Relatório “Meninas curiosas, mulheres de futuro” mostra que o cuidar predomina nas escolhas profissionais e que há pouco incentivo para carreiras científicas
Estereótipos de gênero, falta de estímulo e hostilidade contra as mulheres em áreas com maioria masculina são alguns dos desafios que impedem meninas de ingressarem em carreiras nas áreas de STEM - ciências, tecnologia, engenharias e matemática.
Estereótipos de gênero, falta de estímulo e hostilidade contra as mulheres em áreas com maioria masculina são alguns dos desafios que impedem meninas de ingressarem em carreiras nas áreas de STEM – “ciências, tecnologia, engenharias e matemática”? O porquê delas ainda não ocuparem áreas de STEM é analisado pelo relatório “Meninas curiosas, mulheres de futuro”. Entre os desafios apontados estão estereótipos de gênero, falta de estímulo e hostilidade contra as mulheres em áreas com maioria masculina.
“Se tiver um homem ou uma mulher cientista, eles vão pensar que o homem é mais inteligente. Por quê? Eu não sei. Mas é assim que acontecem as coisas” – Menina de 12 anos, estudante de escola pública em São Luís/MA
Nas entrevistas, meninas de 10 a 18 anos relataram que estereótipos de gênero eram reforçados desde a infância com brincadeiras associadas ao lar e ao cuidado, inclusive com relatos de quem já foi impedida de jogar futebol ou proibições de sair de casa devido à sobrecarga de tarefas domésticas, enquanto aos meninos era permitido explorar o mundo durante o brincar.
As entrevistadas também revelaram que gostariam de ter aulas de autodefesa nas escolas, demonstrando preocupação com agressões físicas e verbais ocorridas dentro e fora do ambiente escolar, como assédios cometidos por professores e violência sexual, que afetam seu aprendizado.
Segundo o relatório, apenas 13% das cadeiras em computação e tecnologia são ocupadas por mulheres brasileiras, contra 28% a nível global; elas também ocupam 21,6% das cadeiras em engenharia e produção industrial, contra 27% ao redor do mundo. São 62% das meninas de escolas públicas que não conhecem nenhuma mulher que trabalhe em áreas de tecnologia e/ou ciência.
Um dos desafios é a matemática, considerada uma disciplina difícil por 44% das meninas entrevistadas, contra 28% dos meninos que dizem o mesmo. Apesar disso, elas têm vontade de aprender sobre educação financeira, como uma forma de associar a matemática a situações vividas no dia a dia.
“Quando eu estava no quarto ano eu odiava matemática. Depois eu passei a gostar um pouquinho de ver que a matemática faz parte da nossa vida, né?” – Menina de 12 anos, estudante de escola pública em São Luís/MA
Nas escolas particulares, as meninas costumam sofrer influência dos pais na hora de escolher suas profissões para cuidar dos negócios da família. As profissões mais desejadas são: tornar-se médica, pelo status social aliado ao trabalho do cuidado; seguido por empresárias; administradoras; engenheiras (de diversas áreas); empreendedoras e profissionais da educação, como professoras.
Para a maioria das meninas de escolas públicas, ser médica também é a profissão dos sonhos, mas, além do incentivo ao exercício do cuidar profissionalmente, a escolha delas é atravessada pela proteção de si e da família; na sequência, vêm os sonhos de ser policial ou delegada, veterinária, advogada ou juíza.
O primeiro passo é combater estereótipos e violências de gênero, a partir da construção de ambientes seguros e livres de qualquer tipo de violência para que as meninas possam considerar áreas de STEM como oportunidades de carreira. O relatório também aponta a necessidade de:
Leia mais
Comunicar erro
Somado aos desafios de gênero nas áreas de STEM, o Brasil é considerado o pior país da América do Sul para se nascer menina, segundo estudo realizado pela ONG Save the Children. No ranking global de igualdade entre gêneros, o país ocupa a posição 93ª entre 156 nações participantes, um reflexo da pobreza e das violências a que as brasileiras estão sujeitas, como casamentos infantis, por exemplo. Em 2006, o país ocupava o 67º lugar.