Gestação e amamentação: o que fazer diante do coronavírus?

Benefícios da amamentação ainda superam quaisquer riscos potenciais de transmissão do vírus pelo leite materno, afirma OMS

Da redação Publicado em 18.03.2020
Imagem de uma mãe com seu bebê no momento da amamentação
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Resumo

Gestantes transmitem coronavírus para os bebês? Há riscos de aborto espontâneo ou perda precoce em relação ao Covid-19? O que mães infectadas devem fazer durante a amamentação? Tire suas dúvidas.

Uma pergunta pode estar tirando o sono de muitas famílias que aguardam novos integrantes durante o período de pandemia: amamentação pode transmitir coronavírus às crianças? Gestantes com suspeita ou contaminadas podem passar o vírus para os bebês? A verdade é que ainda não há evidências suficientes para qualquer confirmação, mas pesquisas estão sendo feitas, em várias partes do mundo, com recém-nascidos de mães portadoras da doença COVID-19 e já apresentam alguns resultados.

De acordo com as informações divulgadas pela revista científica sobre medicina, The Lancet, publicadas na terça-feira (17), estudos realizados até fevereiro de 2020 não haviam identificado transmissão da doença COVID-19 de gestantes para bebês. Isso não significa, no entanto, que a transmissão não ocorra, já que as amostras ainda são limitadas.

Os dados apresentados por pesquisadores chineses à publicação Frontiers in Pediatrics, na segunda-feira (16), também não comprovaram a transmissão vertical durante gestação e período neonatal, pela amamentação. O teste foi realizado com três bebês, nascidos de mulheres grávidas que deram positivo para COVID-19, na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, China, onde a doença foi identificada pela primeira vez. Nenhum deles apresentou resultado positivo para o vírus.

Cuidado neonatal

Análises que examinam recém-nascidos podem ser tranquilizadoras, mas a preocupação de médicos, alertada por meio da The Lancet, tem sido a transmissão após o nascimento via contato por secreções respiratórias infecciosas. Por isso, segundo estes especialistas, a separação entre o bebê e a mãe deve ser individualmente discutida por um equipe interdisciplinar, considerando as instalações locais e os fatores de risco para resultados neonatais adversos, como prematuridade e sofrimento fetal, encontrados em uma amostra na China.

“Embora todos os nove bebês testados tenham resultados negativos para a infecção por COVID-19, complicações neonatais após o parto, como angústia, eram provavelmente secundárias à doença materna”, diz o estudo.

Risco de aborto?
A Royal College of Obstetricians and Gynecologists, associação de profissionais do campo da obstetrícia e ginecologia, sediada em Londres, Reino Unido, afirmou que não há dados que apontem um risco de aumento de aborto espontâneo ou perda gestacional precoce em relação ao COVID-19. “Como não há evidências de infecção fetal intrauterina com COVID-19, é atualmente considerado improvável que haja efeitos congênitos do vírus no desenvolvimento fetal”, indica a publicação da organização, revisada no dia 13 de março de 2020.

Amamentação e coronavírus

Embora os estudos até aqui não tenham detectado a presença do vírus no leite materno de mães portadoras do COVID-19, isso não significa que a transmissão vertical não possa ocorrer. É por isso que o consenso chinês em relação à amamentação contraria as evidências disponíveis.

A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o aleitamento seja mantido caso seja desejo das mães, tomando-se os devidos cuidados.

De acordo com a organização, os benefícios da amamentação ainda superam quaisquer riscos potenciais de transmissão do vírus por meio do leite materno. Como explica a Academy of Breastfeeding Medicine (ABM), organização internacional que reúne médicos dedicados à promoção e suporte à amamentação, o leite materno oferece proteção contra muitas doenças e há raras exceções sobre quando a amamentação não é recomendada.

Esta também é a opinião do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Federação das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASCO), comunicada em nota de alerta, no dia 13 de março.

A OMS reforça que mães que estiverem em áreas afetadas ou apresentarem sintomas de febre, tosse ou dificuldade em respirar devem procurar atendimento médico e seguir as instruções de um profissional de saúde.

Mães expostas ao coronavírus ou com sintomas leves que se sentirem à vontade para amamentar, conforme orienta a ABM, devem seguir as medidas de prevenção para minimizar a exposição viral adicional ao bebê:

  • Lavar as mãos antes e depois de tocar o bebê na hora da mamada;
  • Usar máscara facial durante a amamentação.

“Se a mãe tiver COVD-19, pode haver mais preocupações, mas ainda é razoável optar por amamentar e fornecer leite expresso para o bebê. Limitar a exposição do bebê por secreções respiratórias pode exigir uma adesão mais cuidadosa às recomendações, dependendo da doença da mãe”, descreve ABM.

Se a mãe estiver muito doente ou não se sentir à vontade para amamentar diretamente a criança, ela pode ser incentivada a extrair o leite manualmente ou utilizando bombas de extração láctea (com a higiene adequada do objeto) para que um cuidador saudável ofereça ao bebê.

Higiene
A higiene das mãos inclui o uso de desinfetante para as mãos à base de álcool que contém 60% a 95% de álcool antes e depois de todo o contato com a mãe afetada, contato com material potencialmente infeccioso e antes de colocar e remover o equipamento de proteção individual, incluindo luvas. A higiene das mãos também pode ser realizada lavando-a com água e sabão por pelo menos 20 segundos. Se as mãos estiverem visivelmente sujas, use água e sabão antes de retornar ao desinfetante para as mãos à base de álcool. (Fonte: ABM)

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