Quase 60% das crianças não conhecem mulheres na ciência

Relatório “Meninas curiosas, mulheres de futuro” mostra que o cuidar predomina nas escolhas profissionais e que há pouco incentivo para carreiras científicas

Da redação Publicado em 29.05.2023
Uma menina negra mexe em tubos de ensaio em um laboratório. A imagem ilustra uma matéria sobre meninas e mulheres na ciência
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Resumo

Estereótipos de gênero, falta de estímulo e hostilidade contra as mulheres em áreas com maioria masculina são alguns dos desafios que impedem meninas de ingressarem em carreiras nas áreas de STEM - ciências, tecnologia, engenharias e matemática.

Estereótipos de gênero, falta de estímulo e hostilidade contra as mulheres em áreas com maioria masculina são alguns dos desafios que impedem meninas de ingressarem em carreiras nas áreas de STEM – “ciências, tecnologia, engenharias e matemática”? O porquê delas ainda não ocuparem áreas de STEM é analisado pelo relatório “Meninas curiosas, mulheres de futuro”. Entre os desafios apontados estão estereótipos de gênero, falta de estímulo e hostilidade contra as mulheres em áreas com maioria masculina.

“Se tiver um homem ou uma mulher cientista, eles vão pensar que o homem é mais inteligente. Por quê? Eu não sei. Mas é assim que acontecem as coisas” – Menina de 12 anos, estudante de escola pública em São Luís/MA

Nas entrevistas, meninas de 10 a 18 anos relataram que estereótipos de gênero eram reforçados desde a infância com brincadeiras associadas ao lar e ao cuidado, inclusive com relatos de quem já foi impedida de jogar futebol ou proibições de sair de casa devido à sobrecarga de tarefas domésticas, enquanto aos meninos era permitido explorar o mundo durante o brincar. 

As entrevistadas também revelaram que gostariam de ter aulas de autodefesa nas escolas, demonstrando preocupação com agressões físicas e verbais ocorridas dentro e fora do ambiente escolar, como assédios cometidos por professores e violência sexual, que afetam seu aprendizado.

Somado aos desafios de gênero nas áreas de STEM, o Brasil é considerado o pior país da América do Sul para se nascer menina, segundo estudo realizado pela ONG Save the Children. No ranking global de igualdade entre gêneros, o país ocupa a posição 93ª entre 156 nações participantes, um reflexo da pobreza e das violências a que as brasileiras estão sujeitas, como casamentos infantis, por exemplo. Em 2006, o país ocupava o 67º lugar.

Combater estereótipos de gênero e promover referências femininas

Segundo o relatório, apenas 13% das cadeiras em computação e tecnologia são ocupadas por mulheres brasileiras, contra 28% a nível global; elas também ocupam 21,6% das cadeiras em engenharia e produção industrial, contra 27% ao redor do mundo. São 62% das meninas de escolas públicas que não conhecem nenhuma mulher que trabalhe em áreas de tecnologia e/ou ciência.

Um dos desafios é a matemática, considerada uma disciplina difícil por 44% das meninas entrevistadas, contra 28% dos meninos que dizem o mesmo. Apesar disso, elas têm vontade de aprender sobre educação financeira, como uma forma de associar a matemática a situações vividas no dia a dia.

“Quando eu estava no quarto ano eu odiava matemática. Depois eu passei a gostar um pouquinho de ver que a matemática faz parte da nossa vida, né?” – Menina de 12 anos, estudante de escola pública em São Luís/MA 

Quais são as profissões dos sonhos das meninas?

Nas escolas particulares, as meninas costumam sofrer influência dos pais na hora de escolher suas profissões para cuidar dos negócios da família. As profissões mais desejadas são: tornar-se médica, pelo status social aliado ao trabalho do cuidado; seguido por empresárias; administradoras; engenheiras (de diversas áreas); empreendedoras e profissionais da educação, como professoras.

Para a maioria das meninas de escolas públicas, ser médica também é a profissão dos sonhos, mas, além do incentivo ao exercício do cuidar profissionalmente, a escolha delas é atravessada pela proteção de si e da família; na sequência, vêm os sonhos de ser policial ou delegada, veterinária, advogada ou juíza.

As ciências exatas também são para elas! Como apoiar meninas na ciência?

O primeiro passo é combater estereótipos e violências de gênero, a partir da construção de ambientes seguros e livres de qualquer tipo de violência para que as meninas possam considerar áreas de STEM como oportunidades de carreira. O relatório também aponta a necessidade de:

  • Melhorar a infraestrutura de escolas e o acesso à internet;
  • Apoiar e reconhecer as habilidades e interesses das meninas;
  • Estimular a curiosidade e ampliar seus repertórios;
  • Ajudar meninas a enxergarem essas áreas como ferramentas de transformação.

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