HQ retrata a infância de brasileiras que marcaram a história 

‘Meninas’, novo livro de Amma e Angélica Kalil, apresenta um retrato das infâncias no país, em diferentes momentos históricos

Renata Rossi Publicado em 08.03.2024
Imagem mostra a capa e as páginas do livro em HQ Meninas
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Resumo

Em HQ, Amma e Angélica Kalil, vencedoras do Jabuti de 2021, revelam a infância de 10 brasileiras que marcaram nossa história, como a da jogadora Marta. O livro mostra como fatos marcantes da infância das personagens moldaram e reverberaram na vida adulta.

As infâncias são únicas. Se a brincadeira é o laboratório para descobrir o mundo — e descobrir-se nele —, é a partir dela que se inventam os primeiros passos da vida que se escolhe viver. Então, é isso o que nos revelam as infâncias de 10 brasileiras que fizeram e seguem fazendo história, retratadas por Amma e Angélica Kalil, em sua nova HQ “Meninas”. Assim, a partir de diferentes territórios, tempos e realidades, o livro constrói um retrato vivo das infâncias no país.

Em 2021, a dupla levou o Jabuti com o livro “Amigas que se encontraram na história”, sobre a amizade entre mulheres. Agora, em “Meninas”, narram momentos marcantes da vida de personagens como Carolina de Jesus, Marta e Chiquinha Gonzaga.

“Como estamos contando histórias de meninas, existe um recorte que atravessa todas elas e também nós duas: o fato de estarmos em uma sociedade patriarcal, na qual tudo que é da ordem do feminino é considerado menos importante. Uma estrutura social e cultural que determina o que as garotas podem ou não fazer, independentemente de suas vontades. O bom é que isso está mudando!”. Isso é o que explicam as autoras no posfácio do livro.

Não poder usar maiô em público ou se casar com quem o pai escolher parecem assuntos distantes para meninas de hoje. Mas, para quem nasceu há mais de 100 anos, essas eram apenas algumas das imposições desafiadoras.

De lá para cá, muitas coisas mudaram. Ainda há muitos desafios para que todas as meninas e mulheres possam se tornar protagonistas de suas próprias vidas. No entanto, as 10 brasileiras retratadas na HQ, cada uma a seu modo, são responsáveis por abrir caminhos para as que vieram depois.

“Encontrar-se com esse estado de infância é um convite para você não se esquecer de quem é, de onde você veio, de quem segurou a sua mão. E, principalmente, dos caminhos em que brincou e sonhou percorrer”, afirma a pedagoga e pesquisadora das infâncias Ananda Luz, que assina o prefácio.

Infâncias de meninas em HQ

Uma das meninas retratadas no HQ é Chiquinha Gonzaga. Nascida em 1847, a artista é filha de mãe alforriada e pai militar, de família rica. Contrariando a expectativa de se tornar uma dama da corte, optou, então, pelo carnaval efervescente. Entre muitos feitos, como lutar pelo fim da escravidão, é autora de “Ó abre Alas”, a primeira marchinha do Brasil. Ela também foi a nossa primeira regente de orquestra.

Nos esportes, conhecemos a infância da melhor jogadora de futebol feminino de todos os tempos: Marta Vieira da Silva. A alagoana de Dois Riachos acordava cedo para jogar bola no campinho de sua cidade. A zombaria e o machismo não foram capazes de impedi-la de fazer o que mais gostava. Aos 14 anos, o convite para um teste em um time grande mudou sua vida e a história do futebol. Atualmente, Marta é a maior artilheira de Copas do Mundo e tem mais gols que o Pelé.

Outra personalidade contemporânea retratada é a ativista Sônia Guajajara, primeira pessoa indígena a ser candidata à vice-presidência. Atualmente, também é a primeira ministra do recém-criado Ministério dos Povos Indígenas. Sônia é considerada a voz de seu povo. Já foi ouvida no Congresso Nacional e na Organização das Nações Unidas (ONU). Como uma criança que era amiga dos livros, formou-se em letras e também enfermagem. Além disso, é pós-graduada em educação especial.

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“Meninas”, de Amma e Angélica Kalil (Veneta)

As autoras constroem uma história em quadrinhos com passagens marcantes das infâncias de mulheres que entraram para a história do Brasil. Entre os exemplos, estão o momento em que Carolina Maria de Jesus aprendeu a ler e a escrever, a primeira vez de Ruth de Souza no cinema, a  composição de estreia de Chiquinha Gonzaga e a descoberta de Marta no futebol. A HQ “Meninas” traz ainda as infâncias de Carmen Miranda, Maria Lenk, Mãe Menininha, Pagu, Ruth de Souza e Virgínia Bicudo.

Mais 3 livros para conhecer as histórias e a voz de mulheres extraordinárias

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“Histórias de ninar para garotas rebeldes: 100 brasileiras extraordinárias” (Planeta)

 Neste volume, há 100 mulheres brasileiras que ousaram mudar o mundo. Elas são cantoras, atletas, astrônomas, médicas, políticas, pintoras, cientistas. Acima de tudo, são rebeldes. As histórias dessas personalidades traçam uma imagem do passado e falam do presente. Assim, essa conexão traz inspiração para a construção de um futuro mais justo e igualitário para o país.

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“Meninas sonhadoras, mulheres cientistas”, Flávia Martins de Carvalho e Leonardo Malavazzi (Mostarda)

Em dois volumes, a autora Flávia Martins de Carvalho homenageia, celebra e canta a vida de 20 mulheres com histórias inspiradoras, de sucesso e de superação. Assim como Flávia, a maioria delas é negra e brasileira. Mas também há destaque para indígenas, brancas e estrangeiras

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“Meninas que escrevem”, org. Coletivo, Nós Marias (Jandaíra)

Por meio de contos, 17 escritoras adolescentes apresentam um mosaico de olhares sensíveis sobre experiências femininas. O livro é um projeto do Coletivo Nós, Marias, que integra a rede Girl Up, iniciativa da ONU para o empoderamento de meninas em todo o mundo. Desenvolvida em parceria com a Editora Jandaíra, a obra também está disponível em audiobook, pela Toca Livros.

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