Entre realidade e ficção, dinossauros ocupam um espaço cativo no imaginário infantil ao longo do tempo
O que sobrou desses animais milenares é capaz de mobilizar a comunidade científica até hoje e despertar a imaginação de gerações de crianças.
Num passado remotíssimo, há milhões e milhões de anos, este mesmo planeta Terra em que vivemos hoje já foi habitado por dinossauros. Até que mudanças climáticas, provavelmente causadas pelo impacto de um grande meteoro, afetou as formas de vida que existiam por aqui, dizimando 75% desses animais e levando-os à extinção.
Tanto tempo já se passou após esse evento traumático, mas o tema segue mobilizando a comunidade científica em busca de entender a história e fascinando gerações de crianças, que podem explorar a imaginação à vontade para inventar outras histórias em torno dessas criaturas ancestrais e complexas.
Ainda que tenham contato com dinossauros apenas a partir de representações do que foram de verdade, e saibam que “o que os filmes mostram é só ficção científica”, como nos alerta Nicolas, 10, há outras fontes de informações inspiradoras. “Os ossos de dinossauros permitem a gente saber a época, o bioma onde eles moravam, o que eles comiam, o tamanho, a idade e tudo mais”, ensina Nicolas. “A ciência por trás deles é muito interessante, pois se acham vários fósseis hoje em dia, mas nunca foi encontrado um DNA de dinossauro”.
Foi quando ele ganhou o seu primeiro tiranossauro rex de brinquedo que a paixão por dinossauros começou. Desde então, Nicolas vem aprendendo sobre os animais em filmes, desenhos e livros, como, por exemplo, que “seus ovos podem variar de tamanho, segundo a espécie ou até entre a mesma espécie”, diz. “Mas eu gosto mesmo de dinossauros por serem animais que já foram extintos”, confessa.
A declaração vai ao encontro da suspeita do paleontólogo William Nava: “Talvez porque já não existem e nunca nenhum ser humano pôde vê-los, esses animais antigos exercem tanto fascínio, principalmente entre as crianças”, opina. Apesar do interesse por descobertas de fósseis feitas ao redor do mundo, Nava nunca havia imaginado encontrar ele mesmo seus próprios ossos de dinossauros.
Mas, durante um passeio de moto, algo chamou a sua atenção numa curva da estrada de terra, em Marília, cidade no centro-oeste paulista. Era 1993, o mesmo ano da estreia de “Jurassic Park” nas telonas, quando Nava encontrou, sem querer, seu primeiro titanossauro.
A descoberta colocou Marília no mapa da paleontologia brasileira e transformou o ex-bancário Nava, então com 39 anos, em paleontólogo, coordenador do Museu de Paleontologia da cidade e descobridor de alguns dos fósseis mais importantes do país, como a de ossos dos crocodilos Mariliasuchus no vale do rio do Peixe, em 1995, e do dinossauro Brasilotitan, em Presidente Prudente, em 2013, ambos no interior paulista.
“Quer atração mais antiga para museus do que ossos fossilizados, com réplicas em ‘tamanho natural’, representando a ‘cara’ de como seriam os dinos?”, questiona Nava. “As paleoartes, recriações artísticas de dinos, apresentam um pouquinho de como seria o mundo naquele tempo, sem, claro, refletir a realidade 100%, pois nem a própria ciência consegue esse feito. O que sabemos sobre os dinos vem do estudo dos fósseis, principalmente esqueletos mais completos, e do estudo das rochas e do ambiente onde estão os fósseis, daí a importância de se preservar o patrimônio que esses seres milenares carregam.”
À frente de um desses museus, Nava costuma acompanhar muitas crianças em visitas. Entre as curiosidades mais frequentes, elas geralmente querem saber a cor que podiam ter os dinossauros, “algo difícil de responder”, pondera, “já que sobraram apenas ossos, dentes e garras desses animais, com raríssimos registros de algum tecido mole preservado”. Nava compartilha que outras perguntas são influenciadas principalmente por filmes que associam homens e dinossauros, “o que leva as crianças a pensarem que foram contemporâneos, mas não foram”, esclarece.
“Quando o museu estava atendendo, antes das reformas e da pandemia, víamos nos olhinhos das crianças o encantamento pelos dinossauros. As atividades que mais gostavam eram observar conchinhas nas rochas com uma lupa, tocar em um osso verdadeiro de dinossauro e, nas férias, recebiam de presente ‘caquinhos de fósseis’”, conta Nava. O museu deve reabrir em 2022, com óculos de realidade virtual e mais interatividade.
“Por que os bichos grandões sumiram do mundo?”, questiona Vicente, 6. Ele e o irmão Alexandre, 7, são fãs de dinossauros. Vico elege o T-Rex seu favorito, “porque ele tem dentes afiados. As patas são pequenas, mas ele é forte”, diz. O menino também ensina que “o velociraptor corre rápido e abre portas, o tricerátops tem três chifres e o pterossauro sabe voar”.
