Como estão os professores brasileiros na pandemia?

Pesquisa inédita da Nova Escola revela como pensam e sentem mais de 9 mil profissionais ligados à educação no país

Da redação Publicado em 03.07.2020
Imagem de uma professora que aparece na tela de um computador enquanto uma criança acompanha a aula a distância. Professores na pandemia
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Resumo

Pesquisa investiga a situação de professores durante a pandemia e revela que a saúde mental dos profissionais está comprometida, há baixo índice de participação de alunos e famílias nas atividades a distância, falta de apoio da rede e atraso no calendário letivo.

Para apoiar educadores e redes de ensino no enfrentamento diário dos desafios impostos pela Covid-19, a Nova Escola realizou uma pesquisa on-line com sua base de usuários para investigar a situação dos professores no Brasil durante a pandemia.

O levantamento, feito entre os dias 16 e 28 de maio, com 9.557 profissionais de escolas municipais, estaduais e particulares, sendo 85,7% professores da Educação Básica (ensino infantil, fundamental e médio), capturou o cenário vivenciado por educadores em quatro eixos: situação do professor, situação da rede, participação dos alunos e famílias nas atividades e perspectivas para o retorno das atividades presenciais. Baixo índice de participação de alunos e famílias nas atividades a distância, atraso no calendário letivo, falta de apoio da rede e saúde mental dos professores comprometida são alguns dos principais pontos mapeados.

Professores na pandemia e ensino remoto

O trabalho com o ensino remoto durante a pandemia foi avaliado como razoável por 33% dos participantes, outros 30% julgaram a experiência ruim ou péssima. Entre os fatores negativos, aparecem os desafios para a adaptação do formato, baixo retorno dos alunos, alta cobrança de resultados, crescimento da demanda de atendimento individual às famílias e falta de capacitação, de infraestrutura e de contato direto com os alunos.

Em relação à saúde mental/emocional, 28% dos professores avaliaram-na como ruim ou péssima e 30% como razoável, com destaque para o estresse envolvido na necessidade de aprender rápido, risco de contaminação, insegurança em relação ao futuro, falta de reconhecimento das famílias e gestores, excesso de atividades. Esta classe profissional é composta por 85% de mulheres e a questão de gênero aparece em preocupações advindas da dupla jornada, como a dificuldade de conciliar as atividades domésticas com as profissionais e de acompanhar e apoiar os estudos dos filhos em idade escolar.

Como as redes estão apoiando os professores?

Docentes da rede pública representaram perto de 75% dos respondentes, sendo a rede municipal metade da base total da pesquisa, seguida pela estadual (24%) e particular (20%). Embora disponibilizada para todo o Brasil, professores da região Sudeste foram maioria entre os participantes (53,3%) e a região Nordeste ocupa o segundo lugar (19,5%).

Mais de metade (51,1%) dos professores relatam não ter recebido formação para trabalhar de maneira remota. Entre os respondentes, o investimento em formação cresce conforme a etapa de ensino, sendo os professores do Ensino Médio os mais beneficiados (56,6%) contra 46,4% da Educação Infantil.

A despeito do forte apelo e aumento da oferta de recursos, materiais e plataformas virtuais para apoiar o ensino a distância no período, 64% dos professores afirmaram que suas escolas oferecem materiais impressos para os alunos e famílias. O envio de materiais pelas redes públicas foi menor (47%) em relação às particulares (53%).

Participação dos alunos e famílias

Apesar do esforço para garantir a continuidade das aulas e o acesso a conteúdos de maneira remota, a pesquisa revela baixo engajamento de estudantes e famílias, especialmente na rede pública, em que metade dos professores afirmam serem poucos os alunos que têm participado das atividades propostas. Nas redes privadas, 59% dos docentes relataram que a maioria dos alunos tem participado das atividades remotas.

O Fundamental I é a etapa com maior participação dos alunos – 47% dos docentes afirmaram ter a maior parte de seus alunos participando, seguida pelo Fundamental II e Ensino Médio (38%) e Educação Infantil (28%). 

Quanto à participação das famílias, 31,9% dos professores afirmaram que a maioria tem participado, no geral. Na rede privada, a participação familiar é de 58%; na rede pública, 36%. Tanto na Educação Infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental, apenas 3% dos professores afirmam que todos os responsáveis têm participado. Na Educação Infantil, 51% dos professores relatam que poucas famílias têm participado e 32% que a maioria tem participado. 

Entre os principais motivos para a ausência de retorno dos alunos sobre as tarefas e incentivo e apoio das famílias ao ensino remoto, estão a falta de equipamentos eletrônicos e acesso à internet. Há também relatos sobre a dificuldade dos alunos em acessar os aparelhos dos pais, seja porque trabalham fora de casa ou porque os celulares não possuem recursos tecnológicos ou conectividade que suportem receber e enviar conteúdos pedagógicos.

Perspectivas sobre o retorno: preocupações

Sobre uma possível retomada das aulas presenciais, 74% dos professores acreditam que voltam à escola no segundo semestre deste ano, outros 19% acreditam num retorno apenas em 2021. As preocupações mais recorrentes para a volta às aulas são o estado psicológico dos alunos, famílias e equipe escolar; a defasagem da aprendizagem pelo ensino remoto; a readaptação; o risco de contágio e uma nova onda da Covid-19.

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