Pediatras explicam a importância de ensinar hábitos de higiene desde cedo e o que é necessário reforçar em cada fase de crescimento
Qual idade a criança já pode tomar banho sozinha? Quando ensinar sobre menstruação? Desodorante de adulto faz mal? O Lunetas fez essas e outras perguntas para especialistas que explicam como iniciar a autonomia na higiene pessoal.
Na casa de Ruth Vasconcelos, os irmãos Kauã, 5, e Kelvin, 12, já têm combinados para a higiene pessoal. A mãe mostra como ensaboar, enxaguar e escovar os dentes — e, aos poucos, eles assumem partes da rotina com supervisão.
“Desde pequenos, sempre ensinamos a criar uma rotina e a incluir os hábitos básicos. Com Kauã foi mais fácil, pois tudo o que Kelvin faz, ele segue da mesma forma”, conta Ruth.
O exemplo dos mais velhos também ajuda os mais novos a cuidarem de seus próprios corpos de acordo com a idade. Para a pediatra Fernanda Naka, isso acontece porque ver alguém de referência cuidando do próprio corpo ajuda a criança a entender o sentido do autocuidado: “Quando ela participa, compreende o motivo e como isso protege a saúde, e isso fortalece autonomia, responsabilidade e autoestima”.
Kelvin e Kauã já têm autonomia para algumas atividades, mas Ruth ainda precisa monitorar se estão fazendo tudo certo. Por isso, em casa, eles apelidaram de “banho premium” — quando um adulto dá aquela força extra nas etapas que exigem mais capricho.
Como perceber se crianças e adolescentes já estão prontos para um banho caprichado, cortar as unhas ou cuidar dos cabelos? E como as famílias podem ensinar da melhor maneira?
“A idade ideal vai depender das habilidades motoras finas de cada um e da capacidade de manter esses cuidados na rotina”, explica Luiza Silva, médica hebiatra e educadora parental.
Fonte: pediatra Fernanda Naka
Apesar de cada criança desenvolver a autonomia de maneira individual, as médicas reforçam que é mais importante saber o que pode ou não usar nesse processo. Para elas, cosméticos e produtos de higiene voltados para adultos não são recomendados para crianças.
Luiza Silva alerta para o risco de produtos como esmaltes, xampus, maquiagem e hidratantes que contém parabenos ou outros conservantes chamados de “disruptores endócrinos“, porque podem afetar a produção hormonal das crianças. “Eles causam puberdade precoce ou outras alterações como o surgimento de acne e até complicações na tireóide”, diz a hebiatra.
Já Fernanda Naka afirma que a escolha mais adequada deve estar na linha de produtos infantis e sempre hipoalergênicos, sem álcool, sem fragrância intensa e aprovados por órgãos de segurança, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Sobre o uso de tesourinhas ou cortadores de unha, as médicas são enfáticas: sempre com supervisão e somente após ter habilidade segura em manuseá-los.
A puberdade traz mudanças visíveis, como por exemplo, pelos mais densos, odor corporal e menstruação. Assuntos que pedem conversas claras e sem tabu. “Falar de forma prática ajuda muito”, diz a hebiatra Luiza Silva. “Quando o broto mamário aparece, já dá para introduzir temas como ciclos e anatomia, o que reduz medos e mitos.”
Os cuidados com a região íntima começam na infância, com orientação simples e linguagem adequada. Na adolescência, os combinados funcionam bem: disponibilizar os produtos certos e explicar como usaá-los. Além disso, vale fazer revisões da rotina sem constrangimento.
“Explique que as partes do nosso corpo não têm cheiros de perfume, mas também não devem ter mau cheiro”, pontua. Nesse processo, não precisa causar conflitos, e sim ensinar. “Em vez de acusar ou apontar falhas, pergunte o que pode ser feito para melhorar ou mudar a situação.”
Dessa forma, a estratégia mais eficiente, segundo os especialistas, é sempre explicar os motivos de ter cuidados básicos com a higiene pessoal. Para simplificar, Fernanda Naka deixa as seguintes dicas:
A questão dos pêlos
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) não recomenda depilar crianças menores de 12 anos. Para a pediatra Fernanda Naka, a partir dessa idade, a decisão deve ser da criança, sem influências estéticas e apenas se ela estiver desconfortável com o excesso de pelos.
A hebiatra Luiza Silva afirma que a decisão pode ser discutida e compartilhada com o médico que acompanha a criança ou adolescentes. Os métodos mais seguros vão depender para cada tipo de pele, com orientação médica e acompanhamento dos responsáveis.