‘O ciclo sem fim’: memórias afetivas em 30 anos de ‘O rei leão’

Com lições de amizade, vínculo familiar e território, o enredo que inspira o público até hoje faz aniversário

Célia Fernanda Lima Publicado em 30.07.2024
imagem de capa sobre 30 anos do filme o rei leão mostra uma cena onde todos os personagem em animação estão juntos
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Resumo

Uma das animações de mais sucesso da década de 1990 completa 30 anos e ainda desperta memórias afetivas entre os fãs adultos enquanto cativa crianças da nova geração.

A história de um leão filhote, que perde o pai, foge de seu reino e retoma, já adulto, o vínculo com a família e com o território, encanta crianças do mundo inteiro há 30 anos. Em 1994, “O rei leão” chegava aos cinemas, sem a intenção de ser o filme dos estúdios Disney mais assistido, mas logo se tornou um clássico.

Depois de habitarem as memórias afetivas da infância da terapeuta ocupacional Fernanda Florêncio, as músicas e personagens marcantes como Simba, Nala, Zazu, Timão e Pumba também mexem com as emoções da sua filha Giovanna, 12. “Assistimos quando ela tinha quatro anos. Assim como eu, ela ficou encantada. Pude perceber que, conforme os anos passaram, o filme foi criando mais sentido em todos os valores que ele é capaz de ensinar.”

“‘O rei leão’ ensina sobre obediência aos pais e laços de família; lealdade aos verdadeiros amigos; o cuidado com seu lugar e a ter medo apesar do seu tamanho”

De geração em geração, Fernanda se emociona toda vez que lembra da ligação que tem com o filme: “Minha maior recordação é assistir na casa da minha avó porque minhas irmãs e eu ficávamos muito com ela na infância. E como não lembrar daquelas fitas em VHS e a ida até a locadora?”

Aliás, essa foi a primeira fita para videocassete que a família de Marcos Paulo Torre comprou, em Belo Horizonte (MG). De tanto que assistiu, ele diz que sabe as falas e as músicas de cor. “Acho que vi mais de mil vezes quando criança e já adulto.”

Desenhos que inspiravam crianças

Para ele, este é “o filme da sua vida”, pois a produção marcou os passos iniciais do que seria sua futura profissão de tatuador. “Os primeiros desenhos que fiz à mão no papel foram dos personagens de ‘O rei leão’. Lembro muito bem que eu pausava o vídeo para tentar desenhar o Simba. O filme marcou muito o meu início nas artes”, conta.

Mais tarde, os primeiros rabiscos desse e de outros personagens se transformaram em linhas profissionais. Assim, Marcos revela que, sempre que precisa produzir uma arte para o pedido de uma tatuagem sobre o filme, faz com mais afeto. “Quando estou tatuando ‘O rei leão’ em alguém, é como se eu voltasse a ser o menino que desenhava. Isso é muito nostálgico.”

“O rei leão” foi a animação desenhada à mão de maior público do mundo. A Disney ainda apostava nas histórias de princesas para manter os sucessos como “A Bela e a Fera”, e “A pequena sereia”. Por isso, o principal lançamento do ano foi o filme “Pocahontas”. Contudo, o enredo com personagens animais e canções que falavam sobre a vida e a amizade surpreendeu.

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Arquivo pessoal

Para a terapeuta ocupacional, Fernanda Florêncio, as memórias afetivas de "O rei leão" permanecem vivas ainda mais quando ela assiste com a filha, Giovanna, 12.

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Arquivo pessoal

O tatuador Marcos Paulo Torre lembra que o filme marcou seu início nas artes porque os primeiros desenhos à mão que fez quando criança eram de Simba.

Por que o filme cativa pais e filhos até hoje?

