aquela em que o doce é oferecido o mínimo possível, sem proibir”, diz. “Nossa cultura culinária e social já é muito açucarada. Por isso, é importante deixar os doces para ocasiões especiais, como comemorações, e evitá-los no dia a dia. Não podemos acostumar a criança a sempre ter um sabor doce após a refeição”, complementa Becker.

Sobremesa para quem?

Um relacionamento saudável das crianças com todos os tipos de comida começa na introdução alimentar. Assim, o ideal é que até os três anos elas não consumam alimentos adoçados e mel.

Isso porque alimentos com açúcar ou ultraprocessados são “hiperpalatáveis” e podem condicionar o paladar infantil rapidamente a sabores muito potentes, que deixam legumes e frutas sem graça. “Nos primeiros mil dias do bebê, então conhecidos como o intervalo de ouro, que vai da gestação até o final dos dois anos, é importante manter a alimentação com zero açúcar”, explica a nutricionista Lúcia Silveira Faccini. “É nesse intervalo que questões metabólicas e o paladar da criança estão se formando e ela está aprendendo sobre os novos sabores.”

Mas, nem sempre essa recomendação é seguida, já que crianças estão consumindo doces e ultraprocessados cada vez mais cedo e em grande quantidade. “O açúcar é muito viciante. A criança tem um prazer intenso quando começa a comer”, diz Becker. “Quando o pico de glicemia cai, ela quer mais e começa a ficar resistente a outros sabores. Se recusa a comer frutas, porque esse alimento não tem a mesma capacidade de gerar prazer para ela.”

4 Dicas para a hora da sobremesa

1.  Não acostume a criança a sempre ter um sabor doce após as refeições. Antes de tudo, você pode construir momentos especiais propondo brincadeiras ou que cada um conte uma história maluca.

2.   Sempre que possível, prepare a sobremesa em casa (assim você tem controle sobre ingredientes e quantidades) – e peça ajuda das crianças no preparo.

3.   Para algumas famílias, a ideia de ter um dia fixo para a sobremesa funciona; mas para outras não é o ideal e pode deixar a criança ansiosa à espera da recompensa. Nestes casos, é bom não ter um dia específico.

4.   O melhor ensinamento é pelo exemplo. Portanto, não tenha em casa doces e chocolates que não devem ser consumidos pela criança.

Menos e melhor

Nenhuma das receitas a seguir se propõe a substituir o açúcar ou a carregar o rótulo de saudável. Contudo, elas foram pensadas para ocasiões especiais e para ajudar toda a família a não colocar os doces no lugar do vilão. Todas ficam ainda melhores quando preparadas com as crianças!

RECEITAS

Creme de avelã (Nutella caseira)

As crianças vão adorar ver a transformação dos ingredientes em creme – e podem até preparar potes de presente para familiares, amigos e professores.

Rende 2 xícaras

Ingredientes

2 xícaras de avelã
3 colheres (sopa) de cacau em pó (sem açúcar)
3 colheres (sopa) de açúcar de confeiteiro*
1 colher (sopa) de óleo vegetal

Como fazer?

1. Asse as avelãs até que elas fiquem levemente douradas (entre 5 e 10 minutos)
2. Espere amornar, então coloque as avelãs em um pano de prato limpo, e use o tecido para remover as cascas
3. Bata as avelãs em um processador até obter uma pasta
4. Adicione os outros ingredientes e bata até o creme ficar bem lisinho

* Não tem açúcar de confeiteiro? Ainda assim dá para trocar por açúcar comum, peneirando antes para garantir que o creme não fique com gruminhos

Bolo de iogurte 1,2,3

O famoso “bolo de nada”, para comer com a nutella caseira num dia especial. Além disso, pode ir puro para a lancheira

Rende 1 bolo pequeno

Ingredientes

1 pote de iogurte natural
1 pote de óleo vegetal
2 potes de açúcar
3 potes de farinha de trigo
3 ovos
1 colher (sopa) de fermento

Como fazer?

1. Preaqueça o forno a 180ºC
2. Unte uma forma de bolo inglês
3. Misture todos os ingredientes, mas deixe a farinha e o fermento por último e mexa com uma colher de pau para combinar tudo
4. Leve ao forno a 180ºC por cerca de 45 minutos

Sorvete napolitano

Enfim, ninguém vai ficar chateado se só sobrar a listrinha rosa nessa versão “pura fruta” do clássico sorvete de domingo

Rende 8 porções

Ingredientes

6 bananas maduras cortadas em pedaços e congeladas
½ xícara de morangos congelados
2 colheres (sopa) de cacau em pó

Como fazer?

  1. Bata as bananas no processador ou liquidificador até que elas fiquem cremosas
  2. Separe o creme em três partes
  3. Bata uma parte do sorvete com os morangos – enquanto o restante do sorvete fica no congelador para não derreter
  4. Bata outra parte com o cacau
  5. Sirva a seguir

Gelatina de frutas

O mais legal dessa receita é propor que as crianças escolham os sabores e ajudem a bater as frutas. Por mais prático que seja, não vale apelar para os sucos de caixinha, afinal, eles contêm sempre muito açúcar

Rende 8 a 10 copinhos

Ingredientes

400 ml de suco natural coado ou de tangerina ou laranja
400 ml de suco coado de morango (ou melancia ou outra fruta vermelha)
400 ml de suco coado de uva ou de mirtilo
3 envelopes de gelatina em pó sem sabor

Como fazer?

  1. Dissolva um envelope de gelatina em 4 colheres (sopa) de água fria e leve ao fogo brando até dissolver a gelatina – mas cuidado para não deixar esquentar demais ou ferver
  2. Junte a gelatina ao suco e assim monte os copinhos
  3. Faça a primeira camada, leve à geladeira até firmar, então repita o processo

Um gosto ancestral

O gosto pelo sabor doce acompanha os seres humanos – que já consumiam mel e frutas secas, por exemplo – desde a Pré-História. Na Antiguidade, o historiador Heródoto (484 a 425 a.C.) registrou que os persas tinham como hábito encerrar as refeições com alimentos doces.

Na Europa, acredita-se que as sobremesas tenham surgido no século 16.  Até então, todos os pratos, doces e salgados, eram postos à mesa ao mesmo tempo.

Posteriormente, a produção massiva de cana-de-açúcar nos países no Novo Mundo ajudou a baratear e popularizar o açúcar entre os europeus. Já nos séculos 16 e 17, a sobremesa começa a ser servida no final da refeição.

No Brasil, a abundância de açúcar no início do século 16 ajudou a moldar o gosto e a confeitaria nacional – que de fato nunca precisou economizar no ingrediente tão cobiçado.

Em meados do século 20, a indústria alimentícia do país criou ingredientes que também vendiam praticidade, como o leite condensado, por exemplo. Mas, tal praticidade veio junto com receitas carregadas de açúcar. Desse modo, trouxe a galope um impressionante empobrecimento da confeitaria nacional. Segundo dados da própria Nestlé, 70% das receitas de doces brasileiros usam leite condensado.

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