Pesquisa propõe um retrato da educação infantil brasileira

Projetos e políticas públicas visam barrar atrasos de até 12 meses no desenvolvimento de crianças menores de cinco anos causados por condições sociais

Da redação Publicado em 10.01.2024
Imagem ilustra a matéria sobre a pesquisa educação infantil mostra uma sala de aula e duas crianças negras com uniforme, sentadas fazendo uma tarefa com lápis e papel.
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Resumo

Em 2024, um estudo inédito chegará ao Brasil para avaliar aspectos cognitivos e emocionais na primeira infância e apontar soluções para novas políticas públicas. Outros países mostram que as privações sociais influenciam diretamente na aprendizagem aos cinco anos.

Uma criança pequena que vive em situação de pobreza pode ter um atraso de até 12 meses no desenvolvimento em relação a outra criança com menos privações. É o que indica os primeiros resultados de uma pesquisa inédita sobre a educação infantil e o bem-estar na primeira infância. Realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a avaliação foi aplicada na Estônia, Inglaterra e Estados Unidos e chegará este ano ao Brasil.

É a primeira iniciativa global para avaliar aspectos de aprendizagem entre crianças com cinco anos ou menos. Esse período é essencial para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Conforme as avaliações iniciais, há um descompasso no conhecimento básico numérico, operacional, de linguagem, memória e nas habilidades de autorregulação entre crianças de diferentes contextos sociais. Ou seja, meninos e meninas que vivem em condições de mais pobreza estão, comprovadamente, mais atrasados. A principal preocupação, segundo os pesquisadores, é não deixar que essas crianças permaneçam em desvantagem por toda a vida.

Como será no Brasil?

A proposta não é aplicar uma prova às crianças pequenas. Mas escutar professores e famílias sobre o desenvolvimento de cada uma delas a partir de um questionário padrão. Crianças de escolas da rede pública e particular serão avaliadas por meio de brincadeiras e histórias, com a ajuda digital de um tablet. Nesse momento, um pesquisador estará presente para ajudá-las, mas sem interferir em suas respostas.

A expectativa é que os primeiros testes no Brasil ocorram a partir de março, para avaliar a logística e condução dos pesquisadores locais. Conforme a primeira experiência, somente em 2025 acontecerá a coleta efetiva de dados de aproximadamente 4 mil crianças em 280 escolas. O objetivo é ter um retrato da primeira infância brasileira e um diagnóstico para conduzir projetos e políticas públicas específicas para a população menor de cinco anos.

“Somos o único país do Hemisfério Sul que participa dessa pesquisa. Os resultados poderão ser usados como bússolas para monitorar, avaliar, estabelecer rotas de correção e criar metas palpáveis para as diferentes políticas que se relacionam ao desenvolvimento e à educação infantil”, diz, em nota, Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que é parceira da OCDE na realização da pesquisa.

Outras avaliações monitoram o impacto das desigualdades sociais

A OCDE também é responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que considera habilidades de estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências por quatro anos consecutivos. O último resultado (de 2018 a 2022), então, mostrou que 50% dos estudantes brasileiros não conseguem encontrar a ideia principal em um texto e 73% têm baixo rendimento em matemática. O Brasil ocupa o 64º lugar no ranking geral de 80 países. O Pisa também revelou que os alunos mais ricos alcançaram 77 pontos a mais em matemática, por exemplo, do que os mais pobres.

Esses resultados mostram como os efeitos das desigualdades sociais acompanham a vida escolar da criança até a adolescência. Por isso, especialistas defendem a urgência de programas governamentais para o início da vida, como diz a pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da Universidade de Harvard, Dana McCoy. “Embora nunca seja tarde demais, investimentos precoces são mais vantajosos e têm mais retornos. Nem todas as crianças expostas a adversidades experimentarão resultados negativos.”

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