Livre demanda? Mas livre para quem? A prática requer um contexto familiar favorável e uma série de outros fatores. Veja o que dizem mães e especialistas
Muitas mães relatam se sentirem “escravas” da amamentação ao escolher a livre demanda. Como lidar com estes sentimentos? Conversamos com a consultora de amamentação Lorena Oliveira, e reunimos depoimentos das nossas leitoras sobre suas diferentes experiências.
O Ministério da Saúde recomenda que os bebês sejam amamentados sem restrições de horários e de duração das mamadas. Ou seja, que se respeite a livre demanda do bebê durante a amamentação. Nos primeiros meses, é normal que a criança mame com maior frequência e sem horários regulares. Em geral, um bebê em livre demanda, mama de oito a 12 vezes ao dia.
Quando a criança é amamentada sempre que solicita, ela aprende desde cedo a regular a ingestão de alimentos conforme a sua fome. Com esse aprendizado, o bebê corre menos riscos de sofrer com a obesidade infantil mais para frente.
Para entender como tudo isso funciona na prática, pedimos para que as leitoras do Lunetas compartilhassem suas experiências com a amamentação em livre demanda. Muitas mães comentaram dos grandes benefícios desta escolha e sobre como estão felizes.
São muitos relatos e muitos experiências diferentes. Diante disso, reunimos as principais dúvidas e angústias sobre este tema e conversamos com a consultora em amamentação Lorena Oliveira. Ela também concorda que decidir amamentar em livre demanda não é uma escolha fácil. Além de todo o processo psicológico e físico (cansaço e noites mal dormidas), o aspecto emocional é muitas vezes condenado por frases alheias desmotivadoras que insistem em declinar o processo.
As vantagens do aleitamento materno são muitas:
Ela também alerta que, para produção de leite não tenha redução, a mãe precisa estar descansada, sem estresse, e ter uma alimentação balanceada, além de ingerir aproximadamente três litros de água diariamente. “Enquanto a mãe amamenta, o companheiro ou companheira pode deixar uma garrafinha de água próxima, caso ela sinta sede ou um sanduíche se sentir fome”, atenta.
Lunetas – Muitas mães relatam se sentirem “escravas” da amamentação ao se entregarem a livre demanda. Como lidar com estes sentimentos?
Lorena Oliveira – Decidir amamentar em livre demanda não é uma escolha fácil. Além de todo o processo psicológico e físico (cansaço e noites mal dormidas), o aspecto emocional é condenado por frases alheias desmotivadoras. Essas que insistem em declinar o processo de amamentação em livre demanda, ou seja, sempre que o bebê quiser. É importante ponderar que esta é uma fase passageira e que o tempo voa.
É um período que favorece o fortalecimento de vínculo afetivo. Momento único e gratificante entre mãe e filho que não voltará mais, instante esse que permite consolidar o laço afetivo, o qual perdurará para sempre. Troca de olhares, amor mútuo, carinho no rosto da mamãe, são alguns dos gestos emitidos durante a mamada. E que provavelmente daqui a algum tempo se resultará em saudade, e você mãe, lembrará com muito carinho.
Além do sentimento aflorado, o leite materno é o melhor alimento que um bebê pode receber, por isso, além de o nutrir de sentimentos e acolhimento, está o alimentando, imunizando, e protegendo contra infecções gastrointestinais, urinárias, doenças respiratórias e otites, líquido de alimento e amor que ultrapassam qualquer fase ou obstáculo durante o processo de amamentação.
“Livre demanda: as mães podem escolher o quanto estão dispostas a a amamentar”
Quando se trata de livre demanda, é importante ressaltar que ela também está relacionada às mães, permitindo que elas escolham o quanto estão dispostas a amamentar, e para isso deve indispensavelmente haver o apoio familiar.
O cansaço existe. Mas para continuar mantendo a produção de leite e alimentando a criança diante deste contexto, as mães também podem optar por ordenhar o leite e estoca-lo na geladeira ou freezer (geladeira até 12 horas e freezer até 15 dias) e ofertá-lo por meio ,da técnica do copinho ou da colher. Não só a mãe, mas qualquer membro da família, pode oferece-lo ao bebê em um momento em que ela precise descansar.
Muitas mulheres também sentem que o período da amamentação exclusiva é um processo sem fim. Como viver cada momento e terminar este período com boas lembranças?
LO – O leite materno é melhor do qualquer outro leite ou fórmula que o possa substituir. Estudos comprovam que as crianças que são amamentadas ao seio materno exclusivamente até os seis meses de vida têm menos infecções, e não exibem déficit de crescimento.
O ideal é sempre pensar na saúde do bebê e que as ações que estão sendo promovidas agora, trarão grandes benefícios futuramente. Entretanto, o aleitamento exclusivo não beneficia apenas o pequeno, mas também a mamãe, onde favorece por exemplo, a proteção contra o câncer de mama e a diabete tipo 2.
“O ato de amamentar cria um sentimento singular de afeição entre mãe e bebê”
Sentir o cheirinho, a mãozinha sobre o seu rosto, a barriguinha tocando a sua pele, a boquinha extraindo alimento através do seu corpo, lhe permitirá se sentir eternamente grata e realizada por ter vivenciado esse momento.
Como conseguir se dedicar à amamentação em um momento em que as mulheres estão cada vez mais atarefadas e não querem ou podem estar sempre disponível para as mamadas?
LO – A maioria das mulheres atualmente trabalham e precisam conciliar a maternidade com a rotina habitual. Por isso, para que o aleitamento continue a todo vapor, é necessário o apoio familiar, principalmente do companheiro, que deve também realizar por exemplo, as atividades domésticas, limpar a casa, preparar o café da manhã, o almoço ou jantar.
Para que a produção de leite não tenha redução, a mãe precisa estar descansada, sem estresse, e ter uma alimentação balanceada além de ingerir aproximadamente três litros de água diariamente.
“A rede de apoio da mulher é fundamental na amamentação”
Enquanto amamenta, o marido pode deixar uma garrafinha de água próxima caso ela sinta sede ou um sanduíche se sentir fome. Ao terminar a mamada, ele também pode pegar o bebê e colocá-lo para arrotar e depois levá-lo para o berço e o acolher até adormecer. São atitudes simples, mas que fazem uma grande diferença.
Outra opção é ordenhar o leite materno. Quando a mãe realiza a ordenha do leite e faz a estocagem, ele pode ser descongelado e ofertado por qualquer outra pessoa. Essa é uma maneira de quando a mãe estiver exausta e precisando descansar, o marido, ou mesmo os avós, os tios, puderem dar alimentar o bebê. É imprescindível que essa oferta seja feita através do copinho ou da colher. A mamadeira não é indicada, pois ocasiona a confusão de bicos e pode promover o desmame precoce.
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Por que o leite materno é tão importante?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o leite materno deve ser oferecido até os seis meses como o titular da alimentação. No Brasil, a média de tempo que as mulheres amamentam é baixa. Cerca de 39 % das mães continuam amamentando depois que o bebê completa seis meses. Mas não é muito diferente do resto do mundo. Índia, Colômbia e Uruguai tem índices ainda menores. No mundo, apenas 36% dos bebês entre zero e seis meses foram amamentados entre 2007 e 2014. Em geral, o que acontece é que a maioria das mulheres começa a amamentar seus bebês recém-nascidos. Mas, com o avançar dos meses, as mulheres acabam desistindo da amamentação e a maior parte não chega a completar os seis meses recomendados.