O cuidado com o meio ambiente é uma missão de todos nós. Se você não sabe por onde começar, esses jovens são inspiração!
Conheça 8 jovens brasileiros que se dedicam ao ativismo ambiental e se inspire com o relato de suas trajetórias em projetos relacionados ao meio ambiente.
Da infância vivenciada em meio à natureza a uma juventude envolvida com ações relacionadas ao meio ambiente, apresentamos a trajetória de oito jovens Brasil afora envolvidos em projetos inspiradores de cuidado com o nosso planeta. Quando jovens que fazem ativismo ambiental compartilharem suas experiências, não vai faltar inspiração para você encontrar o seu jeitinho de tomar parte nesta luta e enfrentar a emergência climática que apresenta seus efeitos em nosso dia a dia e ameaça o futuro das crianças de hoje e de amanhã.
Natural de Pacoti, no Ceará, Charles Miller passou a infância “numa casa em cima de uma montanha”, na zona rural. Lá, a família “criava bichos e havia muitas árvores frutíferas, nativas ou plantadas”, conta. A conexão com a natureza desde cedo levou o menino a se interessar pela causa ambiental.
Junto do professor de História, em 2014, Charles e seus colegas resolveram conhecer a fundo a terra onde viviam e toda a sua biodiversidade. Para darem um retorno à população local e preservar o patrimônio cultural da cidade, criaram o Ecomuseu de Pacoti, o primeiro museu feito de plástico reciclado no Brasil. No projeto, premiado pelo Desafio Criativos da Escola, foram desenvolvidas ações como conscientização ecológica, por meio de trilhas; estímulo à criação de abelhas, com um meliponário próprio; projeto de astronomia com jovens da cidade; formação de guia de turismo rural na serra; e também a digitalização do acervo.
De lá para cá, muitos alunos entraram para o projeto e novas turmas foram formadas. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde cursou Engenharia Ambiental, Charles passou a se envolver com causas de educação ambiental nas escolas e se juntou a movimentos de organizações como o Greenpeace e o Fridays For Future, em Fortaleza.
Para ele, os principais desafios a serem enfrentados em relação à emergência climática em sua região têm a ver com a conscientização de pessoas, corporações, políticos e criadores de gado para reduzir a temperatura global e a emissão de CO2. Entre as consequências da mudança do clima que já podem ser sentidas está o problema de acesso à água, diz.
“Na região de serra, produtores de café no século passado derrubaram a mata para plantar o grão. Após o declínio do café, a mata voltou a crescer, mas sofremos com falta de água. Embora existam quatro empresas mineradoras de água na cidade – o que deveria garantir abundância de água -, há muita desigualdade no acesso”. Ele também cita o processo de desertificação, que vai sujeitar o semiárido a temperaturas mais altas e práticas ilegais, como o desmatamento e a caça ilegal; e a especulação imobiliária, pois, segundo ele, “as pessoas compram um terreno numa região de morro, perto de rios, e derrubam tudo para construir mansões, plantar grama…”.
Charles reconhece que o acesso a grupos de mobilização em relação à ação climática está mais concentrado na capital, “no interior, é como se nada disso estivesse acontecendo. Então, a capilaridade deveria ser maior, alcançando pequenos grupos e cidades, a partir de planos de ação nas escolas”, defende.
O passeio preferido de Giovanna Cristofoli quando criança era ir às praças com a mãe para abraçar árvores. A simpatia com a natureza e a conexão com o meio ambiente começaram aos 7 anos. Vem daí a ideia de precisar “cuidar da nossa casa”, diz. “Meu maior pesadelo era quando via alguém jogar lixo no chão ou pela janela do carro”.
Foi no início do ensino médio que Giovanna começou a ter ainda mais consciência sobre o ativismo, quando já questionava a indústria da carne e o agronegócio. Até que encontrou o Écoletivo, movimento ambiental de Salto, no interior de São Paulo, que promove ações locais chamando atenção para causas como a poluição do rio Tietê, por exemplo. “Comecei a estudar e me aprofundei nas pautas ambientais. Ações que antes eu exercia sozinha, agora, coletivamente, podem influenciar mais pessoas!”, comemora.
Para ela, “a crise climática é resultado de um sistema de produção, destruidor da natureza, que busca unicamente lucrar e acumular. Esse é o maior desafio a ser enfrentado”. Giovanna aponta ainda que povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pequenos agricultores deveriam estar à frente das tomadas de decisão, pois são “grandes alicerces que agregam nas questões climáticas e ambientais”.
“Eu não sabia da importância das árvores no planeta e de como anda o meio ambiente até participar de um evento de formação da Plant-for-the-planet, em 2016”. Na ocasião, Dionatan ficou encantado com o projeto, vindo a se tornar mais tarde Embaixador da Justiça Climática em Araranguá (SC) e representante da Plant. “Depois do projeto, eu virei uma nova pessoa, mais conscientizada”.
