100 anos da Disney: clássicos repaginados ou novas histórias?

No aniversário do estúdio, versões com mais representatividade convidam crianças e adolescentes a redescobrir os clássicos

Camila Santana Publicado em 29.11.2023
Imagem do filme A pequena sereia, da Disney, com Halle Bailey no papel da Ariel
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Resumo

No centenário da Disney, Lunetas reflete sobre quais são as histórias que as novas gerações querem ver nas telonas enquanto o estúdio se esforça em reformular clássicos como “A pequena sereia”, “A bela e a fera” e “Peter Pan”.

Para marcar as comemorações do seu centenário, os estúdios Disney revisitaram três dos seus grandes clássicos: “A pequena sereia”, “A bela e a fera” e “Peter Pan”. A fórmula adotada então foi combinar elementos de nostalgia a demandas contemporâneas por mais representatividade nos filmes. “São histórias que nos transportam de volta à infância e esta é a oportunidade perfeita para muitas pessoas transmitirem esse amor para a próxima geração”, diz Tony Chamber, chefe de distribuição da Disney.

Como parte das homenagens pelo centenário, também foi lançado este ano o curta-metragem “Era uma vez um estúdio”. A produção promove um encontro entre mais de 500 personagens que habitam o imaginário de meninos e meninas ao redor do mundo. Além disso, os filmes e séries do Disney+ estão organizados por década de lançamento na coleção Disney100.

Nesse sentido, a primeira aposta de modernizar suas produções aconteceu com “Alice no país das maravilhas”, em 2010. Depois de um hiato de cinco anos, veio a nova versão de “Cinderela”. Desde então, a Disney vem estreando anualmente remakes em live-action, remasterizações, versões musicais e adaptações teatrais de seus filmes de animação. É uma forma de convidar as novas gerações a redescobrir os clássicos, reforçar a marca e, assim, garantir sucesso comercial.

Apesar do impacto positivo de releituras mais diversas dos clássicos da Disney, Tamiles Alves, especialista em diversidade, equidade e inclusão, considera que ainda existe um longo caminho a percorrer para que essa superpotência do entretenimento deixe para trás as histórias de princesas que cristalizaram ideais de beleza e promoveram a passividade das personagens femininas, bem como construíram vilões baseados em estereótipos que podem estimular o preconceito contra grupos minoritários.

Histórias com mais cores, formas e sonhos

Embora tenha atendido tardiamente às demandas sociais, crianças e adolescentes “querem mais” do que velhos modelos sob uma nova roupagem. Muito além dos remakes, eles merecem histórias que tragam para o centro os dilemas, sonhos e conflitos da nova geração, como a luta pela preservação ambiental e os desafios para combater as desigualdades sociais.

Além disso, Alves defende a criação de princesas negras, indígenas, LGBTs e PcDs. “Estas pessoas existem e também precisam estar representadas em todos os espaços. Isso porque, em um mundo onde se normalizou ter apenas personagens brancos, é importante que haja uma desconstrução dessa ‘normalidade’ imposta.”

Em paralelo, segundo ela, também é preciso incluir pluralidade e equidade nos enredos e nas equipes de produção. “Sabemos que o caminho será longo e que poderá ter reações opostas, mas lutar por um mundo inclusivo é algo que não tem volta. E é, em síntese, o que todas as empresas devem fazer.”

Os personagens da Disney que também fazem aniversário

Os 50 anos de “Peter Pan & Wendy”

Com novos significados e ideias introduzidas ao enredo, o live-action “Peter Pan & Wendy” chegou à plataforma Disney+ este ano. No filme do diretor David Lowery, a personagem Wendy ganha mais destaque, o Capitão Gancho tem uma história mais humanizada e a icônica Sininho é interpretada por uma atriz negra. Além disso, é a primeira vez que um ator com síndrome de Down participa de filmes do estúdio.

Apesar das novidades e da pluralidade de personagens, a história sobre infância e passagem do tempo desapontou os fãs. O filme foi alvo de críticas por ter pouca magia e mais realismo. Nesta abordagem, a “Terra do Nunca” se transformou em um ambiente cinzento.

Os 30 anos de “A bela e a fera”

Depois de “A bela e a fera” receber diversas adaptações, desde espetáculos, shows televisivos e até um remake em live-action para os cinemas em 2017, a plataforma Disney+ lançou o especial “A bela e a fera: celebrando os 30 anos”, para comemorar o aniversário da animação vencedora de dois Oscars.

Combinando animação, interpretação, dança e apresentações musicais vibrantes, este novo espetáculo convida o espectador a se imaginar como parte da história. Enquanto isso, exalta o processo de criação, revela os bastidores, rascunhos originais e inspirações e processos de produção. Como diz Rita Moreno, apresentadora do especial, “o que define o legado de uma história é o seu impacto dentro e fora das telas”.

Além de um corpo de balé plural, com dançarinas de todas as idades e etnias diversas com o icônico vestido azul e avental branco, o público também conhece uma versão mais alegre e determinada da personagem Bela. Ao aceitar o papel principal, a cantora Gabriella Wilson, conhecida como H.E.R., aclamada pelo público jovem, avisou: “O mundo verá uma Bela negra e filipina!”

Leia também: Crianças se reconhecem na família Madrigal do filme “Encanto”

Os 24 anos de “A pequena sereia”

Grande sucesso de bilheteria no Brasil, a nova versão de “A pequena sereia” apresenta, pela primeira vez em uma adaptação cinematográfica com atores produzida pela Disney, uma protagonista negra. A atriz e cantora Halle Bailey no papel da espirituosa e aventureira Ariel comoveu meninas negras ao redor do mundo, desde o lançamento do trailer. “O filme recebeu muitos elogios e comentários de pessoas negras que se sentiram felizes por estarem representadas. Isso ajuda meninos negros e meninas negras a cada vez mais positivar, fortalecer e empoderar suas identidades e, assim, transformar o modo de estarem no mundo”, diz Tamiles Alves. “Por outro lado, houve comentários racistas e essas reações precisam ser encaradas como criminosas.”

Mesmo com um enredo bem similar ao filme original, a mudança da protagonista trouxe uma dimensão histórica ao recriar uma das heroínas mais aclamadas da Disney, além de outros significados, principalmente ligados à representatividade, liberdade e padrões de beleza.

Uma fábrica de sonhos

Durante uma sessão de “A pequena sereia”, em Campinas (SP), Maria Sereia, 8, e Moana, 5, duas garotinhas com nomes inspirados em filmes, mesmo em fileiras diferentes, compartilhavam em voz alta suas impressões sobre o longa-metragem.

Fascinadas pelas criaturas do fundo do mar, elas questionavam a decisão de Ariel em deixar de ser sereia. “Por que ela quer ir embora do mar?”. “Não entendi também. Ela deveria ficar brincando com as irmãs na água!”. “Sim, elas são tão lindas!”.

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