“A jornada do leão como um herói passa por vários acontecimentos que fazem cada um ver um pouco de si mesmo”, afirma a pesquisadora de Semiótica Julianna Formiga. Além disso, segundo ela, o filme “apresenta arquétipos e mitos e isso acaba capturando o público. São elementos como o ciclo da vida, a procura pelo ‘eu’, o abandono familiar, aprender a viver em um lugar diferente e a conexão com as origens”.

“Simba passa por um abandono familiar e vai viver em outra floresta. É quando encontra Timão e Pumba. Isso muda a sua jornada e seus hábitos, e o leva a perder, inclusive, o comportamento de sua natureza, como os hábitos alimentares, por exemplo”.

Para Fernanda Florêncio, “Hakuna Matata” também a ajudou a atravessar uma mudança de cidade na adolescência. “Aos 15 anos, saí do Rio Grande do Sul para morar em Tatuí, interior de São Paulo. Isso foi no auge da adolescência e me senti perdida, vivendo em uma cidade totalmente diferente. Além disso, todos os meus amigos ficaram para trás”, conta. “O pensamento do ‘Hakuna Matata’ me ajudou muito. Fui me encaixando, fazendo novos amigos e me adaptando ao local.”

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Para Julianna Formiga, o fato pode ter relação com a figura de Simba filhote. Isso porque, o personagem também representa “a criança interior de cada um”, diz. “É quando podemos ser mais alegres e autênticos, longe das expectativas alheias.”

Já Marcos Paulo Torre pôde acompanhar a emoção da esposa ao ver o filme em animação como se fosse uma estreia, diz. “Fiquei tocado em acompanhar a reação dela, principalmente com a morte do Mufasa. Era como se eu também estivesse assistindo pela primeira vez.”

A pesquisadora também afirma que uma das lições do filme é entender que existem ciclos que precisam ser respeitados. Porém, “mesmo com as dificuldades, ninguém pode tomar o seu lugar de origem”.

Entre tantas mensagens, a principal, para Fernanda, é “aprender que a vida não é sobre o que temos em bens materiais. Mas sim sobre o que deixaremos para a próxima geração, sobre ensinamento, sentimentos e boas recordações”.

Curiosidades sobre o filme

  • Adaptação

A produção e direção confirmou que o enredo da relação entre pai, filho e tio foi livremente inspirado no clássico “Hamlet”, de William Shakespeare. Porém, a Disney garante que o roteiro é inteiramente original, pois foi a primeira vez que uma história nova seria contada ao público depois de vários lançamentos de obras da literatura, como “Branca de Neve” e “Cinderela”, por exemplo. Mas, no Japão, o filme foi questionado por conter semelhanças com o anime “Kimba, o leão branco”. Apesar das críticas, a Disney negou as acusações de plágio.

  • Trilha sonora

Inesquecíveis até hoje, canções do filme como “O ciclo sem fim”, “O que eu quero mais é ser rei” e “Hakuna Matata” fazem qualquer adulto cantarolar e lembrar da infância. Além disso, a trilha sonora foi destaque nas premiações de cinema e levou o Oscar, em 1995. Já a canção “Nesta noite o amor chegou”, na voz de Elton John, venceu um Oscar, um Globo de Ouro e um Grammy.

  • Observando os leões

Para desenhar e dar vida aos personagens principais, a equipe de animadores foi observar leões e filhotes reais em seus habitats. Tudo para “trazer veracidade” aos movimentos e trejeitos dos felinos, já contou Rob Minkoff, codiretor do filme. Além disso, alguns desses bichinhos foram levados aos estúdios para melhor observação.

  • Continuações

O sucesso de público gerou várias continuações oficiais do filme ao longo dos anos. A lista inclui “O rei leão 2: o reino de Simba” (1998) e “O rei leão 3: Hakuna Matata” (2004); adaptações para musicais na Broadway; e a série animada “Timão e Pumba”, com as aventuras da dupla inusitada de amigos. Já em 2019, a Disney lançou um remake em live-action e, para celebrar os 30 anos, “Mufasa: o rei leão” chegará aos cinemas em dezembro deste ano.

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