Guia gastronômico indica onde levar as crianças para comer de maneira saudável, lúdica e econômica na periferia de São Paulo
Comida acolhedora, nutritiva e com história estão entre as indicações do guia “Pratinho firmeza”. A publicação apresenta para as famílias opções acessíveis para as crianças se alimentarem de maneira lúdica e saudável.
Na casa de Sabrina, 10, sempre tem alguma novidade na cozinha. A menina, que mora em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, está sempre por perto quando a mãe, Bárbara Oliveira, reúne os amigos para preparar um almoço. Para ela, participar do projeto “Pratinho firmeza SP” é um passo a mais para o sonho de ser chef de cozinha.
“Vejo vídeos para melhorar e um dia poder abrir um lugar para continuar fazendo comidas gostosas e dar a oportunidade para outras pessoas trabalharem e realizarem seus sonhos”, conta, no guia. Além disso, ela teve a oportunidade de ver uma de suas receitas preferidas estampada na publicação, disponível também em versão on-line. É ela quem mostra o passo a passo de como preparar o estrogonofe de que tanto gosta.
Além de Sabrina, outras quatro crianças contam sua ligação com o cozinhar e o afeto em família. Tem pão caseiro, sorvete de maracujá, panqueca de banana…
Divulgação Pratinho Firmeza
Ian, 6, e Uriá, 8, escolheram fazer pão de grãos para a receita especial do guia gastronômico.
Divulgação Pratinho Firmeza
Sabrina, 10, sonha em ser chef de cozinha e adora preparar estrogonofe com a mãe.
Com receitas e histórias de crianças que vivem em áreas periféricas da cidade de São Paulo, o guia é uma versão exclusiva do projeto “Prato firmeza – guia gastronômico das quebradas”. A publicação se volta para que as crianças aprendam a cultivar memórias afetivas a partir da comida. Mas também para as famílias saberem onde se alimentar bem em seus bairros.
Além de apresentar opções de restaurantes e lanchonetes acolhedores para as crianças, o guia seleciona lugares que servem alimentos nutritivos, acessíveis e que respeitem a questão ambiental.
Os cardápios vão desde a comida caseira e afetiva, uso de práticas sustentáveis e orgânicas e pratos típicos. Tem também opções veganas, lanches divertidos com direito à leitura na biblioteca e até almoço grátis para quem tira boas notas!
Todos os espaços listados no guia ficam em alguma comunidade da periferia da cidade de São Paulo. Na descrição de cada restaurante, tem a faixa de preço, o endereço e contatos.
Mas, o que chama a atenção é também a história de cada lugar e como se pensou no acolhimento das crianças. Cadeirinhas adaptadas, talheres do tamanho certo, ambiente para brincar, desenhar e espaço de leitura para tomar o tempo durante o preparo da comida. O projeto disponibiliza um conteúdo em áudio para que as crianças que ainda não sabem ler possam ouvir a receita e fazer em casa.
“Estabelecimentos de gastronomias periféricas oferecem a um custo mais acessível um cardápio que supra a fome e a necessidade de nutrição do corpo com um formato também atraente para convencer as crianças de que escolher a alimentação mais saudável pode ser divertido e saboroso”, diz o guia.
Os irmãos Ian, 6, e Uirá, 8, sempre participaram do preparo das refeições em casa. “Somos uma casa que cozinha. Eles fazem bolo com a avó, chegam com ideias de receitas e gostam do processo”, conta a mãe Diana Basei, moradora do bairro Rio Pequeno, zona oeste. Esse é justamente um dos objetivos do guia: dar protagonismo para as crianças no ato de cozinhar e criar relações com a alimentação saudável e criativa.
Na publicação, a receita escolhida pelos meninos foi o pão de grãos. Eles não se intimidam em colocar as mãos na massa, quebrar ovos, misturar e ver o resultado final. “Cozinhar com eles é diferente. É um tempo que você tem para interagir com sua criança e criar memórias. Além de fazer com que valorizem o alimento e aprendam como é que a comida chega em seus pratos”, explica a mãe.
* O guia “Pratinho firmeza” foi realizado pela Énois Laboratório de Jornalismo e pelo Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais de São Paulo. Tem parceria com coletivos das periferias da cidade (Agência Mural, Alma Preta, Desenrola e Não Me Enrola, Nós Mulheres da Periferia, Imagine e Desenhe, e Dilla Sete) que mapearam e sugeriram estabelecimentos.
De acordo com o guia, mais de 55% da população de alguns distritos de São Paulo se alimentam à base de comidas ultraprocessadas e com baixo índice de nutrientes. Por isso, é importante saber onde procurar comida saudável perto de casa a custos acessíveis, ou consumir alimentos e produtos orgânicos vindos da agricultura familiar, por exemplo.
Segundo o Ministério da Saúde, o consumo de alimentos in natura é 33% menor entre pessoas negras, comparado ao de pessoas brancas. Nesse sentido, o “Pratinho firmeza” propõe um projeto político para alimentação saudável das crianças periféricas.