Avaliação internacional mediu a capacidade criativa dos adolescentes em resolver problemas atuais; brasileiros estão entre os 12 piores resultados
A maioria dos estudantes brasileiros tem poucas habilidades criativas para resolver problemas sociais e científicos. É o que mostrou o resultado do Pisa, avaliação internacional de educação que, pela primeira vez, avaliou a criatividade dos estudantes de vários países.
Desenhar um pôster para a feira de ciências, criar um título para uma pintura em tela ou imaginar um diálogo entre o sol e a Terra. Essas foram algumas das questões propostas pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), para avaliar, em 2022, o desempenho e a criatividade de estudantes em 56 países.
Nesta terça-feira (18), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que o Brasil ficou na posição 44, atrás de outros países da América do Sul, como Uruguai, Colômbia e Peru. Ou seja, aparece entre os 12 piores resultados.
Segundo o relatório, a maioria dos estudantes brasileiros “apresenta ideias óbvias e tem dificuldade de propor mais de uma solução para um problema”. Do total de 60 pontos, o Brasil marcou dez pontos a menos da média (23).
Singapura, Coreia do Sul e Canadá ocupam o primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente. Com 41 pontos, os estudantes de Singapura se destacam com boas soluções de problemas sociais.
“A criatividade não é um dom, mas uma competência que precisa ser desenvolvida na escola”, diz, em nota, Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, que desenvolve projetos para fortalecer a educação brasileira. Contudo, ela explica que a estratégia do Pisa em estimular a criatividade junto com o pensamento crítico “marca o reconhecimento do papel da escola na formação de habilidades essenciais frente aos desafios cada vez mais atuais, como as mudanças climáticas, o avanço da tecnologia e as diferentes desigualdades presentes na sociedade”.
Para entender o resultado negativo do Brasil, Guedes considera a redução de atividades lúdicas e criativas nos anos finais do ensino básico. Isso porque, nesse período, “ocorre uma maior fragmentação das aulas com mais disciplinas específicas, o que pode trazer um desafio para a oferta de atividades e projetos que exigem mais tempo e maior exercício de criatividade do estudante”.
O relatório do Pisa aponta também que o apoio aos professores para desenvolver projetos pedagógicos mais criativos com os alunos é essencial. Assim, eles conseguiriam, por exemplo, aliar escrita e arte para apresentar as ideias de maneira imaginativa e original. “Esse apoio precisa ocorrer por meio da formação ao longo da carreira do docente ou na sua prática pedagógica”, afirma Guedes.
O Pisa apontou que 54,3% dos alunos brasileiros de 15 anos tiveram baixo nível de criatividade. Ou seja, mais da metade. Na prova, os estudantes tinham que propor soluções de problemas sociais e científicos. Além disso, o programa considerou a expressão escrita e visual de cada um. Desde o ano 2000, o Pisa mede os conhecimentos gerais em matemática, ciências e leitura de alunos de escolas públicas e particulares. Esta foi a primeira vez que a criatividade foi considerada nas respostas.