Apesar de crescer em uma cidade grande, Dionatan revela que sempre teve contato com a natureza: “Meus avós moravam no campo e lá havia muitas árvores. Na minha casa, também tem um lindo pé de laranjeira. Eu me recordo de, quando eu era menor, subir nesse pé e ficar lá a tarde toda”, diz.
Sobre os desafios climáticos, apesar de difíceis, Dionatan não os considera impossíveis. “As emissões de CO2 estão no vermelho, segundo um ‘termômetro mundial’. Isso é grave. Nós não podemos parar até ele estar no verde. O melhor jeito de fazermos isso é plantando árvores. Uma mudinha pode parecer um pequeno gesto, mas é uma grande coisa para o planeta. Também devemos parar de poluir. Lixo se joga no lixo, não nos mares ou na rua. Isso é uma forma de contribuir e agradecer por tudo que recebemos do meio ambiente”, conclui.
“Faz mais ou menos um ano que me envolvo com as questões ambientais. Eu não tinha ideia de que isso poderia ser tão legal!”, confessa Yasmin. Hoje, membro do movimento Protetores do Verde, ela pensa coletivamente em projetos que possam ajudar de alguma forma a natureza, luta junto de outras crianças para serem a voz de quem foi calado e para defender a importância da planta na terra. “Eu mesma já realizei a limpeza de uma parte de um rio”, orgulha-se.
Aluna do 6º ano da Escola de Educação Básica 30 de outubro, localizada em um assentamento em Lebon Régis (SC), ela também participa de atividades como horta escolar, relógio biológico com plantas medicinais e resgate de sementes crioulas. “Minha infância foi repleta de boas memórias com a natureza – desde plantinhas criadas em casa até grandes florestas. Porém, quando pequena, não cheguei a participar de quaisquer projetos sobre o assunto. Meus principais amores são os animais. Então, eu clamo por justiça para estes pequenos seres que foram silenciados pelo dinheiro e pela injustiça humana. Sempre tento ajudá-los da forma que posso.
Temos vários pontos importantes a serem tratados quando o assunto é emergência climática: o desmatamento, as geleiras se acabando e as florestas sendo consumidas pelo fogo, queimadas destruindo espécies. Os principais desafios são os recursos, porque não são infinitos. Enquanto isso, o governo só tem olhos para o dinheiro e boa parte da sociedade não presta atenção nisso. A natureza pede socorro”, declara a menina.
“Nós, crianças, somos a “geração restauração” e a última esperança”, diz a menina que, desde pequenininha ama estar em contato com a natureza. “Minha família é de cidade grande, mas sempre vamos pra cachoeira, mato, parques, praças… Eu fui aprendendo a respeitar todos os seres vivos e a perceber que somos todos iguais. Já resgatei abelhas, besouros e até perereca.”
Ela também aprendeu que “para desejar proteger a natureza, é preciso conhecê-la”. Por isso, inspirada pelas aulas de ciências, Júlia decidiu criar o Projeto Pequenos Protetores do Planeta (Projeto PPP) para, de alguma forma, “passar para outras crianças essa consciência”. Com o monitoramento da mãe, Júlia compartilha dicas de como ser mais sustentável, vídeos, informações, oficinas e ‘ecotarefas’ (plantar árvores, reciclar o lixo, economizar água), além de entrevistas com especialistas da área ambiental. A partir do PPP, Júlia também começou uma iniciativa de educação ambiental nas escolas de Minas Gerais, o Projeto SemeAR.
Para ela, “as escolas devem levar a educação ambiental a sério, porque é lá que as crianças estão”. A missão de Júlia é “despertar a consciência ambiental nas crianças. Nunca se é pequeno demais para se fazer a diferença. Eu estou tentando”.
As raízes ambientais de Isvilaine têm origem no exemplo de pessoas mais velhas. A avó, Dona Francisca, vivia do que a terra oferecia – “cuidava da terra e a terra cuidava dela de volta”. Uma vez, o avô, Seu Zé, arriscou a vida tentando apagar o incêndio que ameaçava a pequena floresta que ele preservou por anos. Com a mãe, aprendeu a ser sustentável, “pois ela sempre reutilizou tudo e faz isso até hoje”. Da infância comendo goiaba do pé, subindo em árvores, brincando com terra, e ajudando a avó “cortar vassoura” ou debulhar milho para dar para as galinhas veio o interesse em cursar Engenharia Ambiental.
