Crianças cantando “Passarinhos”, do Emicida, nos ajudam a refletir sobre o mundo hoje e o futuro que queremos deixar para as próximas gerações
Ao trazer crianças cantando “Passarinhos”, do rapper Emicida, convidamos à reflexão sobre o mundo em que vivemos e o futuro que queremos construir para as próximas gerações.
O canto do sabiá costuma despontar ao nascer do sol. Bem-te-vis e sanhaços acompanham a avezinha melódica, fazendo sinfonias variadas para avisar sobre mais um amanhecer. Se há árvores, não é difícil ouvir passarinhos ressoando seu rito de boas-vindas, que marca o despertar de quem levanta cedo para encarar os barulhos da urbanidade, que suprime o cantarolar das aves com trens, britadeiras, carros e helicópteros rasgando asfaltos e céus em altos decibéis.
O cotidiano em caixas de concreto não nos permite notar o lado de fora e perceber detalhes muitas vezes escancarados, seja por cegueira, cansaço ou autopreservação. Esse dia a dia apressado também não nos deixa escutar aquilo que realmente importa, como as palavras enunciadas por uma criança – elas que deveriam ter suas vozes amplificadas e potencializadas. Por isso, neste Dia das Crianças, meninos e meninas cantam a música “Passarinhos”, do rapper Emicida.
A canção é um convite para parar, olhar e refletir sobre a situação atual do mundo. Um recado urgente de que não estamos cultivando um futuro promissor. Nossas crianças – e pássaros – têm o direito de voar livres e conviver em um ambiente acolhedor, sem que suas vozes sejam silenciadas e seus corpos engaiolados.
“Carros em profusão, confusão
Água em escassez bem na nossa vez
Assim não resta nem as barata (é memo)
Injustos fazem leis e o que resta p’ocês
Escolher qual veneno te mata
Pois somos tipo
Passarinhos…”
Queremos construir um mundo onde nossas crianças possam ser livres para brincar, se expressar e “ser”. Não queremos que mais Ágatha, João Pedro, Kauã, Kauê e Otávio – e tantas outras crianças com suas vidas roubadas precocemente – percam a chance de ver esse mundo nascer. Queremos que as infâncias extrapolem essa dinâmica de produtividade, barulho e violência que dita quem vive e quem morre.
“Em colapso o planeta gira, tanta mentira
Aumenta a ira de quem sofre mudo
A página vira, o são delira, então a gente pira”
Mas os pássaros teimam em coexistir neste ambiente opressor que é a cidade – e a sociedade. Mesmo sem humanos que os ouçam, eles seguem cantando seus dó-ré-mi-fá entre copas de árvores e fios de eletricidade. Os pássaros sabem quando vai chover e se preparam com antecedência, enquanto alguns de nós ignoramos o alerta e deixamos o guarda-chuva em casa. Quando a primavera dá o ar da graça, eles cantam ainda mais alto para anunciar um novo tempo.
“Será que o sol sai pra um voo melhor?
Eu vou esperar, talvez na primavera”
A carta “Pássaros”, de número 12, simboliza no Baralho Cigano liberdade, harmonia e trocas que podemos ter com outras pessoas. Também questiona a forma como estamos levando nossa vida, pois um passarinho só pode cantar quando está livre para voar na direção que quiser.
Por isso, nós desejamos que a soberba adulta de achar que sabemos ou podemos dominar tudo caia por terra. Que, ao ouvir a música “Passarinhos” nas vozes das crianças, possamos mobilizar mudança de atitude e de comportamento para criar uma realidade mais justa, solidária, sustentável, inclusiva e possível para todos.
As respostas estão nos passarinhos. E nas crianças também.
Comunicar erro“Somos tipo
Passarinhos
Soltos a voar dispostos
A achar um ninho
Nem que seja no peito um do outro”