Confira como foi a primeira roda de conversa da Ciranda de Filmes, mostra de cinema do Brasil voltada para a temática da infância e aprendizagem
Susan Andrews, doutora em Psicologia Transpessoal, explicou como a neurociência comprova a importância do papel familiar na formação de crianças e como relacionamentos moldam cérebros.
O que tantas pessoas faziam numa quinta-feira no Cine Livraria Cultura, em São Paulo? Todas elas tinham um interesse em comum: discutir a importância da família no desenvolvimento das crianças. Na última quinta-feira, 21 de maio, a primeira roda de conversa da Ciranda de Filmes, primeira mostra de cinema do Brasil voltada para a temática da infância e aprendizagem. O evento segue até domingo, 24 de maio.
“Mais do que qualquer coisa, a Ciranda quer proporcionar encontros. Encontros sobre os filmes exibidos na mostra e também sobre os filmes das nossas vidas”, deu início a conversa Patrícia Durães, uma das curadoras da Mostra e mediadora da roda. Apesar de serem atuantes e estudiosas de diferentes áreas, as convidadas Ada Pellegrini, Rosely Sayão e Susan Andrews disseram em consenso: “As crianças precisam de laços afetivos para crescerem saudáveis e felizes.”
As três palestrantes vieram não só com seus saberes de especialistas, mas carregadas também com suas lembranças de infância. Susan Andrews, doutora em Psicologia Transpessoal pela Universidade de Greenwich (EUA), explicou como a neurociência comprova a importância do papel familiar na formação de crianças e como relacionamentos moldam cérebros e mentes. A psicóloga apresentou pesquisas e dados exemplificando como a rejeição social passada por crianças é sentida como uma dor física.
Além disso, falou sobre a amígdala cerebral, uma região do cérebro responsável pela manifestação das reações emocionais. Ela funciona como uma espécie de alarme que desencadeia reações de proteção em caso de alguma emergência. No caso de crianças, pode se manifestar com agressão.
“Hoje em dia, essas ameaças não são físicas, são psicossociais, isso é o que mobiliza nossa amígdala. Cronicamente, quando a criança experimenta hiper ativação da amígdala, isso faz com o dispare o sistema nervoso central e impeça a formação de neurônios que são essenciais para aprendizagem”, descreveu Susan, que também é instrutora de yoga e meditação.
“O antídoto para tudo isso é a ocitocina, hormônio secretado o durante o toque, parto, amamentação. Os abraços nos fazem se sentir seguros e traz saúde física e emocional”, concluiu.
Uma proposta da Ciranda era que os convidados relacionassem o tema “família” aos filmes exibidos na mostra. Presente na roda de conversa o Lunetas selecionou as análises e considerações dos filmes feitas pelas debatedoras. Confira:
Susan Andrews: “O filme ressalta como emoções positivas fortalecem conexões. Na ausência da mãe, existia outra pessoa para apoiar o pequeno Sam. E precisava existir alguém para lhe dar a sensação de segurança. O que acontece quando uma criança não tem vínculos? Ela á capaz de viajar uma centena de quilômetros e até de pegar avião sozinho. Metaforicamente o filme mostrou as viagens que as crianças fazem para se reconectar. A produção apresentou ainda, pesquisas que indicam como crianças que viveram em um universo não amigável podem ter uma vida de felicidade através de um processo de neuroplasticidade, tendo sua vida recircuitada”.
Ada Pelegrini Lemos: “Hushpuppy é uma menina de apenas 6 anos de idade que vive em uma comunidade miserável isolada às margens de um rio em completa situação de abandono. Sozinha em casa, sem a mãe, sem cuidados diários, delira vendo sua mãe em uma luz intensa no horizonte. Ela chega a correr ao seu encontro nos momentos de maiores dificuldades. É claro para aquela criança a necessidade de um sistema familiar. E claro também falou uma parte imprescindível na vida dela: a
Rosely Sayão: “Antes de tudo digo que o nome escolhido para o filme é maravilhoso e pertinente. Uma família que adora rotinas, que é refém de imóveis (escola e casa) e móveis ( o carro). São só estes espaços que a criança ocupa. Esse menino se sente sufocado e foge em busca de um sonho. Ultimamente os pais enchem a vida dos filhos de atividades em busca de êxito, para que eles sejam vencedores e acabam confinando, estão criando “crianças afogadas”.
O filme mostra a representação da família que funciona como um chão firme. A garota questiona porque não pode ir a escola e mãe responde: Porque o mundo é assim. Mas a menina é capaz de superar o que a família lhe impõe. A família é fundamental também para que possamos superá-la. E deve permitir que os filhos caminhem em direção à própria vida com o mínimo de autonomia.
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