Durante a graduação, ao entender que “mulheres negras e à margem da sociedade – como eu – são as mais atingidas pela crise climática”, os questionamentos “Por que a área ambiental é dominada por homens brancos mais velhos?” e “Por que eles que tomam decisões por nós?” passaram a acompanhá-la. Ao descobrir o termo racismo ambiental, Isvilaine fundou o “Ambientalking”, uma plataforma para divulgar as pautas socioambientais de forma popular, interseccional e racializada. Ela é também articuladora voluntária do Grupo de Trabalho de Clima, do Engajamundo, representando a juventude em espaços importantes de tomada de decisão, campanhas, treinamentos, formações e protestos.
Para a ativista pela justiça Climática, Racial e de Gênero, é preciso “conhecimento para lutar e ser agente de mudanças, mas, propositalmente, ele é apartado das pessoas que mais precisam, sobretudo pretas e indígenas”. Por isso, ela busca compartilhar o que sabe através das redes sociais do projeto, fomentando o diálogo sobre crise climática e aproximando o assunto do dia a dia das pessoas, de forma acessível. “O principal desafio é entender que os recursos naturais se esgotam e fazer com que os tomadores de decisões coloquem nossa existência acima do lucro de grandes empresas poluidoras. Do que adiantará ter dinheiro em um planeta extinto? Enquanto houver ganância do homem haverá desigualdades e crise climática.”
“Durante os quatro anos que vivi na aldeia Resex Tapajós-Arapiuns, pude ter contato direto com a natureza e os animais. Mas, foi quando voltei a Santarém (PA), minha cidade natal, é que o ativismo nasceu em mim”.
Darlly começou então, aos 14 anos de idade, a se envolver em ações relacionadas ao meio ambiente, por meio do Projeto Saúde & Alegria (PSA), que realiza oficinas e encontros nas comunidades tradicionais da região. “Cada tema me fazia querer lutar pela causa ambiental”, diz. “Hoje, cuidar do meio ambiente é querer dar continuidade à vida”.
Sobre os próximos desafios, que incluem chuvas fortes, tempestades de poeira, secas e enchentes fora de época, por exemplo, ela acredita que lidar com a falta de consciência política é um dos maiores. “Não basta eu mudar meu comportamento para mudar o mundo; o mundo precisa de leis reais, que ajudem a floresta a ficar em pé, que ajudem a recuperar rios hoje contaminados por mercúrio. A mudança começa quando todos decidem mudar e se juntam para conter a emergência climática”.
“Sempre defendi meus ideais de igualdade e liberdade, com consciência da minha responsabilidade em preservar”, diz o menino que aprendeu com os pais as boas relações com a terra. A partir de 2018, Paulo se aproximou das lutas relacionadas ao meio ambiente, do movimento indígena e de causas sociais. “Minha inspiração vem da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, que me permitiu ver o mundo de outra forma: olhava para as belezas naturais que minha terra tem de sobra e me invadia o pensamento ‘isso tudo é muito bonito, eu amo esse lugar, mas é uma pena ter pessoas que destroem e não preservam nossa própria casa. O que posso fazer para defender e cuidar da minha terra, dos meus parentes e das pessoas que estão na floresta?’”
Hoje, posso dizer que me encontrei como humano e com meus ancestrais ao defender o meio ambiente e as causas indígenas. A luta é pela vida, a luta é pela terra”. Em 2019, Paulo conheceu o Engajamundo durante uma jornada de formações na Amazônia. “Naquele mesmo ano, vi o território Borari, em Alter do Chão, pegar fogo, as chamas destruíram a mata e os animais. Foi uma das cenas mais fortes da minha vida”.
Desde então, Paulo entendeu que precisava se articular, se organizar e mobilizar pessoas para lutar e buscar a mudança coletiva para sair desse cenário de emergência climática. Para ele, “não existe luta contra a crise climática sem falar de raça, gênero, território, classe e direitos humanos. Só a junção dessas causas permitirá alcançar um objetivo justo.
Precisamos mais que nunca nos unir para fazer revolução, mudar o nosso entorno e, a partir disso, mudar o mundo. Os povos mais vulneráveis são os que primeiro sofrem quando há desastres e são afetados pelos impactos da crise climática, mas os que menos contribuem para essa crise. Eles precisam ser ouvidos e devem ocupar os locais de tomada de decisão sobre nosso presente e nosso futuro. Precisamos mudar esse sistema colonial que só quer destruir e lucrar, que prefere matar a salvar. Precisamos pressionar o poder público e principalmente o poder privado a preservarem a maior riqueza da terra – a vida humana, a vida das florestas e a vida das águas.
Um dos maiores desafios que enfrentamos hoje é ser silenciado, não poder ocupar os espaços de tomada de decisão e opinar nas questões que falam da gente. Não tem como falar de nós, ou decidir por nós, sem nos ouvir. ‘Para nós, por nós’”.
*Os jovens entrevistados e perfilados foram indicados pelas redes Plant-for-the-planet, Engajamundo e Criativos da Escola.
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