Brincar com elementos naturais favorece o desenvolvimento e a saúde das crianças e do meio ambiente
Oferecer às crianças a oportunidade de brincar com elementos da natureza está ligado a um desenvolvimento mais saudável e um meio ambiente mais sustentável.
As infâncias – sobretudo nos grandes centros urbanos – têm experimentado a falta da natureza por perto, sendo confinadas em escolas, casas, shoppings, transportes… mesmo antes da pandemia.
Contra essa realidade, especialistas vêm defendendo o desemparedamento da infância. Isso significa reaproximar a criança dos espaços abertos, especialmente por meio do brincar, favorecendo o seu desenvolvimento ao mesmo tempo em que cuidamos do meio ambiente.
Ao propor alternativas para brincar e aprender com materiais naturais (madeira, tecido, sementes, terra, lugares mais verdes etc.), mostramos a elas que não é preciso ter um brinquedo, geralmente de plástico, para poder brincar ou para estar integrado à sociedade. Basta só um pouquinho de criatividade para barrar os estímulos do consumismo infantil e resgatar a (nossa) natureza.
Assim, ao mesmo tempo em que oferecemos a elas mais vida, contato com memórias, texturas, formas, cheiros… também despertamos em nós, adultos, um olhar mais diverso para as brincadeiras e as múltiplas infâncias, porque tiramos o foco do consumo e democratizamos o acesso ao brincar.
Para o pesquisador da infância Gandhy Piorski, o contato com materiais naturais é essencial para um mergulho nos sentidos. Segundo ele, quando a criança brinca com elementos da natureza, ela dá vazão à sua vontade de construir, criar, montar e fazer, acessando diferentes linguagens expressivas e de experimentação, desenvolvendo habilidades motoras e de criação cada vez mais complexas, e fortalecendo elos na relação com o mundo à sua volta.
Além disso, os brinquedos não estruturados exigem da criança uma atividade interna para brincar e convidam à criatividade, ao contrário do brinquedo industrializado, que é sempre igual ou com representatividade muito similar. Além de um exercício imaginativo, Renata Meirelles, coordenadora da pesquisa Território do Brincar, explica que, ao criar brinquedos, as crianças estão exercitando a habilidade de discutir, de negociar e de resolver questões com outras crianças.
A poluição plástica nos oceanos e suas consequências ameaçam a vida das espécies marinhas e a saúde humana, podendo contaminar inclusive os alimentos que ingerimos. Os mares são responsáveis por equilibrar a temperatura da Terra e fundamentais para a continuidade da vida no planeta – mais de 90% do excesso de calor produzido pelos gases de efeito estufa e volumes cada vez maiores de dióxido de carbono têm sido absorvidos pelos oceanos.
O plástico impacta diretamente esse ecossistema, pois, além de afetar as temperaturas globais – mais calor aumenta o nível do mar (o que coloca em risco ilhas e cidades costeiras) – e alterar os padrões de clima, à medida que se decompõe, libera gases de efeito estufa e produtos químicos, como metano e etileno.
Anualmente, 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos. De todo o plástico descartado no mundo, em média, apenas 9% é reciclado e transformado em novos materiais. O Brasil é o 4º maior produtor global de lixo plástico e está muito abaixo dessa média, reciclando apenas 1,28% do que produz.
Segundo o estudo Infância plastificada, 90% de todos os brinquedos no mundo são feitos de materiais plásticos e estima-se que serão produzidos 1,38 milhão de toneladas de brinquedos de plástico no Brasil, entre 2018 e 2030. Por conta da mistura de materiais em sua composição, é pouco provável que possam ser reciclados. Estudos têm demonstrado que brinquedos de plástico possuem substâncias potencialmente tóxicas para as crianças, podendo causar problemas hormonais e câncer.
Por trás dessa cadeia de consumo e descarte está o excesso de publicidade dirigida às crianças. A indústria de brinquedos representou 71% de toda a publicidade em canais infantis da TV paga, em monitoramento feito em 2019, especialmente próximo ao Dia das Crianças. No meio digital, o “unboxing”, feito por youtubers mirins abrindo embalagens de brinquedos e gerando o efeito surpresa, é uma prática de publicidade infantil velada por alguns anunciantes. Portanto, não apenas a parte material do brinquedo (o desenho, a constituição e a composição química, por exemplo), mas também as características imateriais – ligada à forma como são anunciados, agregando valor ao consumo – constituem uma séria ameaça às infâncias.
* Essas alternativas para brincar com elementos naturais foram elaboradas pelo Instituto Alana, com apoio dos programas Criança e Natureza, Território do Brincar e Criança e Consumo. Baixe a publicação completa em: “As brincadeiras e os brinquedos precisam de plástico?”
** As ideias e sugestões trazidas nesta matéria são uma forma de estimular que nós, adultos e crianças, possamos rever nossos hábitos de consumo e tenhamos uma atitude mais sustentável. Contudo, sabemos que ações individuais, sozinhas, não são a solução para enfrentar a emergência climática ou evitar desastres ambientais. A solução deve vir da união global entre estados, empresas e organizações comprometidas em garantir um meio ambiente saudável para as atuais e futuras gerações.
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Um brinquedo mais verde, sustentável e saudável
Idealmente é biodegradável – após cumprir sua função, pode ser consertado.
Fonte: GPQV/UFSCar