Já o “favorito, favorito” do irmão mais velho é o velociraptor, “por sua inteligência e velocidade. Ele não consegue andar; quando ele anda, ele só corre, de tão rápido que é. Quando ele quer correr mais rápido, ele dá um bush que vai mais rápido do que a luz. Mas eu gosto do T-Rex também. O bom do T-Rex é que ele ruge mais do que 1.000 quilômetros de distância.”
Xande conta que os dinossauros são de tempos muito antigos e esclarece sobre a extinção dos animais, “caíram meteoros e eles sobreviveram por mil anos, aí depois eles foram extintos quando caiu outro meteoro”. Além da história sobre a morte dos dinossauros, foi no mesmo livro que aprendeu sobre a diversidade de espécies: “tem da água, tem da terra, tem o carnívoro…”; outras descobertas vieram do filme “Jurassic Park” e da série “Jurassic Park Lego”, no Cartoon.
Para Nava, as produções culturais que exploram uma representação visual dos dinossauros, além de uma infinidade de produtos ligados ao tema, acabam fornecendo informações e saciando a curiosidade do público infantil. “Muitas vezes, desde pequenininhos, já são conhecedores do assunto, com opinião própria. Desse interesse pode surgir no futuro, quem sabe, novos especialistas”, comenta.
São também os desenhos que atraem os pequenos Enrico e Laís, ambos com 4 anos. Foi assistindo Dinotrem e Lego Jurassic World que Enrico aprendeu o que os dinossauros fazem, “alguns ficam descansando para comer, outros ficam dormindo, outros gostam de ficar ‘relaxando na piscina’”, conta. “Os carnívoros gostam de caçar carne; outros procuram folhas, são os herbívoros”. Seu dino preferido é o tiranossauro, mas ele também sabe que “o mais veloz é o velociraptor; com seu focinho, o tiranossauro pode farejar qualquer coisa; e o carnotauro tem uma audição que ajuda ele a pegar outros dinossauros”.
Fã de Dino Dana e Jurassic Park, Laís também conhece todos os dinossauros e faz questão de listar: “o Tiranossauro Rex, Tricerátops, Braquiossauro, Trudonte”. Foi justamente o nome dos animais que a conquistou num primeiro momento. “Quando eu ouvi falar, eu gostei do nome dos dinos”, mas também porque gosta de “animais fortes, que nem leão. Só que eu não gosto de leão porque o leão pode pegar a gente, ele é muito, muito do mal”. Segundo ela, entre os dinossauros, só o Rex é do mal.
Nosso planeta está em constante transformação, o que inclui processos de extinção em diferentes escalas e mudanças climáticas. A extinção em massa dos dinos, há mais de 66 milhões de anos (entre os períodos Cretáceo e Paleogeno), é apenas mais uma entre tantas formas de vida que desapareceram e outras tantas ameaçadas.
Em entrevista à revista Galileu, o especialista em sustentabilidade Bernardo Strassburg fez um alerta sobre as mudanças climáticas: “Causamos a mais acelerada degradação da natureza desde a extinção dos dinossauros”. Ainda segundo ele, “nos últimos 40 anos, a população total de animais do planeta caiu pela metade por causa da ação humana”.
O estudo de fósseis milenares, desde pequenas conchas e exoesqueletos a ossos maiores, sejam eles de dinossauros ou de outras criaturas, pode nos dizer muito sobre como o planeta Terra era no passado. Ao se acumular conhecimento sobre a história geológica, descobertas paleontológicas e estudos das rochas, por exemplo, esse trabalho investigativo resulta em mais elementos que permitem “prever” possibilidades para o futuro.
Na época em que viveram os dinossauros, imagina-se, por exemplo, que havia mais atividade vulcânica e mudanças bruscas de temperatura, o que submetia os dinos a um grande estresse. Embora muitas espécies que viviam naquela era não existam mais, sabe-se que algumas foram capazes de se adaptar e atravessar o tempo, como tartarugas e algumas espécies de crocodilos, além de plantas, como o pinheiro araucária.
Aliás, uma boa notícia para os pequenos que amam dinossauros. Há fortes evidências científicas de que nem todos os dinossauros foram extintos! “Sabe-se hoje que as aves modernas, de um modo geral, são ‘dinossauros modificados ou dinossauros especializados’, ou seja, derivam de pequenos dinossauros carnívoros, conhecidos como terópodes, sendo os únicos descendentes ‘diretos’ dos dinos”, comenta Nava.
Fonte: Adaptado de Revista Galileu
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As regiões brasileiras onde mais se encontram fósseis de dinossauros são o interior de São Paulo, o Triângulo Mineiro e o norte de Minas Gerais, o Rio Grande do Sul e a bacia do Araripe, no Ceará. Esse último concentra os fósseis mais bem preservados do mundo! Também há registros como pegadas (icnofósseis) na Paraíba, restos ósseos no Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e, mais recentemente, no Paraná.