Como a nova política para a primeira infância cuida das crianças?

Oferecer serviços integrados entre saúde, educação e cultura para crianças de zero a seis anos é o foco da Política Nacional Integrada para a Primeira Infância

Célia Fernanda Lima Publicado em 03.07.2024
Um grupo com quatro crianças sentadas no chão bate palmas. Todos vestem roupas coloridas. Atrás deles, há estantes com livros.
OUVIR

Resumo

Interligar vários setores do governo para ações de desenvolvimento das crianças menores de seis anos e monitorar a oferta de serviços essenciais são as principais propostas da Política Nacional Integrada para a Primeira Infância.

A promoção dos direitos das crianças no país avançou mais um passo com a Política Nacional Integrada para a Primeira Infância (PNIPI). Ela prevê a implementação de ações concretas para o desenvolvimento integral das crianças de zero a seis anos e o monitoramento dos projetos voltados a essa população.

A PNIPI visa conectar vários setores da administração pública. Isso para desenvolver e acompanhar projetos que garantem a assistência, educação e saúde das crianças desde a gestação. Entre as propostas principais, estão:

  • Criação de um Sistema de Informação Integrado da Primeira Infância: para organizar e integrar os dados das crianças e familiares e, assim, facilitar os atendimentos.
  • Oferta de serviços integrados: para garantir a assistência social, de saúde, educação e cultura.
  • Criação da Caderneta da Criança: para manter a comunicação constante entre famílias e cuidadores e os projetos sociais e de governo.

Durante a cerimônia de assinatura do decreto, a presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, disse que essa “é uma oportunidade de fazer as vozes das mães que estão cansadas serem ouvidas e construir uma política que integre todos os serviços que elas precisam para seus bebês”. Para ela, “nada é mais poderoso e mais inteligente do que um país priorizar a primeira infância porque uma criança que é bem cuidada consegue atravessar várias dificuldades que vai enfrentar na vida, principalmente se tiver uma infância pobre”.

Já para Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, trata-se de “um marco que reflete o compromisso do país com o futuro das crianças desde os primeiros passos”. Segundo ela, “colocar as crianças no centro das políticas públicas é colocar em curso uma ampla e efetiva estratégia de combate à causa-raiz das desigualdades. Isso trará benefícios não só para a primeira infância, mas para toda a sociedade”, diz.

A criação de uma política nacional para a primeira infância está prevista desde o Marco Legal da Primeira Infância, de 2016. Depois de pesquisas do Grupo de Trabalho (GT), quando representantes sociais e instituições, como o Instituto Alana, ouviram especialistas, governantes e famílias do país inteiro para identificar as principais demandas para a primeira infância, o decreto foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada. No lançamento da política, ele falou sobre a importância de cuidar das crianças e de firmar projetos concretos, principalmente para a educação integral. “Ao invés de pensar quanto custa fazer, a gente tem que pensar o quanto custou não fazer no tempo certo e não investir na hora certa. Eu quero fazer para as crianças o que a minha mãe não teve condições de fazer por mim.”

Integrar para garantir os direitos da primeira infância

A proposta da PNIPI é uma articulação entre as esferas municipal, estadual e federal. Desse modo, os recursos para a nova política virão de vários setores do poder público (Ministérios da Educação, Saúde e Cultura, por exemplo), além de contar com os orçamentos de governos estaduais e prefeituras.

A nova política também quer ampliar programas e ações para o atendimento e acompanhamento de bebês, crianças e famílias de forma integrada. Portanto, prevê o fortalecimento de políticas setoriais, como Saúde, Assistência Social, Educação, Proteção e Justiça.

Para especialistas e instituições ligadas aos direitos de crianças e adolescentes essa integração era uma das maiores urgências em relação à primeira infância. Isso porque deixa claro que as crianças devem ser prioridade absoluta para o governo e para a sociedade civil.

“A intersetorialidade traz uma nova maneira de abordar os desafios sociais, superando uma visão fragmentada e desarticulada em garantir os direitos das crianças”, afirma Ana Cláudia Leite, assessora de infância e educação do Instituto Alana. Assim, “vai incentivar a unificação de dados, o trabalho conjunto e o aumento do orçamento destinado à primeira infância”, comenta. Com isso, a PNIPI pode contribuir diretamente para serviços, como “ampliar as vagas em creches, garantir a cobertura vacinal e aprimorar programas de visitação domiciliar”.

Um país que cuida das crianças

Para Ana Cláudia Leite, a PNIPI é um importante passo para “reconhecer bebês e crianças como sujeitos de direitos. É preciso considerá-los na sua integralidade, sobretudo os mais vulneráveis, que costumam ter menos acesso aos serviços. Por fim, as famílias mais vulneráveis serão prioridade dentro da prioridade“.

“É importante priorizar a equidade entre as crianças mais vulneráveis – negras, indígenas, quilombolas, com deficiência e refugiadas. Assim como o enfrentamento ao racismo e a promoção da educação para as relações étnicos-raciais na primeira infância” – Ana Cláudia Leite

Nesse sentido, Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, também enfatiza a ideia de que todos precisam zelar pela infância. “Atualizando o ditado africano de que é preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança, reforço que é preciso de um Brasil inteiro para cuidar das nossas crianças“.

Ao mesmo tempo, ela propõe que a PNIPI seja destaque no G20, reunião dos países com as maiores economias do mundo que acontecerá em novembro. “Já que vamos sediar o G20, podemos anunciar que somos o primeiro país a ter uma política nacional integrada para a primeira infância. Portanto, será uma oportunidade de dar o exemplo de que aqui temos um país inteiro cuidando das crianças“, destacou.

Leia mais

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS